Botafogo muda rotina e empresta máquinas de luz no Engenhão
Agrônomo espera apenas a confirmação do tempo que o estádio ficará interditado para ordenar cortes. Parceiras aguardam pacientemente
Adquiridas por R$ 1,5 milhão, em 2011, as seis máquinas que produzem
luz artificial para o campo do Engenhão estão paradas. Com a chegada do
outono no Brasil e a consequente redução de luminosidade natural, os
equipamentos entrariam em ação com mais frequência neste período. Mas a
interdição do estádio por tempo indeterminado, causada por danos na
cobertura, tem mudado a rotina do trabalho, que vivia seu maior desafio:
chegar ao fim da temporada com o gramado de qualidade, como entregue em janeiro,
resistindo ao desgaste. Assim, a diretoria decidiu cedê-las ao Maracanã
e ao Estádio Nacional de Brasília, que sediarão a Copa das
Confederações, em junho, e a Copa do Mundo, em 2014.
- Esses estádios estavam precisando, o Botafogo falou comigo, e eu
liberei, já que não há uso nem gastos aqui. Acredito até que elas vão
ser removidas do Engenhão ainda hoje. Mas voltam assim que tivermos
jogos novamente - explicou Artur Melo, agrônomo responsável.
Até aqui, apenas 20 partidas foram disputadas no palco do Botafogo.
Somados os dois últimos anos, que não tiveram o Maracanã, foram 190, com
média de 95. Para não passar de 70, que é a meta atual, formulada com a
promessa da Ferj e da CBF de ajudar a racionar o calendário, agora o
caminho está livre, já que a segunda metade do Carioca, a Copa do Brasil
e a Libertadores se dividem entre Moça Bonita, Raulino de Oliveira e
São Januário.
Máquinas de iluminação em ação em 2012: suspensão por tempo indeterminado (Foto: Divulgação)
Por ora, o profissional descarta indicar
cortes de pessoal ou medidas extremistas. Apenas ordenou uma nova
abordagem diante da falta de uso, que é positiva pela preservação do
piso, mas muito negativa pela ótica das receitas e falta de testes. Ele
espera o laudo da Prefeitura para saber por quanto tempo mais não haverá
atividades.
- Sem carga, não tem prejuízo mecânico. Mas é claro que não estamos
satisfeitos com a situação, o ideal era ter jogos. Estávamos sendo
atendidos pelas federações e navegávamos em céu de brigadeiro. De
repente, veio essa parada que foi ruim em vários aspectos. O problema do
campo é a sombra e o pisoteio, que se reduziu a quase zero. Não está
havendo necessidade de equipamento de luz artificial. Eles realmente
estão parados. A pouca luz que entra é suficiente para a sobrevivência
do solo do jeito que está - explicou Artur.
A equipe que tinha acesso ao gramado agora cuida somente do campo anexo
e das áreas verdes de paisagens dentro e ao redor do estádio. O corte
que era diário passou a acontecer três a quatro vezes na semana. A
diretoria, ao menos, consegue economizar com os gastos de energia. O que
vem a calhar, já que os contratos para exibir placas de publicidade e
as verbas provenientes de outros tipos de comércio no estádio, como as
lojas de alimentos, também estão "aguardando diretrizes", informa a
Pepira, companhia que gerencia este setor.
Muitos funcionários terceirizados, cujas funções eram ligadas aos dias
de futebol, perderam o rendimento extra, enquanto alguns fixos, com
carteira assinada, temem a demissão caso as estruturas não sejam
consertadas e os jogos não retornem ao Engenhão até o fim deste ano.
- Não sei como vai ficar. Estão honrando tudo certinho, mas se o
negócio ficar ruim por muito tempo, complica. Já estou vendo outros
serviços - disse um funcionário que não quis se identificar, sem mostrar
preocupação com a segurança, pelo risco de a cobertura desabar.
A empresa holandesa que monitora o gramado 24 horas diárias permanece
com sua rotina, muito embora a viagem de um técnico tenha sido cancelada
no início do mês, em virtude do contratempo.
- Temos que deixar o campo em condições para ter jogo no dia seguinte
em que liberarem. Como ainda não sei se será amanhã ou semana que vem,
mantemos o trabalho. Vai haver uma redução de contingente inevitável se
tiver que demorar. Se for uma reforma de seis meses, tudo será revisto.
Mas é uma posição que tem ser dada pela Prefeitura - reforçou Artur.
O ex-presidente Carlos Augusto Montenegro firmou sua posição de
devolver o estádio, arrendado ao Botafogo por 20 anos, em reunião de
conselheiros do clube. Mas o mandatário atual, Mauricio Assumpção,
rejeitou este cenário e permanece no aguardo da solução proposta pelo
prefeito Eduardo Paes, que, até agora, não divulgou o laudo completo do
dano e quem ficará responsável: seu gabinete ou o consórcio. Já são 24
dias de interdição.