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Problemas no Engenhão ‘arranham’ imagem do Brasil, dizem analistas

 

Caio Quero

Engenhao | Foto: Agência Brasil

Interdição de estádio danifica imagem do Brasil antes de eventos esportivos internacionais

Os problemas estruturais que levaram à interdição do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, na última terça-feira, “arranham” a imagem internacional do Brasil e levantam dúvidas sobre a preparação do país para receber a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016, na opinião de analistas e observadores ouvidos pela BBC Brasil.

Em uma coletiva de imprensa na noite de terça-feira, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou o fechamento da arena por tempo indeterminado devido a problemas estruturais na cobertura, algo que poderia colocar o público em risco.

Inaugurado em 2007 para os Jogos Panamericanos, o estádio, que fica no bairro do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio, vinha sendo palco de partidas do campeonato carioca de futebol e receberá as competições de atletismo da Olimpíada de 2016.

"Há um abalo de imagem que é indiscutível", diz Amir Somoggi, consultor independente de marketing esportivo.

"É muito triste que a tão pouco tempo da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos nós tenhamos que explicar como uma obra nova apresenta problemas estruturais tão graves", afirma Somoggi.

Lição de casa

A construção do Engenhão teve início em 2003, a cargo da construtora Delta. A empreiteira, no entanto, acabou abandonando a obra, que foi assumida então por um consórcio entre as construtoras OAS e Odebrecht. Com a mudança, qualquer problema relacionado ao projeto do estádio passou a ser de responsabilidade da prefeitura.

De acordo com Somoggi, os custos para a construção do estádio são compatíveis com o de arenas do tipo em outras partes do mundo, e a existência de problemas pode levantar desconfiança sobre a capacidade de planejamento dos responsáveis por receber os grandes eventos esportivos.

"Você tem um estádio que custou quase R$ 400 milhões, um valor dentro do que se gasta pelo mundo. (Mas é) um estádio que tem problemas estruturais graves, significa que nós não estamos fazendo a nossa lição de casa", diz.

Para Pedro Daniel, executivo de gestão esportiva da consultoria BDO, ainda é preciso saber as causas dos problemas apresentados, mas, segundo ele, é possível que as falhas no Engenhão gerem um desconforto entre patrocinadores e acabem tendo impacto em negociações de contratos e naming rights (direitos de dar nome ao estádio). "Que empresa vai querer atrelar sua marca a um lugar com risco?", diz. 

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, engenheiros do consórcio responsável pelo estádio afirmaram que o prazo para identificar a razão do problema e encontrar uma solução deve ser superior a 30 dias, não havendo previsão para reabertura da arena.

Impacto internacional

A interdição do Engenhão acontece em um momento em que as atenções internacionais estão cada vez mais voltadas para o Brasil, com a aproximação da Copa das Confederações, que acontece em junho, e da Copa do Mundo de 2014.

"Se o Brasil não estivesse sediando os eventos, eu acho que esse tipo de história iria passar despercebida" diz Tim Vickery, correspondente esportivo da BBC no Rio de Janeiro.

"A coisa tomou uma dimensão internacional justamente porque o Brasil está sediando os megaeventos. O fato de que o Engenhão vai sediar o atletismo dos Jogos dá uma dimensão enorme à notícia", diz o jornalista.

Segundo ele, até a terça-feira, havia uma preocupação principalmente com relação à mobilidade urbana durante os Jogos Olímpicos, mas o caso do Engenhão também gera dúvidas sobre a qualidade das instalações que receberão as competições.

Imagem e confiança

O consultor Amir Somoggi concorda e afirma que casos como esse "arranham" a imagem do país ao evidenciar o que classifica como "falta de planejamento, visão e controle de custo"

"O mundo olha para o Brasil - porque o Brasil é o centro das atenções esportivas - e não gosta muito do que vê", diz.

Procurado pela BBC Brasil para comentar o caso, o Comitê Olímpico Internacional disse por meio de nota que está em "contato regular" com a organização dos Jogos do Rio de 2016 e afirmou ter "confiança absoluta" na preparação do país.

"Ainda faltam mais de três anos e meio para os Jogos, e temos confiança absoluta de que eles acontecerão", diz a nota.

Já o Comitê Organizador dos Jogos no Brasil afirmou, também por meio de nota, ter "plena confiança de que a prefeitura do Rio de Janeiro tomará as medidas necessárias para que o Estádio Olímpico esteja pronto para os Jogos".