De menino frágil a homem de ferro: Fellype Gabriel ganha versão turbo
Meia do Botafogo ganha nove quilos desde sua estreia como profissional, supera época em que passava mal no Fla e vira peça fundamental no time
Em 2005, quando foi promovido ao time profissional do Flamengo, Fellype Gabriel
pesava 64kg e ficou marcado pelo físico franzino e como um jogador
frágil, principalmente depois de passar mal em dois jogos seguidos, em
março daquele ano. Oito anos depois, com nove quilos a mais e 1,76m de
altura, ele mudou a visão sobre o que representa em campo.
Segundo jogador do Botafogo que mais corre durante os jogos, perdendo
apenas para Lodeiro, Fellype Gabriel não se poupa. Neste ano, ficou fora
de apenas um jogo, justamente no qual o técnico Oswaldo de Oliveira
utilizou apenas reservas (1 a 0 sobre o Volta Redonda).
Na goleada de 5 a 0 sobre o Resende, no sábado, pela semifinal da Taça
Rio, Fellype Gabriel foi peça fundamental mais uma vez. Ele marcou um
gol, o seu sexto no ano, em jogada típica de centroavante. E cortou um
contra-ataque como último homem de defesa, mostrando uma recuperação
incrível, já no segundo tempo. Ele saiu de campo apenas aos 35 minutos
da etapa final.
- A maturidade fez isso. Por mais que você tenha qualidade individual,
quando se é novo falta um pouco de experiência para se posicionar em
campo. Eu corria muito, mas errado, e me desgastava. Não dá para ser
assim. Fisicamente, ganhei massa muscular e aguento mais as pancadas. Na
hora, dói, mas vai voltando ao normal. Tenho conseguido resistir bem -
disse Fellype Gabriel.
Nos jogos contra Friburguense e Ypiranga-AP, em março de 2005, Fellype
Gabriel precisou ser substituído por passar mal. Na época, o fato
chamou muita atenção, pois se tratava de uma grande promessa do
Flamengo. Ele foi submetido a exames, mas nada foi constatado e, aos
poucos, começou a entender melhor como deveria se comportar para acabar
com o problema.
- Acho que eu bebia muita água. Tomava uma garrafa inteira dessas que a
gente carrega. No primeiro pique, vinha tudo, me atrapalhava e comecei a
diminuir. É como disse, corria errado. Cheguei a fazer uma endoscopia,
mas não deu nada. Mas nem penso nisso. Só quando falam, me toco dessa
história. Não costumo parar para pensar nisso. Vivo muito o momento e me
entrego - comentou.
Essa mudança no corpo precisou também de uma adaptação no campo. Mas a foma de jogar
Fellype Gabriel mantém, com uma correria incansável. No Botafogo, já
atuou como meia, volante e lateral-esquerdo, mostrando a sua
versatilidade e a confiança do técnico no que ele pode desempenhar para o
time.
- É diferente, como se colocassem nove quilos sobre você e mandassem
correr. Fui me adaptando nos treinamentos - afirmou Fellype, que afirmou
perder de dois a dois quilos e meio por jogo. - Já cheguei a perder
três uma vez.
Fellype Gabriel comemora seu sexto gol na temporada (Foto: Agif)
Esse aprendizado para saber como dosar a energia passou pelo Japão,
onde Fellype Gabriel defendeu o Kashima Antlers, também sob o comando de
Oswaldo de Oliveira. Ele chegou ao Botafogo em fevereiro do ano
passado, apesar de ter mais um ano de contrato com o clube japonês, mas
foi liberado pela série de terremotos no país.
- O Japão me fez muito bem. Morava no interior, ficava sem ter o que
fazer e ia para o clube trabalhar um reforço muscular, evitar uma lesão.
Sempre tive facilidade para me adaptar. O Uchida (lateral do Schalke
04) deu uma entrevista ao deixar o Kashima falando sobre seus
companheiros. Na minha vez, disse que eu parecia ser japonês e havia se
impressionado com a minha adaptação - explicou.
No Botafogo, repetiu esse processo. Tanto que teve a chance até de usar
a braçadeira de capitão pela primeira vez como profissional na vitória
por 3 a 0 sobre o Olaria, dia 7 de abril, quando o goleiro Jefferson e o
holandês Seedorf não atuaram.
- Não esperava por isso. Fiquei feliz. Tentei ajudar meus companheiros
sempre conversando, como já fazia sem ser capitão. Só não estava
acostumado a escolher campo ou bola. Perguntei para o Antônio Carlos
como era - brincou o meia.
Essa boa relação no clube faz com que Fellype Gabriel seja exemplo para
os mais jovens. Ele lembra como foi a sua transição para os
profissionais para poder ajudar jovens revelações do Botafogo, que
sempre o citam como um dos jogadores mais bem quistos do grupo.
- Quando subi, o Zinho e Júnior Baiano me ajudaram muito, conversavam
comigo, davam atenção, trocavam ideias e me incentivavam a fazer as
jogadas, ir para cima. Quando você sobe, tudo é muito novo e fica meio
sem saber o que fazer. Não sei mais nem mesmo que os mais jovens, mas já
vivi certas coisas, e essa troca é importante - comentou.
Com o time em grande fase, Fellype Gabriel faz planos de conquistar o
objetivo que traçou no clube. O Botafogo não vence o Campeonato
Brasileiro desde 1995 e ainda não tem um título da Copa do Brasil.
- Estou muito feliz, foi o momento certo de eu voltar. Deu tudo certo,
fiz gol na estreia, me saí bem nos clássicos. As coisas estão
caminhando. Não faço muitos planos para o futuro, mas tenho o objetivo
de conquistar um título nacional pelo Botafogo. O que eu quero agora é
isso - afirmou Fellype Gabriel.