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Botafogo, Palmeiras e a Taça do Karma


por Márvio dos Anjos






Quadro "O árbitro de Botafogo x Palmeiras", no Maracanã, por Roger van der Weyden.

O Botafogo x Palmeiras desta rodada não é um jogo. É o sétimo selo do Apocalipse.
Os céticos e os cínicos dirão que não decide nada, que o destino de ambos os clubes na Série A ainda pode e deve depender dos resultados nos jogos seguintes.
Quem diz isso não vê o óbvio. Há uma Taça de Karma sendo disputada hoje no Maracanã, e ela ficará com o perdedor. Pouco me importa que a tabela final diga algo diferente: há coisas que dependem mais do STJD que dos profetas.




Neste 2014, Botafogo e Palmeiras flertam com os maiores abismos deste Brasileiro. De suas estaturas históricas, olham para altíssimas quedas. Entreolham-se e se reconhecem num duelo proposto pelo Destino, que abre o selo, toca a trombeta e proclama: "Um de vós tombará".



O Botafogo é um Game of Thrones em que cada capítulo pode decapitar não apenas um, mas quatro personagens. Agora é o rei-presidente Mauricio Assumpção quem vê o machado ameaçador pedindo seu pescoço, depois de banir Edilson, Bolívar, Sheik e Julio Cesar de uma só vez. O Vitória veio, a vitória não.



General Severiano tem mais inimigos dentro de sua fortaleza do que em cada clube da tabela - sendo que o pior deles é o que não paga os salários que se compromete a pagar. Uma casa que não tem pão com o diabo amassando a todos. Vagner Mancini diz que o Botafogo precisa mais de Jobson que o contrário. Se alguém precisava de alguma frase para definir uma campanha, aí está.



O Palmeiras se equilibra entre vitórias exóticas e derrotas ainda mais curiosas. É um elenco de gente disposta a se sacrificar, uma vez que bola mesmo falta. Pode se recuperar com garra de uma derrota e arrancar um empate, pode arreganhar sua defesa, pode queimar hoje a esperança chamada Fernando Prass. A verdade é que a equipe de Dorival Júnior é sujeita a todos os placares adversos e incapaz de iludir uma criança.



O sujeito que quiser ver futebol terá que esperar o já tricampeão Cruzeiro contra o sonífero Corinthians às 22h, ou, num registro inferior, o Fluminense x Atlético-MG do dia seguinte. No entanto quem vir Botafogo x Palmeiras estará diante do ensaio do fim do mundo, com Lúcifer no camarote aquecendo suas lareiras para receber o próximo condenado aos seus domínios. Esse é o jogo que eu quero ver, e não importa que os dois times tenham limitações excessivas. A rigor, a bola nem precisa entrar em campo. Há partidas em que qualidade é o que menos interessa.