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Estreante no Carioca, Oswaldo revive histórias de sua paixão pelo Rio

Nascido e criado em Realengo, técnico do Botafogo lembra momentos inesquecíveis da competição e o começo inspirado pelo professor Parreira
 
Por Thales Soares Direto de Saquarema, RJ
 
O Campeonato Carioca é considerado o estadual mais charmoso do Brasil. A fórmula com a possibilidade de três finais, o número de clássicos e o Maracanã, quando estava aberto, se tornavam atrações de primeira grandeza para o público. Durante muito tempo, Oswaldo de Oliveira, nascido e criado em Realengo, não passou de um simples torcedor apaixonado pelo Rio e o seu futebol. Neste domingo, às 19h30m (de Brasília), contra o Resende, no Engenhão, quando estiver no banco de reservas para comandar o Botafogo, participará pela primeira vez da competição em sua carreira.

Oswaldo de Oliveira no treino do Botafogo (Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo) 
 
O técnico Oswaldo de Oliveira comanda o treino do Botafogo (Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo)
 
Oswaldo já comandou os quatro grandes clubes do Rio, mas não teve a chance de trabalhar como treinador no Campeonato Carioca. Em 2002, quando estava no Fluminense, a disputa aconteceu simultaneamente ao Torneio Rio-São Paulo e à Copa do Brasil. Waldemar Lemos, seu irmão e auxiliar na época, assumiu o comando de uma espécie de time B, ficando à beira do campo nos jogos.

- Só ia torcer na Bariri - disse Oswaldo, sobre o estádio do Olaria. - O Campeonato Carioca é a lembrança mais tenra que eu tenho do futebol. Meu pai (Oswaldo) me levava aos jogos quando eu era garotinho. Tinha apenas seis anos de idade quando fui pela primeira vez ao Maracanã. Em 1957, vi o Fluminense vencer por 1 a 0 o Botafogo, com um gol do Escurinho em cima do Adalberto (goleiro), que ainda encontro até hoje - contou.

A memória de Oswaldo é privilegiada. As lembranças do Campeonato Carioca estão guardadas num lugar especial para o treinador. O jogo, muitas vezes, pouco importava. A companhia do pai e o talento dos jogadores era suficiente para ir ao Maracanã. Assim, foi se apaixonando cada vez mais pelo futebol, com a ajuda do Santos de Pelé, na época, presença constante no estádio.

- Meu pai era vascaíno, mas não influenciava na nossa escolha. Não pressionava a gente. Poderíamos torcer pelo time que a gente quisesse. Adorava ir ao Maracanã. O Santos foi uma grande paixão da minha vida. Assistia a muitos jogos. O segundo que vi foi uma vitória do Vasco sobre o Fluminense (2 a 1) - comentou Oswaldo, aos 61 anos de idade, com um sorriso no rosto ao falar sobre as histórias do Campeonato Carioca.

Eu era aluno de um tal Parreira no ginásio e no científico. Ele dava aula de Educação Física no Colégio Daltro Santos, em Bangu. Acabei inspirado por ele, que chegou a ser meu técnico no time do colégio"
Oswaldo de Oliveira
 
Toda essa paixão começou cedo. Oswaldo também teve o sonho de muitas crianças e tentou ser jogador de futebol. Na meia direita, fez testes em Vasco, Bangu e Fluminense, onde chegou a ser chamado para uma nova avaliação, mas não foi adiante. Um encontro com um futuro mestre, no entanto, o fez perceber que havia outras formas de se envolver com o esporte mais popular do país.

- Eu era aluno de um tal (Carlos Alberto) Parreira no ginásio e no científico. Ele dava aula de Educação Física no Colégio Daltro Santos, em Bangu. Acabei inspirado por ele, que chegou a ser meu técnico no time do colégio. Jogava de meia-direita. Acabei virando ponta e fui para a lateral quando apareceu um melhor do que eu. Até ir para o banco de vez - brincou o treinador.

No começo da adolescência, viveu seus grandes momentos no Maracanã. Ele teve a chance de acompanhar monstros sagrados da história do futebol, especialmente do Botafogo, como Garrincha e Nilton Santos ("já como quarto-zagueiro"). O Anjo das Pernas Tortas deixou lembranças naquele jovem, que preza pela inteligência do jogador de futebol dentro de campo para saber improvisar nas horas em que menos se espera.

- Lembro em 1963 de um lance incrível do Garrincha. Ele se preparou para cobrar uma falta e se agachou para ser encoberto pela barreira e o goleiro não poder saber de onde partia. Quando viu, a bola já havia passado. O jogo acabou zero a zero, mas isso ficou marcado. É o que sempre falo sobre a inteligência do jogador - disse Oswaldo, que viu a chance de ir ao estádio como torcedor diminuir com o crescimento na profissão. - Em 1975, já estava no Bonsucesso e, até 1978, ainda conseguia assistir aos jogos. Cheguei a ver o golaço do Roberto Dinamite, com um lençol no Osmar (Vasco 2 x 1 Botafogo, em 1976).

Em busca de seus jogos inesquecíveis na competição e, quem sabe, com uma conquista, Oswaldo ainda lembra do clássico mais marcante que viu no Maracanã, pelo Campeonato Carioca. O empate em 3 a 3 em 1964 o deixou com os nervos à flor da pele. No fim, viu uma imagem que nunca mais foi capaz de esquecer depois de quase 50 anos.

- Ubiraci fez 1 a 0 para o Fluminense. O Flamengo virou com Berico e Osvaldo Ponte Aérea. O Fluminense ficou na frente de novo com dois gols do Amoroso. Mas, na saída de bola, o Ditão foi para a área e sofreu o pênalti. O Osvaldo cobrou e marcou. Foi sensacional esse jogo. A gente estava indo embora do Maracanã, quando aconteceu o pênalti. Voltamos para ver. Lembro de um senhor jogando um daqueles rádios antigos para o alto. Espatifou-se no chão. É uma cena da qual não me esqueço - disse Oswaldo, que, depois de anos vividos no Maracanã, disputará seu primeiro jogo no Engenhão.