Aprovação de turno extra no Carioca não depende da vontade dos grandes
Sem apresentar sugestões para enxugar estadual, Bota, Fla, Flu e Vasco podem ver clubes menores porem em vigor novo regulamento em 2013
Rubens Lopes, presidente da Ferj, gosta de nova
fórmula (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)
fórmula (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)
Ainda durante o Carioca deste ano, os quatro grandes clubes se mostraram insatisfeitos,
reclamando da quantidade de jogos deficitários. Na semana passada, a
Federação de Futebol do Rio divulgou uma proposta de mudança do
regulamento que tornou a competição mais longa. E a fórmula pode ser
aprovada mesmo se Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco votarem contra.
A decisão será tomada em um conselho arbitral, marcado a princípio para
o próximo dia 30.
Os quatro grandes têm mais peso no sistema de votação, que usa como
base a classificação na edição anterior (veja tabela abaixo), mas não
conseguem superar a possível união dos clubes menores. O novo
regulamento cria um turno extra, em formato de semifinal com os quatro
times que mais pontuarem ao longo dos dois primeiros turnos,
excetuando-se os seus campeões. Os vencedores dos jogos se
classificariam para disputar a semifinal do Carioca com os campeões das
Taças Guanabara e Rio.
Se a fórmula valesse para 2012, o turno extra teria Flamengo, Vasco,
Resende e Volta Redonda e indicaria dois times para pegar Fluminense
(campeão da Taça Guanabara) e Botafogo (da Taça Rio) na semifinal do
Carioca. Ou seja: com a nova fórmula, se dois grandes forem campeões dos
turnos, abrirão espaço para que no mínimo dois pequenos disputem o
turno extra.
A proposta do novo regulamento (veja a íntegra do texto no fim desta
reportagem) foi elaborada pelo departamento de competições da Ferj e
aprovada pelo presidente da entidade, Rubens Lopes, que autorizou a
divulgação para a análise dos clubes antes do conselho arbitral. De
acordo com ele, nenhuma sugestão de fórmula foi apresentada, mas a
federação estaria aberta a contrapropostas e ao debate, já que o novo
regulamento “não é uma realidade, mas apenas uma hipótese”.
- Nosso regime é democrático, e a decisão cabe unicamente aos clubes,
após manifestação de opinião, defesa de ponto de vista e a mais ampla
argumentação. Não se trata de agradar ou desagradar. Apenas apresentamos
uma sugestão, no nosso entendimento boa, mas que pode muito bem ser
inteiramente rejeitada, como pode ser inteira ou parcialmente aprovada.
Todos terão bastante tempo para estudar a proposta e decidir com clareza
e sem nenhuma dúvida - declarou, por e-mail.
Atual campeão e clube com mais peso na votação, o Fluminense não
apresentou proposta para mudar a competição, que foi muito criticada por
seu presidente, Peter Siemsen, mas elabora uma fórmula para ser
apresentada à federação.
Entre os pequenos, a possível mudança parece ter agradado. Apesar de,
em um arbitral em março deste ano, os clubes cariocas de menor
investimento terem declarado apoio à manutenção da fórmula de disputa de 2012, a chance maior de alcançar as semifinais fez com que mudassem de opinião.
- Mudamos de opinião porque essa fórmula é melhor. Naquela época, não
havia nenhuma proposta melhor. Essa é melhor que a atual para a gente,
especificamente pois dá mais chance de chegar à final. Para os clubes
grandes também pode ser vantajoso, já que terão a oportunidade de jogar
mais clássicos, partindo do princípio que eles terão muita chance de
chegar à semifinal - declarou o presidente do Madureira, Elias Duba, no
cargo desde 1992.
Em 2012, só o Bangu chegou a uma semifinal de
turno (Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo)
turno (Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo)
O inchaço do campeonato
A chance maior de chegar à fase decisiva, citada por Duba, é uma
vantagem para os grandes. Mas há desvantagens. Um time não seria mais
campeão mesmo ganhando as Taças Guanabara e Rio. E haveria a necessidade
de mais duas datas para o estadual. Se em 2012 foram 21, o de 2013
contaria com 23: uma a mais para a disputa do turno extra e outra para
as semifinais do estadual.
A Federação do Rio alega que 23 é o número máximo de datas permitidas
pela CBF para campeonatos regionais. O Paulista e o Gaúcho usam 23, e o
Mineiro tem 15 - tudo em meio à disputa da Taça Libertadores e da Copa
do Brasil.
- Quero que as pessoas se convençam do que é melhor para todos. Eu vou
votar no que é melhor para mim. Acho que, se os clubes grandes não
acharem que é a fórmula ideal, temos que mudar. Mas não é em função de
um que vamos mudar. Acho que todos eles têm mais chance de jogar mais
clássicos. Isso tudo é para ninguém se desinteressar do campeonato. E eu
não vejo problema nenhum com relação a datas. Tenho que pensar em mim,
eu penso em mim. O Madureira gostou dessa fórmula e vamos defendê-la -
disse Elias Duba.
Questionado se o excesso de datas não poderia levar os grandes clubes a
poupar seus titulares, Rubens Lopes mostrou confiança na valorização do
torneio por parte dos dirigentes.
- Com os atuais presidentes, não há a mínima hipótese de atitudes de
desrespeito com os coirmãos, com o torcedor e principalmente de quebra
contratual - declarou.
Final da Taça GB teve maior público pagante do estadual em 2012: 31.276 (Foto: Alexandre Durão / GE.com)
Confira abaixo a entrevista com o presidente da Ferj:
GLOBOESPORTE.COM: de quem exatamente partiu a ideia da nova fórmula? Foi uma sugestão dos clubes ou partiu da própria federação?
Rubens Lopes: da Ferj.
Em entrevista a uma rádio, você se mostrou empolgado com a nova fórmula. Você é um dos idealizadores?
Não houve empolgação, mas sim a apresentação dos esclarecimentos
pertinentes e a demonstração dos pontos positivos. A proposta foi
elaborada pelo departamento de competições e apresentada para decisão da
presidência antes de ser enviada aos clubes. Concordamos com as
sugestões e a liberamos para ser estudada por eles com a antecedência
necessária para que os mesmos a analisem com bastante critério e possam,
na reunião do conselho arbitral, debater e decidir com conhecimento de
causa e sem nenhum tipo de dúvida. Tenho consciência de que, qualquer
que seja a forma ou a fórmula, sempre haverá imperfeições, mas tenho
convicção de que algumas distorções foram corrigidas, e este modelo, sem
mudar a tradicional forma da disputa da Taça Guanabara e da Taça Rio,
poderá levar a um maior interesse pelo campeonato. Por enquanto o
regulamento não é uma realidade, mas apenas uma hipótese.
A ideia de uma nova fórmula para o Carioca já existia, mas o
objetivo dos clubes grandes era enxugá-lo. O novo turno vai na direção
contrária. Não acha que pode desagradar os grandes clubes, que geram
mais receita para o campeonato?
Primeiramente convém ressaltar que até o presente momento não recebemos
propostas ou fórmulas de campeonato. Nenhuma. O que existem são
opiniões diversas, bastante carentes de consistência, fundamentos
técnicos e elementos probatórios de resultados positivos que justifiquem
alterações. E que garantam que aumentem os três fatores fundamentais
para um clube de futebol profissional: atividade, visibilidade e
receita. Assim sendo, há que se ter bastante cuidado com mudanças que
possam estar calcadas no empirismo ou em opiniões contaminadas de
catatimia em relação ao campeonato.
Há alguns pontos inusitados, como o desempate por índice técnico. Não acha a forma anterior mais simples para o torcedor?
Não houve mudança nos critérios de desempate dos campeonatos
anteriores. Basta verificar o que está nos respectivos regulamentos.
Apenas foram acrescentados, após os existentes, alguns outros para se
reduzir a possibilidade de sorteio ou decisão outra por critério
indefinido. Quanto ao índice técnico, o mesmo é de uma simplicidade tão
rudimentar que não se pode atribuir ao torcedor a incapacidade de
entendê-lo.
E quanto ao fim da diferença de saldo de gols nas finais? Foi
apenas pelo exemplo de Fluminense x Botafogo de 2012? Não foi um caso
isolado?
O fim da diferença do saldo de gols nas finais é exatamente para manter
a igualdade do interesse e motivação das duas partidas, tanto dos
clubes quanto das suas torcidas, além de impedir um impacto financeiro
negativo na segunda partida, caso um clube tenha sido vencido na
primeira por placar difícil de ser superado.
* Colaborou Jorge Natan, sob a supervisão de Bernardo Ferreira.