Calendário não deixa clubes do Brasil ganharem o mundo, diz jornalista
Tim Vickery, da rede BBC, acredita que, por causa dos estaduais, times grandes não conseguem conquistar torcedores fora do país
Neymar no chão: Santos pode fazer 29 partidas até
19 de maio (Foto: Marcos Ribolli/Globoesporte.com)
19 de maio (Foto: Marcos Ribolli/Globoesporte.com)
Até o dia 19 de maio, quando terminam os principais estaduais do
Brasil, os grandes clubes do Brasil entrarão em campo mais vezes do que
os gigantes europeus. Corinthians, São Paulo ou Palmeiras, se forem campeão paulista, fariam 34 partidas até a decisão do torneio local. O Fluminense, se quiser conquistar o Carioca, pode fazer entre 28 e 32 jogos no período.
Enquanto isso, na Europa, os ingleses serão os que mais entrarão em
campo, com 23 partidas. Na Alemanha, com o campeonato de apenas 18
clubes, uma equipe jogará, no máximo, 19 vezes no período. Para o
correspondente da BBC na América do Sul, Tim Vickery, o calendário
brasileiro sofre com o excesso de jogos.
- Nos próximos dois anos, o calendário brasileiro fica ainda mais
maluco, pela necessidade de fazer uma pausa para a Copa das
Confederações e para a Copa do Mundo. É uma tentativa de colocar cinco
litros de líquido em uma garrafa de três. É um absurdo. Assim, não dá
para respeitar as datas Fifa e os clubes de grande investimento vão
continuar sem seus jogadores em várias rodadas - disse.
Para o jornalista, a quantidade de datas para os campeonatos estaduais
atrapalha somente os grandes clubes. E, em vez de enfrentarem
adversários locais, os "gigantes" do Brasil deveriam lutar para expandir
sua presença ao redor do globo.
- Eu fico surpreso com a passividade dos grandes clubes, porque esse
calendário só beneficia os pequenos. É uma situação onde o rabo balança o
cachorro. Os times sem torcedores mandam nos que têm milhões. É um
calendário que só atrapalha o interesse dos grandes, impede que eles
alcancem seu potencial. O Flamengo não compete com o Nova Iguaçu, tem
que competir com o Milan, com o Manchester United. É um contexto global.
Tim: Corinthians, após o Mundial, 'some' do Japão
e Chelsea 'aparece' toda semana (Foto: Reuters)
e Chelsea 'aparece' toda semana (Foto: Reuters)
Tim Vickery usou o Corinthians como exemplo. Depois de conquistar o
título mundial, ao vencer o Chelsea em Yokohama, o Timão está perdendo a
oportunidade de ganhar torcedores no Japão porque estará disputando o
Campeonato Paulista.
- O Corinthians acabou de ser campeão mundial e vários jornalistas
brasileiros diziam que o Japão jamais seria o mesmo depois da invasão
corintiana. O Corinthians venceu o Mundial e agora não vai passar jogo
do time no Japão. Internacionalmente, os clubes brasileiros vão
continuar engatinhando. Os europeus já ganharam essa batalha. Todas as
semanas, o Campeonato Inglês ganha o Japão, tem alguns jogos em horários
ideais para a Ásia.
Os estaduais também prejudicam o início do Campeonato Brasileiro, na opinião do jornalista inglês.
- O ponto alto de um campeonato de pontos corridos é o início, porque
não existe garantia nenhuma de que as últimas rodadas terão emoção. No
começo, todo mundo tem chance, existe uma expectativa. Mas, quando o
time perde o Estadual, a torcida já não gosta do elenco, do técnico.
Então a equipe embarca para uma maratona de 38 jogos sem nenhum apoio do
torcedor.