'Vasco' por Romário e fã de Neymar e Juninho, Henry vira 'menino do Rio'
Francês, que simpatiza com clube cruz-maltino, "vira a casaca" e leva camisa do Botafogo na bagagem. Confira a entrevista com o atacante
Henry fica obcecado por camisa do Bota
O Rio de Janeiro ganhou um novo "menino do Rio". O atacante francês
Thierry Henry, do New York RB, poderia se passar tranquilamente por um
carioca. Falante, bom de papo e carregando um sorriso com ar debochado
no rosto, o jogador também sabe manter a firmeza quando tem que falar
sério. Mas quis o destino que o "menino" conhecesse sua nova paixão nem
tão jovem assim. Com 35 anos, aterrissou na Cidade Maravilhosa pela
primeira vez na última semana para curtir alguns dias de férias. Foi
amor à primeira vista.
A relação com o Rio também é - quase - clubística. Por causa de
Romário, Henry passou a ter simpatia pelo Vasco, apesar de ter gaguejado
e ponderado as palavras ao completar a afirmação com evidente medo de
desapontar os outros "conterrâneos". Sem contar que, durante a
entrevista, mostrou ter gostado da camisa de um outro grande clube
carioca. Surpreendentemente, Henry não é Nilton Santos, mas pode ser
considerado a "Enciclopédia do Futebol Brasileiro" no exterior.
Acompanha a Seleção desde a década de 80 e conhece vários nomes
consagrados, inclusive os mais antigos. Fã da música tupiniquim, gosta
de se imaginar como um "menino do Rio", por sinal, um clássico de
Caetano Veloso, um de seus artistas preferidos. Assim como todo
brasileiro, se derrete ao falar de Neymar, sobre quem joga a
responsabilidade de conquistar a Copa de 2014.
Henry visitou a loja de seu patrocinador em um shopping do Rio (Foto: Fábio Lima/Globoesporte.com)
Na manhã da última sexta-feira, Henry deixou a folga e se dirigiu a uma
loja em um shopping na Zona Oeste do Rio de Janeiro para atender o
GLOBOESPORTE.COM como um local, bem à vontade. De camiseta e calça
jeans, só não estava de bermuda porque a ocasião não permitia. Inquieto,
deu trabalho aos que tentavam fotografá-lo e demonstrou encantamento
quase obsessivo por uma camisa retrô do Botafogo. Após cada uma das
quatro entrevistas que concedeu, levantava-se, olhava alguns calçados,
mas logo voltava-se para seu objeto de desejo, sentia o tecido e fazia
um comentário elogioso a um membro de sua larga comitiva (quase dez
pessoas). Após o fim do compromisso, quando percebeu que a imprensa já
havia deixado o estabelecimento, pegou uma cópia e pediu para que um dos
assessores a guardasse.
Todos diziam que eu deveria ir ao Brasil e agora posso dizer: sim, eles estavam certos"
Henry
Apesar da identificação instantânea, o francês não teve tanta sorte na
cidade. Desde sua chegada, na quarta-feira, até o dia da entrevista,
chuva e céu nublado. Como cantaria Adriana Calcanhotto, tudo o que os
cariocas não gostam. O mau clima, contudo, não incomodou o visitante
ilustre, que sentiu um "feeling" diferente e teve a certeza de que
encontrou um novo amor.
- Você é carioca, certo? Isso é legal. Se você está aqui, tem tantas
opções, a floresta na cidade, o mar, as montanhas, as pessoas geralmente
são amigáveis, sorridentes, curtem a vida. Então seria incrível fazer
parte disso e viver aqui. Obviamente tenho uma ligação forte com Londres
(onde defendeu o Arsenal
por oito anos) e Nova York (onde vive e joga atualmente), mas o Rio é
muito legal, tenho que dizer. Estou na cidade há apenas três dias, sei
que é cedo, mas sabe quando se tem um bom sentimento sobre algo? Tenho
um grande sentimento com esta cidade. Pessoas me diziam que eu tinha que
ir ao Brasil. Gilberto Silva, Denilson, Sylvinho, Dani Alves, até o
André Santos. Estive com ele recentemente porque estou treinando no
Arsenal. Ele sempre me disse que o Brasil é um país incrível. Sempre que
jogava contra um jogador brasileiro, todos me diziam que eu deveria ir
ao Brasil e agora posso dizer: sim, eles estavam certos.
Francês acompanhou o show do Trio Ternura na cidade (Foto: Marcos Samerson / Agência We Love Photo!)
HENRY: Eu estava assistindo à final do Mundial de Clubes (de 2000) entre Vasco da Gama e Corinthians e gostei do fato de as torcidas cantarem umas contra as outras e a beleza disso. Por isso eu sempre ficava cantando algumas coisas, especialmente quando o Syvinho estava lá (no Arsenal), Gilberto Silva e Denilson. Eu estava sempre fazendo piada com eles porque sabia que o Denilson era do São Paulo, Sylvinho do Corinthians, Gilberto Silva do Atlético Mineiro, eu sempre brincava com eles. Mas Romário estava jogando no Vasco, eu sempre gostei do Romário, do Ronaldo, então estava torcendo por ele.
Mas há algum clube no Brasil que seja de sua preferência?
Romário jogou pelo Vasco, então... (gagueja, pensa duas vezes e continua) na época eu acompanhava o Campeonato Brasileiro, mas gosto do campeonato, de todos os times e jogadores, as pessoas são apaixonadas o tempo todo por seus times.
Percebi que não parou de olhar para a camisa do Botafogo...
Gosto por ser uma antiga, curto coisas retrô, os laços, é bem legal.
Cobrança de falta para Juninho é
como pênalti"
como pênalti"
Henry
Eu joguei contra ele na Liga dos Campeões. Nunca o enfrentei na França porque quando eu saí (do Monaco), acho que ele chegou (ao Lyon) um pouco depois, mas depois duelamos com nossas seleções, França e Brasil, Lyon contra Barcelona. Ele é incrível, é um profissional incrível. O acompanhei este ano, ele teve uma temporada muito boa. Cobrança de falta para ele é como um pênalti. É uma loucura. Os gols que marca de falta, a pessoa que é, o modo como se comporta... é um grande cara, um grande cara.
Neymar é um jogador sobre o qual todos na Europa estão falando no momento, o que acha dele?
Ele é ótimo. Neymar é especial. Espero que tenha uma grande carreira e parece que vai ter uma muito boa. Que ele possa realizar uma grande Copa do Mundo no Brasil. Ele faz gols incríveis, é rápido... é o tipo de jogador que os torcedores gostam de ver. Acho que mesmo que você não goste do Santos, você tem que gostar do Neymar. É o tipo de jogador que não importa onde jogue, as pessoas sempre vão dizer: Esse cara é bom. Ele pode jogar lá, mas ele é bom. Espero que tenha uma carreira brilhante e que seja bom para a seleção brasileira.
Atacante chegou ao New York RB em 2010, mas ainda não venceu a liga americana (Foto: Getty Images)
Neymar pode jogar, por sua qualidade, em qualquer lugar. Se vai dar certo ou não, eu não sei, não sou o técnico. Neymar tem a capacidade de poder escolher onde quer jogar e essa é a beleza de seu talento e a Copa do Mundo será resultado de seu trabalho. Sim, ele pode jogar no Barcelona. Terá muito sucesso. Eu joguei pelo Barcelona, então se ele for para a Espanha é para onde eu gostaria que ele fosse, porque sei que iria curtir. E o Barça é o maior clube do mundo agora. Não quero lhe dar nenhum conselho, mas como apaixonado pelo Barcelona e nem tanto pelo Real Madrid, eu diria para ele ir para o Barcelona porque vai gostar muito do futebol de lá.
Mesmo que não goste do Santos, você tem que gostar do Neymar"
Henry
Acho que será uma briga entre Iniesta e Messi. Talvez seja meu lado barcelonista falando, mas deveria ficar entre Iniesta e Messi. Iniesta ganhou a Euro de novo (com a Espanha em 2012, conquistando o bi) e jogou bem, mas Messi fez algo que não sei se seria possível fazer (superou o alemão Gerd Müller como o homem que mais fez gols em um ano), mas ele fez, então veremos, mas tem que ser entre os dois.
Há algum brasileiro que te encante mais?
Vocês têm muitos. Se olharmos para a história de vocês, é muito difícil escolher. A primeira Copa que lembro é a de 1986, um time muito bom. O de 82 era muito bom também, se olhar alguns anos antes, você tem Pelé, Garrincha, Sócrates, Carlos Alberto, Falcão, Jairzinho, Didi... depois tem Romário, Ronaldo, Bebeto, Rivaldo, Ronaldinho. Essa é a beleza do seu país, vocês sempre tem jogadores incríveis aparecendo, agora o Neymar. É difícil escolher um, mas, depois de crescido, Romário e Bebeto. Eles faziam uma boa combinação.
Neymar cumprimenta Henry em visita a Nova York (Foto: Reprodução / Twitter)
Nesta semana o Boateng, do Milan, deixou o campo durante uma partida contra um time da Quarta Divisão italiana
por ter sido alvo de atos racistas dos torcedores rivais e o jogo foi
cancelado. Essa é a atitude que os jogadores devem ter ou você agiria de
outra maneira?
Há um ponto: não estamos no controle das regras. Não podemos punir as
pessoas nem fazer nada. Às vezes talvez seja certo, às vezes talvez seja
errado, mas você precisa fazer algo para fazer as pessoas entenderem
que já chega. Se eu ou algum jogador estivesse no comando, eu poderia te
falar, mas não temos controle sobre o que pode acontecer ou sobre o que
os jogadores podem fazer. Geralmente você simplesmente joga, mas é
assim. As pessoas devem agir, as pessoas que estão no poder. Algo deve
ser feito. Como era um amistoso, foi algo bom de se fazer, mas você não
vai parar um jogo de Liga dos Campeões. Se alguém faz isso o tempo todo,
você sai e o jogo para... desta vez foi bom porque era um amistoso.
Como você gostou tanto do Rio e do Brasil, jogaria e viveria aqui?
Para jogar, não mais, é muito tarde agora. Mas a qualidade de vida aqui
é incrível e a forma como as pessoas conseguem tempo para curtir a vida
é bem legal. Sei que há lugares e culturas diferentes, ouvi dizer que
as pessoas na Bahia são muito calmas (sorri, provavelmente em uma
provocação a Daniel Alves, com quem jogou no Barça), você tem que
arrumar tempo para conhecer todo o país e vocês têm um país muito
grande, mas consigo me ver vivendo aqui.