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Ponte aérea da discórdia: ausência de Jefferson não é digerida no Bota

Sob alegação de cansaço, goleiro deixa São Paulo, vai para o Rio e deixa comissão técnica e diretoria indignados. Mancini planeja conversa nesta sexta

Por São Paulo

A ausência de Jefferson na partida contra o Santos, quinta-feira, no Pacaembu, caiu como uma bomba no Botafogo e ainda não foi digerida internamente. Houve uma grande frustração da comissão técnica, que gostaria de ter seu capitão em campo, ainda mais diante da grande quantidade de desfalques importantes na defesa. O fato de não ter havido uma conversa com Vagner Mancini também não foi bem visto. Para piorar, dentro de campo, o que se viu foi o Bota ser completamente envolvido pelo Peixe na goleada por 5 a 0 (veja os gols no vídeo), que eliminou a equipe da Copa do Brasil. Andrey foi o escolhido para jogar.

A ideia inicial, revelada por Mancini em entrevista coletiva, era que Jefferson chegasse quarta-feira a São Paulo e fosse direto para o hotel onde a delegação estava hospedada. O goleiro, no entanto, chegou à capital paulista e, desgastado depois das 26h de viagem desde Cingapura, nem saiu do aeroporto. Foi direto para o Rio de Janeiro, onde, inclusive, realizou um treinamento na manhã de quinta, no Engenhão, após descansar.

Em um comunicado para a imprensa, Jefferson afirmou que tinha "chegado a um entendimento" com a diretoria de que seria melhor ele não jogar por causa do desgaste. A versão posteriormente contada pelo gerente de futebol Wilson Gottardo e por Mancini desmentiu a do atleta.
Jefferson Botafogo (Foto: Vitor Silva / SSPress)

Após voltar da Seleção, Jefferson decidiu não enfrentar o Santos e criou mal estar com Mancini (Foto: Vitor Silva / SSPress)

- Infelizmente, não poderei estar presente com meus companheiros nesse importante jogo contra o Santos. Uma partida que vale classificação para a semifinal da Copa do Brasil, um objetivo sonhado por todos nós e que tenho certeza de que todo o grupo está motivado para conquistar essa vitória. Após me apresentar com a seleção brasileira nesses dois últimos amistosos, tive uma viagem muito desgastante de 26 horas. Assim que cheguei ao Brasil, entrei em contato com a diretoria, conversamos e chegamos ao entendimento que seria mais prudente para mim e para a equipe não estar em campo nessa quinta-feira, e que no domingo, contra o Sport, eu já estaria apto a estar em campo e ajudar o clube - dizia o comunicado de Jefferson na quinta-feira.

Gottardo disse que a decisão de não jogar foi unilateral e contou que só conseguiu falar com Jefferson na manhã de quinta, dia do jogo, quando ele já estava no Rio. Na visão da diretoria, o maior erro do goleiro foi não ter ido até o hotel em São Paulo para conversar pessoalmente.

-  Ele foi comunicado para se apresentar aqui em São Paulo. No aeroporto, tínhamos um funcionário para recebê-lo, mas ele tomou a posição de ir para o Rio de Janeiro. Ele estava na relação, Mancini contava com ele, mas o Jefferson disse que não tinha condições de jogo, que estava cansado, com dores nas pernas. Falei que ele tinha que ter se apresentado para comunicar a mim e ao Mancini. Não teria nenhum problema. Foi uma atitude isolada, mas quebrou a programação. Foi uma decisão dele. É um ídolo do clube, titular da Seleção e seria importante tê-lo neste jogo contra o Santos. O Botafogo não concordou. Existem regras - afirmou Gottardo.

Apesar de admirador de Jefferson e de saber que é complicado bater de frente com o principal ídolo do time, Vagner Mancini tomou uma posição firme de crítica ao jogador. Internamente ficou a sensação de que poderia ter sido feito um esforço maior diante da necessidade do time. O argumento do cansaço não foi inteiramente engolido. O técnico, no entanto, sabe que o capitão tem crédito e deseja uma conversa frente a frente nesta sexta para tentar esclarecer e aparar as arestas (veja a entrevista do técnico no jogo desta quinta).

VÍDEO
- Deveria estar no hotel com a delegação, eu contava com ele para o jogo, assim como outros jogadores que estavam na Seleção fizeram. Não entendi. Se foi indisciplina? Temos que ouvir o lado dele. Amanhã, chegando no Rio, vamos sentar e conversar para ver o que tem a dizer. Se estava cansado a ponto de não jogar, deveria ir ao hotel e conversar comigo. Não iria permitir que um atleta entrasse em campo cansado, mas tinham mais de 24h até o jogo. O Jefferson sempre desempenhou o papel dele no Botafogo e merece ser ouvido - disse o treinador.

Quem convive com Jefferson, no entanto, sabe que o capitão alvinegro tem "rituais" que gosta de seguir antes dos jogos como forma de melhorar sua preparação e concentração. Neste caso da partida contra o Santos, as condições não eram as que deixam o goleiro mais confortável antes de entrar em campo, o que também pode ter pesado.

Em entrevista publicada no dia 29 de setembro no blog "Um Facho de Luz", o goleiro já tinha dado a entender que não estava à vontade com a ideia de voltar da Seleção e no dia seguinte enfrentar o Santos.

- Para o goleiro é mais desgastante fazer uma viagem longa, não descansar no dia seguinte e jogar. O tempo de recuperação é de pelo menos dois dias. Quando estou na seleção, não posso ficar dividido, se não acabo não fazendo bem meu trabalho. Temos goleiros que podem me substituir à altura - afirmou na ocasião.

Quatro jogadores que estavam com a Seleção tinham compromissos com seus clubes nesta rodada na Copa do Brasil. Na quarta-feira, Diego Tardelli entrou em campo pelo Atlético-MG na goleada sobre o Corinthians por 4 a 1. Neste mesmo jogo, Gil ficou no banco a partida inteira, enquanto Elias entrou na segunda etapa, pelo Timão. Everton Ribeiro não atuou pelo Cruzeiro contra o ABC.

Os bastidores alvinegros seguem agitados, e o caso Jefferson promete ter mais capítulos. Neste cenário, o time se prepara para o importante jogo contra o Sport, domingo, em Volta Redonda. O Alvinegro é o penúltimo colocado do Brasileiro com 29 pontos.