Atleta, cantor, jogadores... Os talentos por trás dos palcos da Copa de 2014
Operários das obras do Maracanã e do Itaquerão revelam suas diferentes habilidades e mostram o dia-a-dia do trabalho que os orgulha e emociona
Por trás das obras do Itaquerão, estádio onde será realizada a primeira
partida da Copa do Mundo de 2014, e do Maracanã, palco da final do
Mundial, há muito mais do que 7.500 operários. Os pedreiros, marteleiros
e eletricistas são também músicos, poetas, estudantes e alguns ainda
sonham em se tornar atletas.
Há 15 anos o maranhense Antônio Francisco deixou Buriti para procurar
trabalho no Rio de Janeiro. Na cidade carioca, surgiu o desejo de se
tornar um atleta. O pedreiro trabalhava na contrução civil e treinava
nos intervalos, mas não conseguiu concretizar os planos de se tornar um
maratonista de alto nível. Hoje, Goelinha, como é conhecido pelos
companheiros de trabalho, ajuda a reconstruir o Maracanã enquanto anima o
dia-a-dia dos colegas com sua cantoria.
No Itaquerão, futuro estádio do Corinthians, o auxiliar de topografia
Cido Moraes também é a atração musical. Ele é compositor e se inspira no
trabalho para escrever as canções românticas que canta na hora do
almoço, todas conhecidas pelos operários.
A hora do almoço é um momento de descontração que serve de incentivo
para os funcionários das construções. No Maracanã, os operários são
premiados com um churrasco toda vez que uma etapa da obra é concluída
dentro do prazo. No Itaquerão, a nutricionista Ilana Cavalcante também
tenta variar o cardápio para satisfazer os seus "clientes". Segundo ela,
a média de consumo são 600 kg de carne e 120 kg de feijão por dia.
Tite dá entrevista na Rádio Estádio, que funciona no
Itaquerão (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Itaquerão (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Para alegrar as horas de trabalho e facilitar a comunicação com os
funcionários foi criada a Rádio Estádio. Além de dar informações e tocar
músicas, o veículo também traz entrevistas com celebridades do universo
do futebol, como o treinador Tite.
- A rádio nasceu de uma necessidade de melhorar a comunicação com os
nossos funcionários. A gente já tinha outros meios de comunicação, mas
queríamos inovar e surgiu a idéia de se criar uma rádio comunitária -
conta o diretor da rádio, Antônio Zuchowski.
A rádio também é responsável pela transmissão do Brasileirinho,
campeonato de futebol organizado pelos operários da obra. A competição,
que começou um dia antes e acabará um dia depois do Brasileirão, conta
com 40 times com nomes criativos como "Barcelama", "Ruim Madrid" e "Os
Ronaldos", divididos em dois grupos.
- Ano passado fizemos um campeonato com 16 times, era um mata-mata.
Esse ano o número de equipes cresceu muito, são quase 600 homens
envolvidos. Criei uma tabela com dois grupos de 20, no mesmo sistema do
Brasileirão, e encaixei em um horário para todo mundo, entre 18 e 20
horas - conta o engenheiro Frederico Barbosa.
Gramado cinza onde é disputado o campeonato dos
operários (Foto: Marcos Daniel de Favari Ramos)
operários (Foto: Marcos Daniel de Favari Ramos)
O gramado cinza do campo onde é disputado o Brasileirinho foi doado por
fornecedores da obra. A tradicional cor verde foi vetada pelos
operários por lembrar o Palmeiras, clube rival do Corinthians.
No entanto, nem tudo é festa para quem trabalha na construção dos dois
estádios. Quando começou a ajudar nas obras do Maracanã, há um ano, o
vascaíno Cristiano Aguiar recebeu a função de destruir as arquibancadas
do estádio.
- Eu falei que não dava para destruir, porque há cinco anos eu estava
aqui vendo um jogo e então teria que destruir tudo. Comecei a chorar. Só
fui quebrar no outro dia. Dói muito quebrar qualquer coisa aqui, é
muito difícil mesmo - conta Cristiano, comovido.
Assim como o carioca, outros operários também se emocionam com o fato
estarem erguendo os dois principais palcos da Copa do Mundo de 2014. O
mestre de obras Francisco Lopes, conhecido como Pará, revela que o atual
trabalho é diferente de tudo o que já fez.
- É uma emoção muito grande. Vai ser a colação de grau do mestre, tem um sabor especial - diz Pará.
- A gente imagina o estádio lotado, a galera gritando gol... Quero
trazer meu filho aqui e dizer que fui eu que fiz. É como se tivesse
marcado um gol - define o supervisor das obras do Maracanã, Ozéias Neto.