'Filósofo' Capita aconselha Neymar: 'Todos os grandes jogavam simples'
Carlos Alberto Torres critica postura do santista em campo, ironiza cargo de embaixador da Copa e se diz feliz por ser doutor honoris causa de filosofia
No Laureus, Torres esteve com amigo Beckenbauer,
a quem só chama de Franz (Foto: André Durão)
a quem só chama de Franz (Foto: André Durão)
Aos 68 anos, Carlos Alberto Torres continua com a língua afiada que
virou uma das suas marcas registradas. Nomeado embaixador da Copa do
Mundo no Brasil, o capitão do tricampeonato mundial ironiza e diz que
até agora não sabe qual sua função no cargo. O Capita lamenta não ter
chances de trabalhar em clubes brasileiros, revela que ajudou o Botafogo
na negociação com Maicosuel, diz que, se estivesse no Fluminense,
tornaria o Tricolor o maior time do mundo e critica a postura de Neymar. Curiosamente, não pela superexposição, como fez Pelé recentemente, mas, sim, dentro de campo.
- Ele (Neymar) perde tempo, jogadas, por não usar a simplicidade na
maneira de jogar. Alguém tem que buzinar no ouvido dele. Ele vai fazer
isso até um certo ponto. Quer um exemplo? O Robinho. O que o Neymar faz
hoje o Robinho fazia há alguns anos. E cadê o Robinho? Cadê ele? Essas
coisas vão caindo num lugar comum - afirmou Carlos Alberto Torres.
A vida do capitão no futebol daria um livro, que ele ainda decide se
vai escrever. Mas, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, alguns capítulos
curiosos vêm à tona, como a estratégia que usou para empolgar times que
assumiu e que estavam em baixa: bingo motivacional.
Carlos Alberto Torres revela um canal constantemente aberto com
Beckenbauer, a quem chama pelo primeiro nome, Franz. A cada frase, ele
usa a todo instante um "pór", espécie de contração de um pequeno
palavrão.
O orgulho mais recente foi ganhar um título longe do campo e bola. Sem
mesmo saber o motivo, em 2012, Carlos Alberto Torres foi nomeado doutor
honoris causa da Associação Brasileira de Filosofia.
A seguir, as filosofias do Capita.
Ontem e hoje: Carlos Alberto Torres posa ao lado da foto com a taça do tri, em 1970 (Foto: Janir Júnior)
GLOBOESPORTE.COM: Quais foram suas primeiras impressões da volta do Felipão à Seleção?
Carlos Alberto Torres: Desde o início, dei minha
opinião sobre a convocação do treinador. A Seleção é o conjunto dos
melhores dos melhores. É lugar da elite, tanto treinador como jogador.
Sempre foi assim. Mas, de uns tempos para cá, estão confundindo as
coisas. Convocando jogador por convocar, “ah, vamos ver”. Não tem essa
de vamos ver. O Felipão é um grande treinador, sem dúvida, mas, pelo
momento dele, não era para ser técnico da seleção brasileira. “Ah, mas
ele foi campeão do mundo...” Desde o começo me posicionei contra a
convocação do Felipão naquele momento. Pode ser que mais para frente ele
venha a merecer novamente o cargo. Fui contra, e vou esperar que ele
mostre um bom trabalho. Não vou ser eternamente contra o cara. Quem
merece nesse momento ser o técnico da seleção é o cara do Corinthians,
que foi campeão da Libertadores, campeão do mundo, ninguém mais merecia.
Já que houve a mudança no comando, não tinha outro mais indicado do que
o Tite. Mas vamos torcer aí para dar tudo certo com o Felipão.
Você... Posso chamar de você?
“Pór”, se chamar de senhor eu fico ofendido.
Pela experiência que você tem no futebol, como vê a mudança de
perfil dos jogadores, uma transição do romantismo para um mundo de
celebridades?
Houve uma mudança radical. Isso foi com o progresso da mídia,
tecnologia, internet. O cara faz um negócio hoje e o mundo inteiro já
vê. Ninguém pode fugir disso. Se o jogador vai bem - isso em todas
épocas - ele tem mais visibilidade. É perfeitamente normal. Sempre digo:
se o Pelé tivesse essa mídia que se tem hoje...
Se na época do Pelé existisse internet...
Putz, o que seria do Pelé, e de outros jogadores? Mas respeito muito. Acho que ninguém convive sem isso.
Mas acredita que deve existir um limite na exposição fora de campo?
Não sei se tem que haver limite. O limite é o próprio cara, a própria
atuação das pessoas. Você vê esse menino Neymar, o que estão fazendo
dele. Mas, se não fizer com ele, vai fazer com quem?
Pelé com o pequeno Alexandre Torres, filho de
Carlos Alberto (Foto: Reprodução)
Carlos Alberto (Foto: Reprodução)
Você concorda com Pelé, que disse que Neymar estava “preocupado em aparecer”? Ele deveria se preservar um pouco?
Não sei. O que se sabe é que ele tem uma p... assessoria. Essa coisa
mesmo de ele fazer algumas coisas, eu acho que é a assessoria que manda.
Não digo dentro do campo, pois aí, sim, na minha opinião, falta
assessoria. “Pô, não faz isso, faz assim”. Ele precisa. É garoto ainda.
Garoto porque botaram esse rótulo nele. O Pelé, então, com 17 anos era
um neném e foi campeão do mundo. Eu com 19 anos era titular da seleção
brasileira e nunca ninguém achou que era garoto. O tempo passa voando.
Se o cara não fizer com 20 anos, não vai fazer com 28, 29. Hoje existe
uma preocupação muito grande com essa coisa da idade. O que Neymar faz é
da inexperiência, não diria da idade.
Você, como técnico do Neymar, qual seria a assessoria, o papo com ele?
Seria no sentido de mostrar exemplos do futebol, os grandes jogadores.
Ninguém jogava como ele joga, mas foram grandes e até hoje são falados,
sem fazer necessariamente o que o Neymar faz. Há um exagero dele na
parte técnica. Tem que conversar: “Pô, Neymar, não leva a nada”. E
começa a mostrar os exemplos. Os caras foram grandes porque jogavam
simples. Todos os grandes jogadores jogavam com simplicidade, por isso
foram grandes. Pelé, Beckenbauer, Zico, o próprio Ronaldo não fazia o
que o Neymar faz, o Ronaldinho no início da carreira não fazia o que o
menino faz. O Cruyff. Me parece que falta isso para o Neymar, alguém que
chegue, alguém de credibilidade. Não pode ser qualquer cara, porque o
Neymar vai pensar: “Peraí, tu jogou onde, qual a tua história, o que tu
fez?” O próprio Pelé tinha obrigação de conversar. Ele mora em Santos.
Se eu morasse mais perto, de repente ia lá falar com ele. Falta muito
isso na carreira desse garoto. Ele é muito bom e pode mudar. Se mudar,
vai ser ainda melhor.
Tivemos uma porrada de gente que jogava dessa maneira, e nem lembro o nome. Jogadores que apareciam e diziam: é o novo Pelé"
Carlos Alberto Torres
Mudar em quê?
Ele perde tempo, jogadas, por não usar a simplicidade na maneira de
jogar. Aí você vê como o Zico jogava no Flamengo. Fazia gol e ainda
botava os caras para fazer. Alguém tem que buzinar no ouvido dele. Ele
vai fazer isso até um certo ponto. Quer um exemplo? O Robinho. O que o
Neymar faz hoje o Robinho fazia há alguns anos. E cadê o Robinho? Cadê
ele? Vão caindo num lugar comum essas coisas. Tivemos um monte de gente
que jogava dessa maneira, e nem lembro o nome. Jogadores que apareciam e
diziam: é o novo Pelé. Acho que tem que cair um anjo na frente do
Neymar e dar um bizu nele. Parece que as pessoas têm medo de falar com
ele. Se tivesse a chance falaria com ele.
Você vê uma diferença com Messi, um estilo mais sóbrio, sem moicano e menos badalado fora de campo?
Claro, o exemplo está aí. Se Neymar fosse meu jogador, eu chegava
junto. Passa o pé em cima da bola, joga daqui, dali. Vai jogar pelada,
então. Pelada que é o lugar de fazer isso, a galera gosta. São jogadas
que não levam a nada.
Mas aí podem sugerir que você está indo contra o futebol arte...
Futebol arte não é isso, é, sim, o jogo jogado, com toque de bola,
drible na hora certa, criatividade, improvisação. Mas a improvisação do
Neymar não leva a nada,“pór”. O torcedor pode gostar, achar do cacete. E
aí? Os bons marcadores vão se acostumando e não vão deixar fazer mais.
Todo treinador tem preocupação.
Você acompanha atentamente o futebol brasileiro?
Assisto a tudo que é jogo. Televisão é comigo mesmo. E o Botafogo eu
assisto pois sou assessor do presidente, não lá do futebol, sou do
estádio. Então, se a gente vai almoçar, ele (Mauricio Assumpção) começa a
falar de futebol eu tenho que saber, né? (risos) Gosto do jogo bonito,
agradável de se ver. Mas tem jogo que desligo no meio.
Lembra do último que desligou?
Vários, desligo e vou ver outra coisa. O jogo bonito é objetivo, com
simplicidade. O grande defeito do futebol brasileiro é o toque de bola.
Não tem um time aqui que toque bem a bola. Os clubes perdem um jogo ou
deixam de vencer por não ter bom toque de bola, que faz você controlar a
partida. Time que toca bem a bola controla o jogo e não dá chance de o
adversário incomodar sua defesa.
E ser nomeado embaixador da Copa no Brasil, o que se faz, qual a sua função?
Até agora eu não sei (risos). Juro por Deus. O que eu faço, Diego, como embaixador da Copa?! (Carlos Alberto pergunta ao neto)
Como assim?
Demorei a aceitar o convite, pensei duas semanas. Conversei com várias
pessoas, algumas disseram “Deve ser legal” (risos). Só teve o dia da
apresentação, mais nada. E não ganho nada.
Mas, mesmo sem receber nada, seria legal saber a função, não?
Pelo menos (risos). Acho que algumas pessoas pensam que é um cargo
remunerado. P... nenhuma. Os outros cargos de embaixador eu ganho, sou
da Audi, do cartão Visa, do Botafogo, da Soccerex, todos são
remunerados. Mas esse, que seria o principal, pois envolve Fifa, CBF,
muita grana rolando, não. Pensei: “Vou ganhar um salariozinho”.
Não pingou nada?
Nada, nada, nada. Vão usar o prestígio que eu tenho, de capitão de uma
Seleção de que até hoje falam, numa Copa que vai ser disputada no
Brasil, no esquema que envolve muita grana. Mas não faço nada, ninguém
me liga para absolutamente nada. Deixa rolar.
Capita com a camisa que fez história pelo Brasil
(Foto: Janir Júnior)
(Foto: Janir Júnior)
Gostaria de ter uma participação mais efetiva em relação à Seleção?
Não posso negar que gostaria, claro, “pór”. Na Europa aproveitam muito
mais ex-jogadores, ainda mais campeões do mundo e que têm capacidade. É
uma questão de cultura do esporte. Costumo dizer: se tivesse nascido na
Europa, meu Deus do céu. Não se aproveitam pessoas que fizeram alguma
coisa, ou fizeram muito. De vez em quando chamam, como foi com Zico na
Copa de 98. O Beckenbauer sempre me perguntava: “E aí, já te chamaram
para fazer alguma coisa?” Ele chamou 11 jogadores campeões do mundo,
tenho até um livro com a função de cada um nas cidades. Separei para
mostrar para os caras da CBF. O cargo que tenho de embaixador, segundo o
Comitê Organizador Local, seria remunerado pela Fifa. Eu, Zagallo,
Amarildo, emprestamos nosso prestígio e não ganhamos nada, num meio que
rola dinheiro pra cacete, ainda mais numa Copa? Eu empresto o prestígio,
você tem que me pagar. Disseram que a Fifa não tem verba.
O que você poderia fazer para ajudar, participar?
Coloca um pouco a Seleção de lado. Vamos falar no âmbito do futebol
brasileiro. Gostaria de usar a experiência que tenho, com meu
conhecimento no exterior. Poderia ajudar algum clube aqui. Começo
voltando 30 anos, no Fluminense, onde fui uma espécie de gerente do
futebol. Quem eu trouxe para o Fluminense? Romerito. Eu que trouxe. Só
que o Fluminense não botou um puto. Ele era do Cosmos, eu conhecia o
pessoal, peguei um avião e fui lá, transei tudo para pagar com jogos.
Mais um exemplo. Não é porque eu queira esse cargo no Botafogo, pois
estou lá, satisfeito com o presidente, sou embaixador do Engenhão, trago
empresas para investir no estádio, Mas acho que poderia fazer muito
mais. Eu consegui que dois jogadores ficassem no Botafogo. O Elkeson e o
Maicosuel. Como? Telefone: “Franz, me ajuda aí que não temos como pagar
o passe do Maicosuel”. Ele me ligou no dia seguinte e disse: "Fala para
o Mauricio pagar dessa forma". Maicosuel estava indo para o Fluminense.
Liguei para o J. Hawilla (presidente da Traffic), meu amigo há 500
anos. A Traffic ia colocá-lo no Fluminense. Não basta apenas ter grana.
Sem criticar, se eu fosse do Fluminense, fazia dele o maior time do
mundo. Pô, tem um p... patrocinador. E aí, o que ganha? Ganhou o
Brasileiro, tudo bem, agora internacionalmente já perdeu quantas
Libertadores? Não corro atrás, nem ligo para empresário, isso eu não
faço. Se eu der sorte de alguém lembrar: "Pô, é o Carlos Alberto,
conhece tudo mundo".
Técnico nunca mais?
Se aparecer um maluco aí, que nem esse diretor da Unimed, jogar um
caminhão de dinheiro, eu que vou dizer não? Mas minha preferência é esse
serviço atrás, trabalhar com futebol, levar minha experiência .
Qualquer executivo de futebol no Brasil é bom até chegar ao Galeão.
Pegou avião vai lá fora, f... Já tenho a figura do Franz, que é o meu
coringa. Qualquer problema que tenha na Europa ligo: "Franz, me ajuda
aí". Ele me ajuda. O cara é meu trunfo, manda em uma porrada de coisas
na Europa. Não é queixa, mas não consegui entrar nesse meio.
Se tenho que pagar o preço, entre aspas, de ser do jeito que sou, e não conseguir emprego, estou numa boa"
Por que não conseguiu?
Não sei. De repente os caras pensam: “O Carlos Alberto é f...”. Pode
ser. Porque na minha frente ninguém faz sacanagem. Uma vez, em 2005,
tinha voltado do Arzebaijão e me liga o presidente do Paysandu, de
Belém, pedindo ajuda, faltavam 10 jogos, o time estava lá embaixo. Disse
que era difícil, mas o cara me ofereceu uma grana, eu fui. Primeiro
jogo ganhamos do Coritiba, segundo do Cruzeiro, terceiro do Fortaleza.
Ganhamos até do Botafogo, mas o time não saiu do rebaixamento. Quando
você pega o Flamengo, como tirei do rebaixamento, em 2001, é outra
coisa. Acabou o campeonato, o presidente do Paysandu me chamou, disse
que queria que eu continuasse. Eu disse que tinha uma condição: quem vai
fazer o time sou eu. Vim para o Rio, ele disse que ligaria em 10 dias.
Estou esperando ele me ligar até hoje. Não tem esse lance. Comigo
ninguém faz sacanagem, trazer jogador por trazer. "Ah, mas o Carlos
Alberto fala demais". Não, peraí, não falo demais. Pega o Vanderlei
Luxemburgo, esses caras que chutam o balde toda hora, estão trabalhando,
e eu não estou. Sou f... no bom sentido, de não deixar fazer sacanagem.
Se tenho que pagar o preço, entre aspas, de ser do jeito que sou, e não
conseguir emprego, estou numa boa.
E quais as lembranças de comandar a seleção do Azerbaijão?
Foi uma experiência muito legal. Trabalhei num mercado que é
fraquíssimo, tecnicamente falando. No aspecto de prestígio, eu os
ajudei, pois todo mundo falava do Arzebaijão. Quando me chamaram, fui no
mapa para ver onde era. Fiquei num lugar bonito, em frente ao Mar
Cáspio. Comecei o trabalho do zero, tive que descobrir jogadores, viajei
pra burro para ver jogador. Consegui alguns resultados. Ganhamos do
Ubzequistão, que é bom centro de futebol, primeira vitória que
conseguiram fora do país, foi um feito. Na volta, a cidade inteira
estava no aeroporto para festejar. Conseguimos entrar na classificação, e
no primeiro jogo empatamos com País de Gales. "Nego" já começou a achar
que ia para Copa (risos). Juro por Deus. Isso era o pior de segurar.
Veio o jogo com a Inglaterra, que suou para ganhar de 1 a 0, antes era
oito, nove, 10 a 0. Aí me chamaram de mágico. Mas, quando senti que não
dava, saí. Tenho minhas pretensões, fazer um trabalho que todo mundo
veja, voltar a ser campeão. Nunca mais fui campeão. Quero ter a
satisfação da vitória.
(Carlos Alberto pede: "deixa eu contar uma história")
Em todos os clubes aonde vou e que estão mal - que é quando se lembram
mais da gente -, a primeira coisa que faço para unir o grupo, animar o
ambiente, sabe o que é? Você chega no clube que está numa situação ruim,
todo mundo para baixo. Uma forma que descobri para animar é fazer, esse
joguinho que tinha aí, que foi proibido. Bispo? Não.Também não é
cassino, "pór". Bingo! Fazia bingo com os jogadores.
Bingo?!
Bingo, malandro. Pedia uma televisão LED 40 polegadas, videocassete,
arrumava uns prêmios legais. Os caras gostam disso. Jogador ganha
dinheiro para cacete, mas, se você fizer um negocinho para ele ganhar um
prêmio de R$ 100, fica satisfeito pra caramba. Isso é próprio do
jogador. Depois da janta, fazia o bingo. Fiz em todos os clubes. Quando
cheguei ao Azerbaijão, resolvi fazer um bingo também, os dirigentes
tinham dinheiro, pedi uns prêmios legais. No primeiro bingo, uns três ou
quatro ficaram de fora, pois a religião não permite. Eles nem viram o
bingo. No segundo, já ficaram atrás de mim. No terceiro, estavam
sentados jogando (risos). Funciona.
E essa história de ser nomeado doutor honoris causas pela Associação Brasileira de Filosofia?
Ainda não fui receber, não. O presidente, não lembro o nome dele, não é
meu amigo, mas é mais do que conhecido. Ele teve ideia de me homenagear
e já foi aprovado. Para mim, é uma honra. Um prêmio como esse você
curte até mais.
Carlos Alberto Torres é doutor honoris causas na Academia Brasileira de Filosofia (Foto: Reprodução)
E qual é a filosofia do Capita?
Filosofia do bom vizinho. Sou um cara amigo de todo mundo. Quem me
conhece passa a ser meu amigo. Não sou prepotente, sem orgulho, porra
nenhuma, pois tive bons exemplos. Aprendi muito. A maior oportunidade de
ser como sou hoje foi quando joguei no Santos, no grande Santos. Tinha o
Gilmar, Mauro, capitão da Seleção, Zito, que era capitão do Santos e
mandava no clube, mandava o Pelé tomar... aquelas coisas. Orlando
Peçanha, só jogador campeão do mundo. Coutinho, Pelé, Pepe, Dorval. Eu
tive a oportunidade de jogar naquele time. Eu tinha 20 anos, quando
cheguei lá, quase pedi autógrafo para os caras. E tive oportunidade de
aprender a ser uma pessoa simples. Jogar ao lado daqueles jogadores, e
eu que seria mascarado? Principalmente o Pelé, o grande exemplo que tive
na minha vida. No auge, o Rei não podia sair na rua, e o crioulo até
hoje é esse cara simples. Nos eventos lá fora, ele sai só com o seu
secretário, enquanto aqui vejo jogador entrando com segurança até no
campo. O Pelé no máximo usa um chapéu do Sherlock Holmes. É de uma
simplicidade. Tive essa chance na minha vida de conviver com esse caras.
Se eles não eram convencidos, por que eu ia ser?