Apoteose, drama e cenas do próximo capítulo: os 149 dias de Seedorf
No clássico com o Flamengo, neste sábado, no Engenhão, holandês do Bota completa 25º ato como protagonista de um filme em preto e branco
Neste sábado, Seedorf
escreve a última passagem do seu primeiro livro como protagonista de
uma nova paixão alvinegra. No 25º ato, depois de 149 dias e nove gols, o
holandês, de 36 anos, viveu uma chegada apoteótica, enfrentou dramas e
chega ao fim com cenas promissoras de uma continuação depois dos
créditos.
No roteiro do filme, Seedorf descreve como intensos seus primeiros
cinco meses no futebol brasileiro. Ele chegou ao Rio de Janeiro no dia 6
de julho, uma sexta-feira, na qual transformou o Aeroporto
Internacional Tom Jobim em uma praça alvinegra. No dia seguinte, desceu
de helicóptero no Engenhão e foi ovacionado em sua entrada no gramado. A
vitória por 3 a 0 sobre o Bahia teve o novo ídolo como torcedor, no
camarote da presidência.
Dedicado, Seedorf completa cinco meses de Botafogo (Foto: Satiro Sodré/Agif/Agência Estado)
- Ainda falta esse jogo (contra o Flamengo, sábado, no Engenhão, pela
última rodada do Campeonato Brasileiro). Mas foram cinco meses muito
bons, intensos, mas ainda estou com um sorriso. Sou uma pessoa muito
intensa, que vivo tudo com muita intensidade. A vida é curta, perdi
várias pessoas importantes na minha vida. Sei que amanhã pode acabar,
essa é minha filosofia de vida. Quando deixo uma coisa é com o coração
tranquilo de ter feito tudo intensamente. São momentos felizes que me
fizeram crescer. Cinco meses não perdidos - disse Seedorf.
O suor em campo nos treinamentos e sua vontade de vestir a camisa do
Botafogo fizeram com que sua estreia acontecesse no dia 22 de julho. Ele
saiu aos 24 minutos do segundo tempo da derrota por 1 a 0 para o
Grêmio, no Engenhão. Não incomodou. A torcida percebeu que ali poderia
estar o início de uma nova era de vitórias no clube.
A primeira de Seedorf só veio dois jogos depois, por 1 a 0 sobre o
Figueirense, no Engenhão, no dia 28 de julho. Na rodada seguinte, em
cobrança de falta, fez o primeiro gol na vitória por 2 a 1 sobre o
Atlético-GO, em Goiânia. A partir daí, colecionou exibições de gala com a
camisa do Botafogo.
- A preparação para o jogo, a maneira de treinar, todos os detalhes,
que pessoas de fora não vivem e para a gente são normais, em cada país
são diferentes. É muito legal poder viver isso, me adaptando ao Brasil,
mas felizmente conseguir entrar no ritmo rapidamente. O Botafogo tinha
várias coisas a fazer com o grupo novo. Não foi assim para o treinador
fazer um trabalho jogando a cada três dias. Pensando em tudo, foi bem
feito. A gente queria resultados melhores, mas acho no fim tudo positivo
- analisou Seedorf.
Das 29 vezes em que o Botafogo entrou em cena até agora desde sua
estreia, Seedorf esteve em 24. Ele não se faz de rogado. Gosta de estar
em campo e ajudar mesmo fora dele. Ficou no banco de reservas três
vezes, como um coadjuvante. Mas virou um diretor voraz, sem pena dos
atores principais, quando achou necessário, mesmo diante de várias
câmeras que flagaram seu momento de irritação com o desempenho em cena.
Seedorf: lágrimas após lesão contrao Atlético-GO
(Foto: Dhavid Normando/Futura Press/Ag. Estado)
(Foto: Dhavid Normando/Futura Press/Ag. Estado)
Viveu o drama com duas lesões na temporada. Uma em cada coxa. Na última
delas, chorou ao sair de campo, mas contando com talento de seus
companheiros de espetáculo para sair vitorioso, com uma goleada por 4 a 0
sobre o Atlético-GO, no Engenhão, a maior do time com ele em campo,
justamente quando sucumbiu ao calendário cruel de jogos. Condenou
canastrões dedicados a simular faltas e enganar a arbitragem querendo
levar vantagem a qualquer custo.
- Foram muitos momentos bonitos. O mais triste foi quando não pude
participar de uma sequência de jogos. Nem tanto pela dor, mas pela
consciência do momento do time e da minha importância para ajudar dentro
de campo - afirmou Seedorf.
No roteiro original de um filme em preto e branco, o holandês ainda
promete estar na sequência. Depois de um ano e meio sem férias, Seedorf
celebra sua relação com o Brasil e o Botafogo como o ato principal de um
jogador que se transformou em exemplo de comportamento e manifestação
de ideias em um país diferente.
- Posso falar do Brasil, do futebol brasileiro. Foi muito bom e quero
fechar da melhor maneira possível. Eu e o time. Depois, tem tempo para
descansar a cabeça, principalmente, e também fisicamente - afirmou
Seedorf, que ainda pode levar ao Botafogo a fazer a sua melhor campanha
em um Campeonato Brasileiro desde a conquista de 1995, caso vença o
Flamengo, o Corinthians perca e o Vasco tropece.