Técnico há apenas algumas semanas, ex-goleiro revela que perdeu tudo por seu temperamento, mas agora tem de dar exemplo aos jogadores
Assumir o Duque de Caxias já na Taça Rio não estava nos planos de Eduardo Allax, que introduziu o sobrenome na transição de jogador para treinador. Com apenas 33 anos, o ex-goleiro, que teve passagens por clube como Atlético-MG, Botafogo e Naútico encara o desafio com a certeza de ter uma característica bem diferente de outras épocas. Na função, precisa controlar o temperamento, algo que, em sua carreira, jamais foi muito fácil, por conta de sua personalidade forte.
- Desde que saí do Atlético-MG (em 2008), já vinha mudando meu jeito, me enquadrando dentro do que é o futebol. Muitas vezes eu indagava, brigava pelo que acreditava, mas não sou eu que vou mudar as coisas. Hoje, só me concentro em treinar minha equipe. Me iludi com o futebol, me atrapalhei. Passo para a garotada que o que tem em volta, fama, dinheiro e até a covardia, faz parte. Não tem esse negócio de amizade, o que vale é o interesse. Sou mais consciente, a vida me amadureceu.
Saí do Bangu para o Atlético e comeceu a achar que eu era mais do que era, que virei o dono do time. Mas era só um goleiro. Não me meto em negociar jogador, falar com arbitragem, deixo tudo para a diretoria - afirmou, com sinceridade, o novo treinador do mercado, que encara o Botafogo, neste sábado, no Engenhão, com uma filosofia interessante.
Eduardo Allax observa partida do Duque: ele teve uma vitória, um empate e duas derrotas (Foto: Vitor Costa)
- Contra o Flamengo, pedi aos jogadores que não se defendessem apenas. Senão, eles ganhariam, mesmo com dificuldades, e nós não iríamos participar do jogo. Tenho time para isso, por isso não vou recuar da forma que se espera. E foi um jogo aberto (2 a 1), escalei três atacantes. Contra o Botafogo, também não vamos perder a ousadia em campo. Uma postura normal, de cuidados, mas de igual para igual. Se perdermos, não vou passar vergonha. Nosso sonho é a classificação, enquanto houver esperança, e ainda temos condições para isso - avisa.
O próprio Eduardo revela, sem esconder nada, que passou por análise com um psicólogo para mudar e ter condições de ser aceito e fazer sucesso na nova empreitada. Nesta semana, inclusive, ele passou por uma espécie de provação após um treinamento.
- Um dos meus melhores jogadores (zagueiro Jorge Felipe) teve a notícia de que não poderia jogar, pela pancada que levou na cabeça e o fez vomitar, no último jogo. Tive que segurar o instinto dele. Não tem jeito, é ordem médica. Mas ele tem a personalidade parecida com a minha. O medo que eles têm é a trairagem. Mas respeitam pela imagem de ex-jogador que eu tenho de pouco tempo atrás. Fiz cagada, só contra mim, nunca quis mal a ninguém. Perdi tudo no banco, fiquei zerado. Sobraram cicatrizes, mas agora estou zen - garante Eduardo.
A queda para a Série C do Brasileirão, em 2011, traumatizou alguns jogadores, acredita:
Eduardo Allax era auxiliar de Mário Marques e virou
treinador do Duque (Foto: Vitor Costa / Divulgação)
treinador do Duque (Foto: Vitor Costa / Divulgação)
- Eles demoraram a engrenar, muitos que ficaram perderam a confiança depois da má campanha. Ainda na dúvida sobre ser empresário ou treinador, Eduardo está animado, mas é cético:
- Não existe futuro certo no futebol. Vamos ver se fico até o fim do ano. Gostaria muito.
A aposentadoria precoce se deveu a um problema numa artéria do coração, quando estava no Figueirense. Meses depois, virou auxiliar de Mário Marques, que foi para o Goitacaz e abriu espaço para Eduardo Allax ter sua primeira chance. O Glorioso e o Duque se enfrentam às 16h, no Engenhão.