Caminho das pedras: com relatório minucioso, Bota chega aos reforços
Departamento de futebol passa por série de etapas antes de contratar. Seedorf é exceção por capacidade técnica e representatividade comercial
Para esta temporada, o Botafogo contratou Lennon, Brinner, Lima,
Seedorf, Lodeiro, Vítor Júnior, Andrezinho, Fellype Gabriel e Rafael
Marques. E o clube está prestes a acertar com o volante Amaral, do
Cruzeiro, para suprir a carência de jogadores na posição, com as sérias
lesões de Marcelo Mattos e Lucas Zen. Tudo realizado da forma mais
organizada possível, com pariticipação intensa de todo o departamento de
futebol, sob o comando do gerente Anderson Barros e com a colaboração
determinante de Thiago Larghi e Marcelo Xavier, responsáveis pelas
análises de desempenho e estatística.
Seedorf está fora dessa cota pelo que representa até mesmo
comercialmente, mas os outros passaram por várias etapas antes da
viabilização financeira. O GLOBOESPORTE.COM teve acesso a trechos de um
dos relatórios básicos feitos pela comissão técnica. Depois de aprovado,
ainda há outro mais elaborado, com observação até in loco dos jogos,
dependendo da disponibilidade.
Relatório de análise de um jogador para a contratação pelo Botafogo (Foto: Análise e estatística do BFR)
Em uma das imagens disponíveis, o relatório mostra a variação de
posicionamento de um dos jogadores observados em uma série de sistemas
de jogo. Textualmente, são feitas avaliações físicas, mostrando uma
ficha técnica básica, com altura e desempenho na temporada mais próxima,
técnicas e táticas com as qualidades e defeitos em campo, e até mesmo
comportamentais, com histórico disciplinar e número de cartões
recebidos.
- Primeiro, definimos a necessidade, depois buscamos, em uma série de
opções, aqueles jogadores que atendam às características que precisamos.
Depois, analisamos as que são possíveis de operar. Assim, por exemplo,
se chega ao nome do Lodeiro. Então, estudamos um pouco mais, começamos a
entregar o trabalho ao centro de inteligência, até que emitam um
parecer favorável ou não. No caso do Lodeiro, é um jogador que vem em
uma crescente na carreira, com menos participações no Ajax, mas
consideramos uma série de variáveis e conversamos até na Holanda com
pessoas próximas a ele - explicou Anderson Barros.
Com a parte operacional, você minimiza os erros. Claro que eles acontecem, mas conseguimos pontuar bem nas contratações."
Autor
O leque de observação é grande. Segundo o dirigente, desde o mercado
nacional até o asiático, o Botafogo está de olho. Mas, apesar de todo o
estudo, cada contratação tem suas peculiaridades. Algumas duram mais
tempo, outras menos. Os caso de Lima, que o clube esperou desde janeiro,
e Yacob, que era um jogador livre e acabou acertando com o West
Bromwich, da Inglaterra, mostram as variáveis de uma negociação.
- Com a parte operacional, você minimiza os erros. Claro que eles
acontecem, mas conseguimos pontuar bem nas contratações. Trouxemos o
Brinner e o Lima, com quem tivemos paciência. São dois jogadores jovens,
com tempo maior de contrato, que podem precisar de mais tempo de
adaptação. Em algumas situações, pode ser mais rápido, mas temos sempre
três opções no mínimo. Agora, tínhamos um leque de oito zagueiros, mas
não conseguimos operacionar na época (Tanaka, do Nagoya Grampus). Às
vezes, você esbarra em outros aspectos que dificultam. Nem sempre é a
questão financeira - comentou Anderson.
Lima, Seedorf e Lodeiro são exemplos de jogadores livres contratados
pelo Botafogo. Anderson não trata os casos como uma tendência, apesar de
reconhecer a maior facilidade de negociação quando não há vínculo com o
clube. No entanto, os valores pagos nessas situações podem ser
equivalentes à multa recisória de um contrato.
Lodeiro (14) passou pela análise alvinegra antes
de ter sua contratação recomendada (Foto: AFP)
de ter sua contratação recomendada (Foto: AFP)
- Não tem saído muito mais barato. Com o Yacob, ficou caro. Para trazer
o Lodeiro, havia outras equipes tentando fazer a operação. Não dá para
dizer nesses casos que você compra os direitos econômicso, pois não há
vínculo. O jogador não tem como vender os direitos econômicos, pois eles
só podem ser vinculados a um clube, mas acaba precisando pagar ao
jogador - disse Anderson.
O trabalho da análise de desempenho também foi feito com o atacante
Rafael Marques, que veio do Omiya Ardija, do Japão, e tem recebido duras
críticas em seus primeiros jogos, sendo, inclusive, vaiado pela
torcida. No entanto, nesse caso, já havia a indicação direta do técnico
Oswaldo de Oliveira, o que levou o trabalho a ser feito de uma forma
mais conclusiva.
- A gente precisava de um atacante e houve uma indicação direta.
Passamos a acompanhar mais de perto e entregamos ao pessoal da análise,
que deu um parecer positivo. Operacionamos e fizemos a contratação -
comentou Anderson.
Trechos do relatório sobre um jogador observado - Análise de desempenho
Trechos do relatório sobre um jogador observado - Análise de desempenho
Análise | Detalhamento |
---|---|
FÍSICA | Jogador canhoto, 1,78m e com bom porte físico. Iniciou e terminou a maior parte dos jogos que disputou em 2011. |
TÉCNICA | Jogador habilidoso com a bola nos pés, com bom passe e proteção de bola. Possui técnica cadenciada e boa capacidade de finalização, inclusive com chute de fora da área. É um ótimo cobrador nas bolas paradas. |
TÁTICA | Apoia bem e tem iniciativa de chegar ao ataque. Pode tanto chegar ao fundo quanto entrar em diagonal em direção à área. Compõe bem a linha de quatro, e ocupa bem a zona. Apresentou deficiência de marcar o jogador ao invés da bola nas situações defensivas de cruzamento na área, o que é relativamente comum em jogadores jovens. Como volante ou meia aberto pela esquerda, faz ultrapassagens e se apresenta bem na entrada da área, com tendência de centralizar as jogadas. Mesmo assim, quando vai ao fundo centra bem. |
COMPORTAMENTAL | É um jogador jovem que mostrou ótima participação pelos clubes por onde passou. Em 2011, jogou 33 jogos, recebeu nove cartões amarelos e nenhum vermelho. |