Julio Cesar guarda camisa da semi em armário de 'momentos especiais'
Lateral-esquerdo diz que matou saudade de fazer gols, lembra da grave lesão no ano passado e da amizade com o pai Cesar, ex-atacante do Vasco
Julio Cesar não quer usar a camisa número 6
(Foto: Raphael Bózeo)
(Foto: Raphael Bózeo)
A camisa 26 usada na vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo, domingo, pela
semifinal da Taça Guanabara, vai para um armário especial. É nele, na
casa da mãe, Sylvia, em São Paulo, que Julio Cesar
guarda só as camisas usadas em momentos marcantes na carreira. São
poucas. Mas o gol no primeiro jogo como titular na lateral esquerda do
Botafogo, logo contra um ex-clube, foi suficiente para ele classificar a
vitória como inesquecível.
- A camisa está guardada. Não costumo ficar com ela, só quando é
especial. Tenho a do título brasileiro pelo Fluminense, em 2010, a do
título carioca pelo Flamengo, em 2004, a do Cruzeiro, campeão mineiro em
2006, e a do Goiás, quando ganhamos o Goiano, em 2009. A do Botafogo já
está separada. Eu não troco camisa depois dos jogos, porque eu tenho
muito amigo, e todo mundo pede camisa. Se eu trocar, não tem como dar
para os meus amigos (risos). Mas essa é minha - disse Julio Cesar, que
não pretende usar a camisa 6 mesmo após a saída de Márcio Azevedo para o
Metalist (Ucrânia), na semana passada.
O gol também serviu como recomeço para o lateral-esquerdo. Em 2012,
quando atuava pelo Grêmio, ele passou pelo pior momento na carreira.
Julio Cesar precisou operar o joelho esquerdo e ficou fora de quase toda
a temporada. Além disso, ele não marcava havia quase dois anos. A
última vez que balançara a rede havia sido no dia 20 de abril de 2011.
Ele fez um dos gols da vitória do Fluminense sobre o Argentinos Juniors,
por 4 a 2, em Buenos Aires, pela Libertadores.
- Foi um momento difícil quando eu me machuquei. Esse gol foi
importante para começar bem. Eu já estava com saudade de fazer gol. Eu
tinha desaprendido até a comemorar. Fiz o gol e não sabia nem o que
fazer (risos) - disse Julio Cesar, que pretende mudar de posição no fim
da carreira e atuar como meia.
No dia seguinte à vitória sobre o Rubro-Negro, Julio Cesar curtiu com a
família e recebeu o carinho de alguns moradores do condomínio em que
mora, até torcedores de outros clubes. Mas, no prédio vizinho, um
flamenguista e um tricolor fizeram questão de provocar o lateral em tom
de brincadeira. O torcedor do clube das Laranjeiras até colocou o hino
do Fluminense nas alturas, mas nem isso tirou o sorriso do rosto do
jogador.
Na final da Taça Guanabara, no domingo, contra o Vasco, Julio pode
levantar a primeira taça pelo Glorioso. Pé-quente por onde passou, ele
quer repetir a dose e levar o Botafogo a títulos de expressão.
Julio Cesar curtiu a folga com a esposa Fernanda
e as filhas Manoela e Beatriz (Foto: Raphael Bózeo)
e as filhas Manoela e Beatriz (Foto: Raphael Bózeo)
- Fui campeão com Cruzeiro, Goiás, Flamengo e Fluminense. Até no
Cabofriense, em 2007, cheguei a uma final de turno e foi como um título
(perdeu a decisão para o Botafogo). Teve festa na cidade e tudo. Eu dou
sorte e espero repetir aqui. Quero ajudar na conquista de um título
importante e colocar o clube novamente na Libertadores. Clássico não tem
favorito. Isso foi provado contra o Flamengo, que era dado como
favorito e conseguimos vencer. Contra o Vasco, quem tiver mais
disposição vai
ganhar a partida.
Futebol de berço
O talento para jogar futebol vem de berço. O pai de Julio Cesar também
foi jogador e defendeu o Vasco na melhor fase da carreira, em 1981.
Conhecido como Cesar, ele fez dupla de ataque com Roberto Dinamite e
chegou até a defender a seleção brasileira em três jogos. O brilho no
Cruz-Maltino o fez ser negociado com o Sevilla, da Espanha.
A amizade dos dois foi fundamental para que o lateral-esquerdo conseguisse realizar o sonho de se tornar jogador profissional.
- Comecei jogando futsal no Palmeiras com sete anos e fiquei até os 15.
Morava próximo do clube e minha mãe era diretora de lá e é conselheira
lá até hoje. Eu vim para o Rio de Janeiro porque alguma coisa me dizia
que, se eu estivesse próximo do meu pai, eu estaria perto de realizar
esse sonho. Fiz a cabeça da minha mãe, não foi fácil, e vim morar com
meu pai na Ilha do Governador. Comecei na Portuguesa da Ilha, fui para o
Bangu e consegui ser jogador.
* Raphael Bózeo, estagiário, sob a supervisão de Luciano Mello
Julio Cesar comemorou a vitória ao lado do pai, Cesar (esquerda), em casa (Foto: Raphael Bózeo)