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Emoção: Gabriel lembra dificuldades e diz que jogaria Série B com orgulho

Com lágrimas nos olhos, volante lamenta queda do Bota. Um dos poucos que se salvaram no rebaixamento, atleta espera contato da nova diretoria para saber se fica

Por Rio de Janeiro
O apito final do árbitro na derrota do Botafogo para o Santos, domingo, na Vila Belmiro, foi como um golpe fatal para o volante Gabriel. O Glorioso estava rebaixado. Ele foi um dos que mais ficou abalado e, no caminho até o vestiário, com a camisa alvinegra cobrindo o rosto, chorou. O sentimento de fracasso tomou conta. Todo sacrifício não tinha surtido o efeito necessário. 


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Ainda muito triste com a ida do Bota para a Série B, Gabriel passou a segunda e terça-feira ao lado da família. É em casa que ele busca o conforto e a força para voltar ao trabalho. Domingo tem a última rodada, contra o Atlético-MG, mas a verdadeira missão será em 2015. Será necessário reerguer o clube, voltar para a elite.

Emocionado e com a voz embargada, o volante relembrou sua trajetória desde que chegou ao clube, ainda nos juniores, em 2011, e lamentou que o time não tenha conseguido manter o Botafogo na Primeira Divisão.

- Família, amigos... Nesse momento são os que estão do meu lado e sempre vão estar. Nos momentos bons e ruins. Já saíram lágrimas nas alegrias, consegui levar o Botafogo para a Libertadores. Sou muito grato a esse clube e estou muito feliz de vestir essa camisa. Fico emocionado. Sou um jogador que morei em Marechal Hermes na concentração e agora posso morar aqui junto da minha família. Foi o clube que me proporcionou isso - afirmou o jogador em sua casa, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Gabriel, Botafogo (Foto: Fred Huber)

Gabriel no condomínio onde mora, na zona oeste do Rio de Janeiro (Foto: Fred Huber)
Confira a entrevista completa com Gabriel:


GLOBOESPORTE.COM:
Apesar do rebaixamento, você conseguiu manter um bom nível de atuações e segue como o maior ladrão de bolas do Brasileiro - 99 contra 87 do colorado Willians. Com lida com estes dois sentimentos opostos?


GABRIEL: Difícil até de falar (emocionado). Estou triste por tudo o que aconteceu. Sou o maior ladrão de bolas, mas isso não vale de nada. Hoje, o Botafogo está rebaixado. Isso dói muito. Estou muito triste com essa situação. Até chorei um pouco quando o jogo acabou. Cheguei em 2011, com o clube na Série A, e agora passar por esse rebaixamento... Muito difícil. Tem que ser forte.

Hoje, o Botafogo está rebaixado. Isso dói muito. Estou muito triste com essa situação. Até chorei um pouco quando o jogo acabou. Cheguei em 2011, com o clube na Série A, e agora passar por esse rebaixamento... Muito difícil. Tem que ser forte.
Gabriel, volante do Botafogo

Qual imagina que será seu futuro? No Botafogo ou em outro clube?


Sou grato ao clube, tenho contrato até o fim de 2015. Não sei qual é o planejamento da nova diretoria, qual time que eles querem montar. Certamente terão mudanças. Estamos esperando. Se eu tiver que ficar, fico com orgulho. O Botafogo me deve salários, luvas... mas isso eu prefiro deixar de lado.


Seu contrato termina no fim de 2015. Já houve alguma conversa sobre a possibilidade de renovação?

Ainda não tivemos uma conversa individual. Ele (presidente) conversou com o grupo logo após as eleições e disse que está otimista para 2015. Vai montar um time competitivo para ganhar o Carioca e voltar para Série A. Me parece um cara do bem, assim como era o Maurício (Assumpção). Não tenho contra, me ajudou bastante no Botafogo. O Carlos Eduardo assumiu agora e o clube precisa começar do zero. Temos que respeitar essa coisa e ter um bom 2015. O que tínhamos que sofrer, já sofremos em 2014. Demos um passo para trás para darmos dois para frente.


Qual era o espírito da equipe na partida contra o Santos diante da necessidade de vencer e ainda torcer por outros resultados?


No sábado, os resultados nos ajudaram. Estávamos com uma última esperança, mas não conseguimos. Futebol tem disso. Temos que ser homens para assimilar isso. Tentamos com todas as nossas forças e limitações. Não foi suficiente, fica de aprendizado.


Como foi o vestiário pós-rebaixamento? Houve conversa entre os jogadores, algum dirigente falou?

Foi um clima de silêncio, tristeza, com cada um fazendo uma reflexão do que foi feito. Bem complicado. Esperamos o Jefferson, que tinha ido para o exame antidoping, para fazermos a nossa roda de oração. Pedimos que Deus nos desse conforto para termos forças. A viagem também foi o mesmo clima. Todos quietos. Era inevitável.


Como foi a decisão de retornar ao Rio de ônibus para evitar um possível contato com a torcida?


Os jogadores, comissão técnica e diretoria acharam que era a melhor forma. Mas foi uma viagem dolorosa, triste. Mas temos que ser fortes para sair dessa. A torcida nos apoiou bastante, até na reta final. Quando achamos que poderia ter alguma coisa diferente, continuaram a apoiar. Estavam do nosso lado, e isso é uma coisa que podemos levar para o ano que vem. Foi uma coisa positiva.

Gabriel, Botafogo (Foto: Fred Huber)Gabriel não sabe se permanece no Botafogo (Foto: Fred Huber)

O ano começou com otimismo por causa da disputa da Libertadores, mas depois da eliminação ainda na primeira fase tudo parece ter saído do rumo...


Foi um ano muito difícil. Começamos com o objetivo de ir bem na Libertadores, Brasileiro, já que em 2013 estávamos muito bem, mas o que acabou acontecendo não estava nos nossos planos. Foi um baque muito grande, o Botafogo não merecia isso pela grandeza que tem. Mas temos que ser homens e maduros o suficiente para fazer com que o clube volte para a Série A.


Os jogadores enfrentaram muitos problemas durante o Brasileiro, que acabaram abalando o emocional, como o atraso de salário, demissão de atletas e pressão da torcida. Qual momento que ficou claro que seria complicada a luta contra o rebaixamento?


Nós tivemos muitos problemas. Perdemos jogadores importantes. Mas os problemas tratamos sempre de forma clara, para que torcida ficasse sabendo o que estava acontecendo. Quando estávamos na zona de rebaixamento e tínhamos a chance de sair, não conseguíamos. A bola não entrava, batia na trave. Momento não foi favorável. Quando faltavam acho que 11 jogos para o fim, falamos entre nós que precisávamos vencer seis, pelo menos. Cenário já era difícil. Aí vencemos o Corinthians e nos animamos, mas depois começamos a tropeçar muito novamente e não conseguimos escapar. Agora a nova diretoria vai planejar tudo direitinho para o clube voltar forte para Série A.


Qual impacto que a demissão de Emerson, Bolívar, Edilson e Julio Cesar teve na equipe?

Nós não esperávamos o que aconteceu. Jamais. Eram jogadores, em tese, titulares do time. Foi uma grande surpresa. Tentamos encarar como um problema da diretoria individualmente com estes jogadores. Senão, teria que mandar todo mundo embora. Em campo, tentamos fazer nossa parte depois disso, mas não conseguimos emplacar duas, três vitórias seguidas. Tentamos de todos os jeitos, mas não conseguimos evitar.

E o que afetou no time a invasão dos torcedores ao treino no Engenhão?

Os torcedores invadiram o Engenhão em um dia de treino, de trabalho. Conversamos com eles reunidos na sala de imprensa. Eles falaram o que pensavam, e nós também. Não acho que atrapalhou. Lógico que estavam exaltados, até pelo momento da equipe no Brasileiro, são movidos a paixão. Foi uma conversa boa. Disseram que iam apoiar até o fim para tentarmos fugir do rebaixamento. Viam que o pior poderia acontecer. Nós demos a palavra de que faríamos de tudo para tentar fugir. Foi um susto a invasão, mas acabou que no fim ficou um sentimento bom de que iriam nos apoiar.


O atraso dos salários influenciou diretamente o desempenho dos jogadores em campo?

Desde que cheguei no clube, na base, nunca tinha tido problema com isso. Quando subi, em 2012, foram poucos atrasos. Em 2013 teve um pouco mais, passou de dois meses. A perda do Engenhão atrapalhou bastante, o clube ficou sem uma receita importante. Em 2014 é que foi o ápice dos salários atrasados, sempre beirando três meses na carteira e mais sete de direitos de imagem. A gente sabe que um dia vai receber e procuramos entender. Nunca fizemos corpo mole, nunca tiramos pé de dividida. A equipe de 2013 era superior, por isso que conseguimos os resultados positivos.


Quais devem ser as prioridades do Botafogo em 2015?

O primeiro objetivo é ser campeão carioca, assim como aconteceu em 2013, quando vencemos os dois turnos. Aquilo nos fortaleceu e conseguimos a vaga na Libertadores no Brasileiro. Depois, temos que voltar para Série A. Vamos ter um Botafogo renovado para, junto com a torcida, reerguermos o time. Será um ano de conquistas.


Você e o Jefferson são os mais admirados pela torcida. Acredita que pode ao lado dele se tornar um líder e referência da equipe nesta reestruturação?


Fico feliz com a identificação que a torcida tem comigo e com o Jefferson. Tenho 22 anos e sou bastante respeitado, isso é o reconhecimento do trabalho. Ainda não sei qual é o planejamento da diretoria para o ano que vem, se estou nos planos ou não. Se ficar, será com a maior honra, e se tiver que assumir um papel de liderança estarei preparado.