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Rolim diz não ter "nada contra" votar afastamento de presidente do Bota

Presidente do Conselho Deliberativo afirma que analisará pedido que deverá ser feito por comissão de crise. Atraso de salários completa três meses nesta terça-feira

Por   Rio de Janeiro
A comissão de crise nomeada pelo Conselho Deliberativo do Botafogo - com representantes de todas as correntes que disputarão as eleições em 25 de novembro - se reúne nesta terça-feira a respeito do "feedback" das apurações em diversas áreas do clube. Mas um outro assunto deverá ser debatido. O grupo estuda fazer um pedido formal ao conselho para que seja convocada uma sessão extraordinária para votar o afastamento Maurício Assumpção da presidência do clube. O presidente do Deliberativo, José Luiz Rolim, afirma não ter "nada contra" a convocação se o conselho for "instado" a debater o tema. Outro caminho para o grupo seria recolher 54 assinaturas para forçar a convocação, mas, com a proximidade do pleito, a princípio não deve ser o escolhido.


A crise é grave. Nesta terça-feira, quinto dia útil de outubro, as estatísticas do atraso ganham corpo. São agora sete meses de direito de imagem e três de salários atrasados. Assumpção nos últimos dias se colocou no centro de uma decisão polêmica ao rescindir os contratos de medalhões como Emerson Sheik e Bolívar, além de Edílson e Julio Cesar. A medida também é questionada internamente na política do clube.
Muro General Severiano, Botafogo (Foto: Vicente Seda)

Sede do Botafogo amanheceu pichada no sábado. Assumpção foi principal alvo (Foto: Vicente Seda)

O maior obstáculo alvinegro é a penhora total de suas receitas. Asfixiado, o clube não consegue arcar com seus compromissos e os que tiveram seus vínculos rescindidos devem cobrar todos os débitos na Justiça. A principal tentativa de começar a reverter o quadro é justamente no Tribunal Regional do Trabalho. O Botafogo tenta, a todo custo, ser recolocado no Ato Trabalhista que limita em 15% as penhoras provenientes de ações dessa origem. Dessa forma, seria possível respirar e planejar. Por ora, a corda continua esticada.


Nesse cenário, há um temor de membros da comissão de crise de que Assumpção, já com receitas de 2015 antecipadas, comprometa outros recursos ainda em aberto para tentar obter verba de imediato, como a possibilidade de uma renovação do contrato com a Viton 44 que permita antecipação de verba.

 
Em reportagem publicada no dia 30 de julho, o GloboEsporte.com mostrou que o contrato de patrocínio rende uma comissão de 5% a familiares de Assumpção, que confirmou o percentual na ocasião. Também gera críticas na comissão o rumor de que o atual presidente deseja contratar um escritório de advocacia para fazer um estudo sobre a dívida sob alegações de que já há um estudo pronto. Em julho, um trabalho encomendado à empresa KPMG por investidores mostrou que o clube precisaria de pelo menos R$ 65 milhões até o fim do ano honrar todos os compromissos do exercício.


De acordo com o presidente do Deliberativo, José Luiz Rolim, obter o afastamento não será fácil. Mas ele não se mostrou contrário à convocação da sessão caso seja sugerida pela comissão de crise.


- Eu acho muito difícil (aprovar o afastamento) porque tem uma exigência brutal, que dificilmente se alcança. São dois terços de votos favoráveis. Se mandarem um ofício pedindo ao conselho a convocação, o conselho examina e convoca. O conselho não se omite, mas esse assunto já foi convocado duas ou três vezes em outros momentos e não se encontrou uma forma de fazer isso. Pode ser que haja uma ideia nova. Nada contra.

 
O conselho, se for instado, convoca. Não tenho nada contra convocar não. É uma demanda difícil. Podem sugerir e vamos examinar. Temos de tomar as decisões na maior serenidade. Se o conselho todo entender isso (a saída de Assumpção) e houver uma forma estatutária e legal de fazer, se faz - analisou Rolim.
Maurício Assumpção presidente Botafogo (Foto: Satiro Sodré)

Maurício Assumpção vive dias de crise à frente do Botafogo e fim de gestão é conturbado (Foto: Satiro Sodré)

Foram consultados sobre o possível pedido ao Deliberativo o presidente da comissão de crise, Gustavo Noronha, e dois dos seus membros: João Pedro Figueira, que apoia o candidato Thiago Alvim, que na noite desta segunda-feira renunciou ao cargo de vice-presidente de comunicação do Botafogo, e Antônio Carlos Mantuano, ex-presidente do Conselho Fiscal e parte da chapa do candidato Carlos Eduardo Pereira. Os outros dois candidatos deverão ser Vinícius Assumpção, que não tem parentesco com o atual mandatário, e Marcelo Guimarães, que participou da atual gestão no marketing. Noronha pertence ao grupo Mais Botafogo, de Pereira, mas foi indicado por Guimarães.

- Na verdade, qualquer sócio pode propor isso ao Deliberativo, desde que cumpridos os ritos estatutários, ou reunir as 54 assinaturas para obrigar o conselho a incluir na pauta. A comissão não tem prerrogativa de convocar reunião, mas tem um peso político. Imagine que as quatro correntes políticas do clube pedindo a saída, teria sem dúvida um peso político. Na comissão, nesse particular, não emitiria opinião. Mas a minha opinião pessoal é de que o Maurício precisaria ter essa grandeza de se afastar do clube, acho que ele deveria renunciar. Perdeu totalmente o comando - analisou o presidente da comissão de crise, Gustavo Noronha.
João Pedro Figueira também declarou que, pessoalmente, é favorável à convocação da reunião no Deliberativo, mas ressaltou que gostaria de conversar com o candidato antes de anunciar a posição do seu grupo.

- Existe essa proposta entre todos nós, mas é uma questão tão séria e importante que preciso conversar. Sou representante, não posso agir em nome próprio. Eu, pessoalmente, sou favorável a essa atitude, mas na comissão estou representando um seguimento do clube, essa é uma posição pessoal. Fizemos várias reuniões dentro do clube com os diversos departamentos e as circunstâncias são graves, a gente tem obrigação política de reforçar isso ao conselho. Mas isso é uma posição pessoal minha, e de quase a totalidade dos membros da comissão - disse.

Mantuano avalia que o afastamento do presidente é "difícil, mas não impossível", pois, apesar de o pleito ser no próximo mês, uma sessão extraordinária com este fim poderia, segundo o conselheiro, ser convocada dentro de oito dias. Questionado sobre a possibilidade da assinatura de novos contratos para gerar receita ainda este ano, comprometendo recursos da próxima gestão, Mantuano afirmou:

- Você acha que ele vai esperar o final do ano? Acredita que vai esperar tendo uma oportunidade de ter algum tipo de receita? Ele pode fazer, é presidente do clube. O Botafogo já não tem nada a receber em 2015 de transmissão de jogos, a situação é crítica. Então o que poderá ter? O fornecedor de material esportivo e o patrocínio principal. Nada impede que se faça agora e antecipe esses recursos para cumprir as obrigações até o final do ano.