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Botafogo de Natal herda dívida do 'primo rico' e espera ressarcimento

Dívida trabalhista contra o Fogão carioca teria sido cobrada em Natal.
Para membro da ONG potiguar, houve confusão com as razões sociais

 

Por Matheus Magalhães Natal

Que tal você ser condenado a pagar uma dívida em nome de um xará seu? Situação no mínimo revoltante. E é esse sentimento do Botafogo de Natal. A ONG teve de pagar R$ 1.585,00 por causa de uma ação trabalhista perdida pelo primo rico do Rio de Janeiro em 2005. Sete anos se passaram e nada do dinheiro ser devolvido à organização.

ONG atende a cerca de 50 crianças por ano (Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM) 
ONG atende a cerca de 50 crianças a cada ano (Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM)
 
Para o então presidente do clube, hoje vice, Onofre de Lima, houve algum equívoco por parte do juiz carioca. O problema estaria na razão social das entidades: a filantrópica é “Botafogo Futebol Clube”, que atua na Vila de Ponta Negra, na zona Sul de Natal, há mais de 60 anos, enquanto o time carioca é “Clube Botafogo Futebol Regatas”.

Treinos acontecem toda terça, quinta e sábado (Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM) 
 
Treinos acontecem toda terça, quinta e sábado
(Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM)
 
- Acho que foi um erro judicial, estava na justiça de trabalho lá no Rio. A gente tem uma conta no banco e ficou surpreso quando foi pegar um saldo e tinha saque nesse valor. Falei com o gerente e ele explicou que um trabalhador colocou o time na justiça e a gente tinha que pagar isso. Que funcionário? Todo mundo é voluntário aqui – reclama o vice-presidente do Botafogo potiguar, fundado em 1951, mas registrado em 1976.

Onofre também não concordou com a atitude do banco em retirar o dinheiro sem consultar o correntista, mas teriam dito a ele que ordem judicial não se discute. Sendo assim, ele procurou a defensoria pública e providenciou uma documentação do clube, que provava a diferença no CNPJ. Pediu estorno do valor, mas até hoje não obteve resposta.

- Tudo isso foi feito pelos correios mesmo. Não entramos em contato com o clube porque também não conhecemos ninguém lá. Já dei copia a não sei quantas pessoas que querem ajudar, mas ninguém conseguiu - lamenta.

Faz falta

Terreno invadido na década de 1950 não tem escritura (Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM) 
 
Área invadida na década de 1950 não tem escritura
(Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM)
 
Segundo Onofre de Lima, a folha salarial do "Fogão da Vila" se resume aos R$ 35,00 da conta de água, R$ 25,00 de energia e cerca de R$ 420,00 mensais, gastos com os lanches das 40 crianças - nehuma delas torcedora do Botafogo carioca - que participam da escolinha de futebol três vezes por semana. O montante de R$ 500,00 do primo pobre depositado em um campinho de terra e no futuro das crianças, nem se compara aos R$ 3,5 milhões gastos mensalmente no time de General Severiano.
A ONG é bancada pelo programa “Cidadão Nota 10”. Ao arrecadar as notas fiscais, as instituições obtêm pontos e recebem recursos do governo do estado. Mas com o valor pago em 2005, foram necessárias muitas doações para manter as atividades. Se essa mesma quantia fosse devolvida hoje, daria para garantir um material esportivo novo e para começar a erguer a sede do Botafogo Futebol Clube.

- A primeira providência é manter o material que a gente precisa: coletes, chuteiras... Depois queremos construir uma sede, já que as reuniões e comemorações de Dia das Crianças e Natal são feitas no salão paroquial da capela do bairro. Lá nós também fazemos um trabalho preventivo de higiene bucal, noções de cidadania, entre outras coisas – conta Onofre, que é voluntário da ONG há mais de 15 anos e já foi uma das crianças assistidas.

Campo de terra foi batizado de Engenhão (Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM) 
Campo de terra foi batizado de Engenhão (Foto: Matheus Magalhães/GLOBOESPORTE.COM)
 
O campinho de terra, carinhosamente batizado de Engenhão, é outro problema da entidade. Na década de 1950, o terreno onde hoje acontecem os treinos foi invadido, logo, não tem escritura pública. Ciente de que se trata de uma posse, a atual presidência da ONG sabe que não pode erguer um muro porque não tem a documentação. Para tal, seria necessário desembolsar entre cinco e dez mil reais. Por isso, não é a providência mais urgente do Botafogo natalense.

- O campo é outra questão judicial. O que a gente quer mesmo é ser reconhecido e que o dinheiro volte. É constrangedor para a gente ficar correndo atrás disso. Nós somos uma entidade sem fins lucrativos. Faz muita falta – finaliza o vice-presidente.