por Joaquim Ferreira dos Santos
Jornal ‘O Globo’
É
por essas e outras que eu deixei de ir aos estádios ver os jogos. Não há muita
escolha. Ou se leva uns catiripapos no meio de algum entrevero de torcidas ou,
olhando-se para o gramado, grassa a decepção com juízes e jogadores. Vi o
último jogo do Botafogo perla TV como tem sido a rotina deste torcedor que já
viu jogos na rua Bariri e no Stade de France, e me acabrunhei com os vexames a
que você, cracão, foi submetido.
Primeiro
o lance do pênalti que, quando você ia bater, o juiz voltou atrás e deu por não
dado a marcação. Ele evidentemente tinha recebido a informação, pelo ponto
eletrônico, de que a TV estava passando o lance e a marcação era indevida, pois
havia um impedimento anterior. Depois, a trapalhada da sua expulsão, um lance
ordinário e complicado demais para ser explicado aqui.
Eu
gosto de futebol como gosto de respirar e outras coisas mais. É um dos grandes
espetáculos da civilização brasileira, que o recriou em doses artísticas que
nem o momento ruim o deixa menos interessante. Já não somos os melhores, mas
definitivamente somos diferentes e aquele gol do Oscar contra a Itália não me
deixa mentir.
De
uns tempos para cá, o espetáculo foi ficando grosseiro, o pau canta em todos os
jogos, na arquibancada, fora do estádio ou dentro do gramado – e eu achei
melhor ver isso tudo de longe.
Tenho
este texto das quartas-feiras para escrever, tenho meu neto Eduardo para ver
crescer e ando lendo entusiasmado uma reportagem em livro sobre os bastidores
da produção de “Psicose”, o filme de Hitchcock. Não posso correr o risco de,
para ver ao vivo uma arrancada do Rafinha, levar uma pedrada no quengo e perder
um desses prazeres.
Fico
em casa vendo os jogos pela TV, mas definitivamente não me conformo por terem
me tirado um programa desses. Por que, meu caro Seedorf, o futebol no estádio
virou um privilégio de meia dúzia de torcedores violentos que esquecem o jogo e
ficam lá aos pulinhos esperando a hora da bola parar e eles saírem na porrada
com os torcedores adversários?
O
que você sofreu em campo com o juiz atabalhoado, meu grande Seedorf, o torcedor
tem sofrido para ver os jogos. É a maior bagunça, não tem banheiro, não tem
segurança, os estádios, como esse de Moça Bonita, do jogo com o Madureira, são
vergonhosos e permanecem os mesmos desde
os anos 1950, quando o time do Bangu era conhecido por “Os roxinhos de Moça
Bonita”.
Enfim,
Seedorf, toda a minha solidariedade e pedido de desculpas por esse vexame a que
você foi submetido no jogo com o Madureira. Vou continuar te vendo de casa,
batendo o fino no balão de couro. Fico na esperança silenciosa de que com o
novo Maracanã, chicoteado pela Fifa, possa haver alguma mudança e torcedores
que não estejam a fim de sair na porrada com a torcida adversária, torcedores que queiram ver com algum conforto a bola
rolando, sejam novamente privilegiados nos estádios.