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Da volta atribulada ao pênalti perdido, Jobson desabafa: "Não sou monstro"

Com postura tranquila e suco de laranja, atacante relembra a polêmica com Mancini, chance contra Figueira e "coisas bem pesadas" do passado: "Foco é que Bota suba"

Por Rio de Janeiro
"Quer um suco de laranja? Psiu! Me vê dois, por favor. Cara, estou estressado (risos). Brincadeira, é que tenho um monte de coisas para fazer. Vou viajar hoje (terça-feira) para Brasília, tenho que comprar lembranças para a família, deixei o carro na revisão, e os caras ainda estão me enchendo o saco para jogar futevôlei... Mas vamos lá." Foi assim que Jobson chegou a um quiosque perto do Posto 1, no Leme, para uma entrevista ao GloboEsporte.com. Agitado como é de costume e de férias após um retorno conturbado ao Botafogo, o atacante deixou claro o seu planejamento para 2015: fazer o Alvinegro voltar à elite do futebol brasileiro (assista a trechos do papo no vídeo abaixo). Antes disso, porém, precisa reconquistar a confiança do torcedor.

VÍDEO AQUI.


Quando recebeu a notícia de que finalmente voltaria ao clube de General Severiano, depois de algumas dificuldades vividas no Al Ittihad no primeiro semestre de 2014, Jobson achou que estivesse sonhando. Mas o alívio por deixar a Arábia Saudita foi substituído por um período de incertezas no Rio de Janeiro. Retornar ao Brasil, de início, não significaria vestir a camisa alvinegra. A demissão do quarteto formado por Emerson Sheik, Bolívar, Edilson e Julio Cesar foi fator favorável, e, em meio à situação complicada no Campeonato Brasileiro, o treinador Vagner Mancini chegou a dizer que “o Botafogo precisa mais do Jobson do que o Jobson precisa dele".

 A briga pela autorização da CBF para entrar em campo foi pequena perto dos problemas que estavam por vir. O rebaixamento para a Série B deu um choque de realidade em Jobson. No entanto, fora dos gramados, ao contrário do que o "antigo Jobson" fazia, como o próprio atacante diz, ele estava comportado.

– É difícil explicar as polêmicas em que me meti antes. Hoje, acho difícil fazer o que eu fazia antes. Eram coisas bem pesadas, polêmicas mesmo. Agora não. Ando mais tranquilo. Mas me arrependo de muitas coisas que fiz no passado. Hoje não teria coragem de fazer, teria mais paciência e calma para não repetir os erros que possam prejudicar a minha carreira. Quero ser um bom exemplo, não exemplo ruim. Vou fazer o possível para tentar apagar a imagem das coisas que fiz no passado. Sou um ser humano normal, quem me conhece bem sabe que não sou esse monstro que as pessoas falam. A vida me ensinou. Está me ensinando, aliás – disse.

Jobson (Foto: Sofia Miranda)

Jobson espera ajudar o Botafogo a voltar à elite (Foto: Sofia Miranda)

Depois de um retorno abaixo das expectativas, passando por insegurança, pelo pênalti perdido contra o Figueirense e pela polêmica com Mancini, Jobson agora quer relaxar nas férias. "Vou fazer o que tiver que fazer", ele diz. Mas promete se cuidar e voltar com peso menor no início da pré-temporada – o contrato com o Botafogo vai até o meio do ano que vem.
– Estou fechado com o Fogão – resume.
Confira a entrevista com Jobson.

Como você classifica seu retorno ao Botafogo?
Pelo o que já joguei antes, em 2009, não foi muito bom. Esperava por coisas melhores. Não achei que foi bom, não. Poderia ter dado mais de mim. Mas na condição que o clube viveu esse ano, fica até difícil.

O que aconteceu, de fato, na Arábia? Pelo que você passou?
Foram problemas com o clube, iguais aos que já aconteceram aqui. Mas no Brasil dá para resolver. Estar longe da família é que é outra história, no país dos outros... Estar sozinho... Queria ir embora logo. O clube começou a não cumprir algumas coisas que tinha prometido, e tudo me desanimou. Depois teve o lance do passaporte, acabou sendo um desespero. Ainda bem que passou.

Todo mundo fala que você tem uma personalidade forte. Como é o Jobson hoje em dia? Como você se define?

Acho que tenho a cabeça melhor, totalmente diferente. Consigo enxergar coisas que não enxergava antes. Tenho paciência para pensar antes de tomar alguma atitude. Se eu tivesse isso antes, poderia estar melhor hoje em dia. Mas nunca é tarde para dar a volta por cima. Espero conseguir aqui no Botafogo o acesso à Série A no ano que vem, dar a volta por cima.


Sua carreira ficou marcada por casos de indisciplina. Em algum momento você já pensou em largar o futebol e viver a vida como bem entendesse?
Não. É difícil explicar as polêmicas em que me meti antes. Hoje, acho difícil fazer o que eu fazia antes. Eram coisas bem pesadas, polêmicas mesmo. Agora não. Ando mais tranquilo. Mas me arrependo de muitas coisas que fiz no passado. Hoje não teria coragem de fazer, teria mais paciência e calma para não repetir os erros que possam prejudicar a minha carreira.


Mas, independentemente das coisas erradas, você é uma pessoa que gosta de se divertir, de curtir com os seus amigos. Como você concilia essas coisas?
Isso ninguém vai tirar de mim. Podem falar o que for. Às vezes, as pessoas querem inventar um erro onde não tem. Vou para as minhas férias agora e vou curtir mesmo, fazer o que tiver que fazer. Gosto de curtir. Mas o momento disso é agora. Em 2015, o foco é fazer com que o Botafogo suba. Quero ficar, vou dar o sangue para ajudar o time a voltar à elite.

A sua decisão de morar em General Severiano foi para, de certa forma, frear a vida de agitação?
Não, não. Achei que o tempo seria curto até a reta final. Preferi ficar lá. Agora em janeiro vou para um apartamento. Quero trazer meu filho e minha família para me darem apoio moral.  

Aquele pênalti perdido contra o Figueirense ficou marcado nessa reta final. O que passou pela sua cabeça? Pensou que havia estragado tudo?
Cara, não vou falar que pipoquei, no termo do futebol. Qualquer jogador que pegasse a bola ali, até o mais experiente, poderia perder. Sabia que poderia ser o céu ou o inferno. Foi a segunda coisa, infelizmente. Não tenho muito como explicar. Se fizesse o gol, os jornais no dia seguinte só dariam “Jobson salvador voltou.” Infelizmente, não aconteceu. Já tinha falado que é uma coisa normal, todo mundo erra. Muitos já erraram, até mais feio do que eu. Vou te falar a verdade, a única coisa que ainda mexe comigo nas férias é aquele pênalti (relembre no vídeo abaixo). Vou dar um exemplo. Eu gosto muito de rede social, e muitos torcedores ficam me xingando no Instagram, me chamando de um monte de coisas. Mas os mesmos que estão me xingando espero que me aplaudam em 2015, porque nós vamos subir esse time. Volto a falar. O pênalti ficou na minha cabeça, mas espero um dia ter um momento desses novamente, com um desfecho positivo.

VÍDEO AQUI

E a discussão com o Mancini? O que aconteceu?

Foi um momento de desespero. Desespero pelo que o Botafogo vinha vivendo, pela necessidade de vencer aquele jogo. O Mancini veio falar daquela forma brava comigo, e eu revidei. Falei que não era assim, que ele tem que me respeitar. Não podia falar as coisas da forma como falou. Não sou mais criança. Mas rolou a discussão. Não quero entrar em detalhes. Respeito o Mancini, é um grande treinador e desejo toda a sorte do mundo para ele, se for continuar ou se for para outro lugar.

Você acha que há um clima favorável para o Mancini comandar o time em 2015? Aconteceu algum afastamento entre time e treinador na reta final?
Fica até difícil de falar. Mas acho que rolou o desgaste entre todos, tanto dele com a gente, como da gente com ele. Esse desgaste foi grande. Acho que a decisão vai depender até mais dele do que do clube. Como falei, desejo toda sorte. Ele é um grande treinador, e espero que possa desenvolver o bom trabalho que tem onde estiver.

Você chegou a ser ameaçado por torcedores?
Torcedores me xingaram, na realidade. Eles já tinham me xingado em Volta Redonda, contra o Atlético-PR. No jogo contra a Chapecoense, teve algum espertalhão que me ameaçou, falou algo assim, mas nem considero torcedor. Torcedor tem direito de torcer, mas de agredir não.

Sentiu medo quando retornou ao clube?
Insegurança, medo... (cantando o pagode “Céu e fé”, do Exaltasamba). Senti, sim, um pouco de medo. Uma ansiedade também. Achei que podia chegar aqui e dar a volta por cima de novo, fazer aquilo de 2009. Mas em 2009 eu estava muito melhor fisicamente. Hoje estou um pouco diferente. Quando você vê os vídeos de 2009, acha até que é uma criança subindo das categorias de base, voando. Minha volta não foi o que pensei, mas estou de cabeça erguida. Falei que ia curtir, mas também vou me cuidar nas férias, para voltar bem, com peso abaixo. Quero me firmar entre os titulares.

O que você fez para entrar no time principal? A demissão do quarteto, bem ou mal, ajudou?
A demissão acabou me favorecendo. O que fiz foi só treinar. Dei uma segurada na comida e me dediquei mais nos treinos. Pedia para treinar mais com o preparador físico, para entrar em forma mais rápido. Mas o tempo foi curto. Não fiz pré-temporada, nem nada. Quando cheguei, fiquei sem jogar. Agora vai ser diferente. Em 2015, já vou chegar junto com o grupo, jogar o Carioca. É outra história.

Você disputou algumas partidas no sacrifício?
Joguei. Isso não justifica o desempenho ruim que tivemos, ou os meus erros. Mas eu joguei machucado. Não só eu. Os doutores sabem o tamanho da lesão que tive, grau 2. Quando você tem uma lesão dessa, é difícil. Tem gente que não consegue andar. Preferi jogar para tentar ajudar.

O que vai fazer nas férias?
Agora eu vou para Brasília e buscar meu filho para irmos para Conceição do Araguaia, no Pará. Vamos ver minha família, minha mãe mora lá. Gosto muito de ir para lá. Fico mais tranquilo, pesco e saio um pouco do foco da mídia. Dá para ficar tranquilão. Aqui é f...

O que você fez, internamente, para fugir dos problemas do passado? Qual postura você adotou?
Quando vim para cá em 2012, o pessoal queria psicólogo, fulano, beltrano... Gente, isso é pura ilusão. Pode até ter alguém para ajudar, sim, mas não para mudar sua vida. Para mudar, você tem que tomar uma atitude. E atitude eu tomei. Você vai vivendo, apanhando e começa a saber qual caminho é o certo e qual é o errado. Hoje, quero ser um cara bom exemplo, não exemplo ruim. Vou fazer o possível para tentar apagar essa imagem de coisas que fiz no passado. Sou um ser humano normal, quem me conhece bem sabe que não sou esse monstro que as pessoas falam. A vida me ensinou. Está me ensinando, aliás.

*Estagiária, sob supervisão de Daniel Dutra e Janir Júnior