Total de visualizações de página

Análise: Seedorf é cerebral, e Flu deixa a bola com quem não decide

Fluminense tem muito mais posse de bola, mas não sabe o que fazer com ela. Seedorf, solto, é o jogador mais ativo na final

 

Por Alexandre Alliatti Rio de Janeiro



O jogador do Fluminense que mais tocou na bola na decisão da Taça Rio, neste domingo, foi Jean, um volante. O segundo foi Digão, um zagueiro. O terceiro foi Leandro Euzébio, outro zagueiro. O quarto foi Edinho, mais um volante. Ter 57% de posse (sete minutos a mais do que o adversário) foi inútil para os tricolores. A bola circulou entre aqueles que não decidem. E aqueles que decidem não foram participativos no Flu. Agora se observe o contrário: no Botafogo, quem mais encontrou a bola foi Clarence Seedorf. Não por acaso, o Alvinegro venceu por 1 a 0 (veja os melhores momentos no vídeo acima). Não por acaso, é o campeão carioca de 2013.

Seedorf frames análise tática Botafogo (Foto: Reprodução) 
 
A movimentação de Seedorf: pela esquerda no primeiro tempo, homem mais avançado sem a bola e pela direita na etapa final (Foto: Reprodução)
 
Sem figuras como Fred e Deco, faltaram protagonistas ao time derrotado neste domingo. O Fluminense não teve um Seedorf. O Botafogo teve. E de sobra. Oswaldo de Oliveira deixou o holandês flutuar à vontade em campo. No primeiro tempo, o camisa 10 pendeu mais para a esquerda; no segundo, caiu mais pela direita; quando o time se defendeu, ficou centralizado, como homem mais avançado, solto para ser o cérebro de eventuais contra-ataques (confira alguns momentos da movimentação do jogador no vídeo acima).



Afinal, era o Fluminense quem tinha a necessidade de buscar a vitória a todo custo – já que o empate servia ao Botafogo. Consequentemente, era natural que sobrassem espaços para os alvinegros. Abel Braga preferiu cuidar de Seedorf com marcação setorizada. Não colocou ninguém grudado nele. Assim, mesmo em uma tarde menos brilhante do que várias outras que já teve, o holandês mandou no jogo.

Resultado: o Botafogo foi soberano em campo. Foi muito mais consciente. Um exemplo: teve 11 finalizações, contra cinco do Tricolor. E ressalte-se novamente: mesmo tendo sete minutos a menos de posse de bola.

Botafogo impecável na defesa

VER VÍDEO AQUI


A defesa do Botafogo venceu o ataque do Fluminense. Com sobras. Por baixo e por cima. Na largada do jogo, por exemplo, quando tentou encaixotar o adversário em seu campo defensivo, o Tricolor teve três escanteios seguidos. Mesmo com bons jogadores de bola parada, errou todos (confira no vídeo ao lado).

No decorrer da partida, ficou evidente também o bom posicionamento do sistema de proteção alvinegro. Foi gritante a dificuldade do Fluminense para chegar nas proximidades da área adversária – o que explica a participação exagerada de zagueiros e volantes com a bola.



O Botafogo teve 32 desarmes na partida, quase o triplo do rival (veja, no vídeo ao lado, alguns lances de supremacia da marcação sobre o ataque do Flu). Especialmente no segundo tempo, o Fluminense chegou a irritar a torcida ao perder uma bola depois da outra – só Bolívar teve cinco vitórias pessoais na etapa final. Como consequência, cedeu contra-ataques aos alvinegros. Foram quatro para os novos campeões estaduais, contra nenhum a favor dos atuais campeões brasileiros.

Rhayner como escapatória

As dificuldades do Fluminense também passaram pela tarde discreta de Wagner e Thiago Neves. Com isso, a principal via de acesso dos tricolores ao ataque foi Rhayner. Os comandados de Abel Braga tiveram apenas duas finalizações no primeiro tempo, ambas com o atacante. O Flu, muito por causa disso, ficou mais propenso a investir pela esquerda de ataque do que pela direita. Bruno apareceu muito pouco pela lateral. Alçou apenas uma bola na área. Do outro lado, Carlinhos também não foi dos mais participativos - o que evitou um desempenho ainda melhor de Rhayner.

Seedorf contra Wagner

Seedorf Botafogo campeão carioca 2013 (Foto: Satiro Sodré / Agif) 
Seedorf com a taça: não foi brilhante, mas chamou
o jogo na final (Foto: Satiro Sodré / Agif)
 
A ausência de um protagonista no Flu, com a consequente sobrecarga nos volantes, fica evidente quando são comparados os rendimentos de Seedorf e Wagner. O holandês teve quase o dobro da posse de bola do meio-campo adversário: 2m52seg contra 1m33seg. O camisa 10 alvinegro finalizou a gol três vezes, enquanto Wagner não arriscou um chute sequer.

Seedorf, solto para se movimentar, também foi à linha de fundo quatro vezes, contra nenhuma de Wagner, mais centralizado. O gringo alçou três bolas na área. O jogador do Flu arriscou apenas uma. O holandês, porém, errou mais passes: dez dos 40 que deu em campo. O meia tricolor acertou 30 e errou seis.

O domingo de protagonismo (mais um) de Seedorf, mas de poréns técnicos, ganhou um resumo aos 35 minutos do segundo tempo. Foi o holandês o responsável por cobrar o pênalti que, naquele momento, asseguraria a vitória alvinegra. Quem mais seria? E ele errou. 

Mas não fez falta. O Fluminense seguiu usando pouco suas figuras criativas, a defesa do Botafogo seguiu bem postada, o jogo manteve seu panorama. E a equipe mais consciente foi campeã.

Análises rápidas:

* Bolívar se firma como uma das referências do Botafogo. Contra o Fluminense, não fez faltas, tampouco errou passes. Ainda teve seis desarmes.

* Thiago Neves ainda não está em seu ponto ideal. No segundo tempo, ele deu sinais de cansaço. Acabou errando cinco dos 19 passes que deu no período. Não conseguiu ajudar a equipe.