Após drama, Marcelo Mattos renova esperanças: 'Sairei dessa mais forte'
Operado há oito dias, volante revela que estudou caso antes da decisão e ouve 'cobranças' da família para sair logo de casa: 'Nem eu me aguento'
Para um jogador como Marcelo Mattos,
que poderia ter a palavra competitivo no sobrenome, ficar fora de ação é
um momento ruim. Ter uma lesão que se alonga bem mais do que o esperado
e que o leva à mesa de cirurgia, então, já pode ser considerado um
drama. Desde o dia 9 de maio, o volante não defende o Botafogo.
Primeiro, era um edema na coxa direita, que, de certa forma, se alastrou
para o púbis. A dor não passou, o venceu em três tentativas de treinar
com bola e se transformou em um caso de difícil solução para o
departamento médico alvinegro. Tanto que, preocupado com o rumo de sua
temporada, ele estudou o problema e se "consultou" até com outros
companheiros.
- Li muito na internet, procurei saber detalhes do caso do Kleber
Gladiador, liguei para o Wellington Paulista... todos tiveram a mesma
lesão e operaram. Deu certo, resolveu. Até o Seedorf ajudou, se
interessou, ofereceu amigos para eu falar. Formei minha opinião junto ao
pessoal do Botafogo e chegamos à conclusão de que o tratamento poderia
não resolver. Era a última opção, mas preferi e foi melhor operar mesmo -
conta Marcelo Mattos, em entrevista concedida em sua casa três dias
após a cirurgia - hoje, o procedimento completa oito dias.
Marcelo Mattos se apoia na família para superar dificuldades (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
- Ia de 10% de dor até 90%, às vezes, o que me preocupava. Até para pôr
uma calça era difícil. Só tinha sofrido com uma fascite plantar (sola
do pé) e com as duas panturrilhas, que precisei fazer uma pequena
operação - lembra o jogador, de 28 anos, que ficou um tempo parado no
clube carioca quando, preso ao Panathinaikos, demorou mais de um mês
para acertar a renovação de contrato, no meio do ano passado. O vínculo
atual vai até o fim de 2016.
O curioso é que o envolvimento do agora camisa 30 do Glorioso - na
numeração definitiva, a 5 foi para Jadson - com traumas e analgésicos
vai muito além de sua carreira. Segundo ele, ao terminar o ensino médio,
no interior de São Paulo, houve um pacto com os amigos para cursar
fisioterapia, caso o futebol não decolasse. Alguns seguiram. Mattos,
não. A compreensão científica dos termos, no entanto, ficou para sempre e
impressiona.
- Meu adutor está inutilizado. Foi cortado, o que se chama tetonomia, e
separado dos tendões do púbis. Se alguém quiser, está sem serventia
(risos)... Não precisei de raspagem. É um procedimento como se faz com
um contrafilé. Gosto do assunto, até trouxe cama fisioterápica da Grécia
e outras coisas, mas só para guardar. Não pretendo me especializar
depois, não, vão ficar só as pequenas lesões que o futebol deixa -
afirmou, no costumeiro tom sereno.
Humor varia e 'perturba' família
O lado positivo dessa dificuldade seria a nova rotina: estar com os
filhos, com a esposa. Neste cenário, não. Como se cobra em demasia,
Marcelo Mattos não tem sido tão bem quisto em casa em tempo integral. Há
um coro para que ele volte aos campos o mais rapidamente possível por
um conjunto de razões. A previsão atual é de cerca de 45 dias.
- Peço pelo amor de Deus para ele voltar logo, porque o Marcelo se
cobra demais. Adoro ele em casa comigo, com os filhos. Mas vindo do
treino, cansado, fica mais bem-humorado. Assim, não é fácil. Ele vai dar
um jeitinho para resolver isso logo - diverte-se Maria Leide, mãe de
Maria Laura - enteada do marido -, de 12 anos, e Marcelo Antônio, de
cinco.
Mattos vê novos horizontes nos próximos meses
(Foto: André Casado / Globoesporte.com)
(Foto: André Casado / Globoesporte.com)
- Nem eu me aguento, meu humor varia muito. Um dia você está bem, no
outro chega estressado porque já dói de novo. Há alguns dias caiu o
salário na conta, e eu não estou no dia a dia para ajudar. Queria
trabalhar, me incomoda. Dá vontade de receber só quando puder jogar,
retribuir ao Botafogo. Márcio Azevedo fica me cobrando na brincadeira,
eu já não aguentava mais: "E aí, vai jogar sábado, Marcelo?". Cara chato
(risos) - conta.
O filho caçula faz o papel de fisioterapeuta no confortável apartamento
na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Quando não está com
as mãos no controle do videogame, faz questão de esticar e dobrar a
perna esquerda do pai, ainda sensível, em meio às risadas e à agitação.
O volante acredita que a condição dos gramados brasileiros é a maior
vilã para lesões deste tipo, ligadas ao impacto, mas não crê que esse
obstáculo o impedirá de se superar. Se não bastassem as dores físicas, a
mãe de Mattos faleceu em junho.
- Agora é só pensar em coisa nova. Foi tudo junto, mas não podia parar,
tenho uma família para cuidar. Meu pai, meu guerrerinho que ficou... É
um período de luta, mas agora vai vir a vitória. Estou saindo dessa bem
mais forte. Vou fazer meu trabalhinho até meus 35, 36 anos. Tinha um
treinador, que eu nem falo o nome, que não queria me botar num início de
temporada na Grécia. Eu dizia para mim: "ah, eu vou jogar". Não deu
outra. No primeiro jogo da Champions League, estava enfrentando o Inter
de Milão. Sempre com dignidade - ensinou.
Pequeno Marcelo Antônio ajuda no alongamento do pai (Foto: André Casado / Globoesporte.com)