No reencontro do técnico rubro-negro com o ex-clube, ataque do Galo brilha na Arena do Jacaré. Rubro-Negro fica mais ameaçado de queda
Quase dois meses. Foi o tempo que a torcida do Atlético-MG esperou, ansiosa, para estar novamente frente a frente com Vanderlei Luxemburgo, agora no Flamengo. Olhos nos olhos, um ressentimento sem tamanho por parte dos atleticanos. Quando o técnico deixou Belo Horizonte, no fim de setembro, o Galo padecia na zona de rebaixamento do Brasileirão. Era um time fadado ao fracasso, com malas prontas para a Segunda Divisão. Não é mais. Apesar de estar melhor na tabela, foi o Flamengo quem saiu de campo abalado com o risco de queda. Neste sábado, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, pela 35ª rodada do Brasileirão, o sentimento dos mineiros foi de vingança e redenção. Já o dos rubro-negros foi de saudade dos tempos em que seu ataque fazia gols. O Galo impôs uma goleada de 4 a 1, impiedosa, em tom de desabafo. Foi, sem dúvida, uma vitória para Luxemburgo ver. A ameaça de rebaixamento ainda existe, mas a equipe sobe para a 14ª posição, com 39 pontos, e respira. O Fla é o 13º, com 40.
Obina e Diego Tardelli, ex-rubro-negros, fizeram um gol cada. Renan Oliveira, dispensado por Luxa, fez dois, desfilou talento, comandou a equipe. Dorival Júnior acertou ao buscá-lo de volta no Vitória. Marquinhos, o mais esforçado do Fla na etapa final, descontou.
O Rubro-Negro pode ser ultrapassado por Vitória e Atlético-GO neste domingo, no complemento da rodada. Luxa viu tudo atônito, armou um time sem criatividade e presença ofensiva no primeiro tempo. Tentou mudar no segundo, mas fracassou. Em oito jogos, duas vitórias, quatro empates e duas derrotas. Se o campeonato do Flamengo é diferente, como ele diz, está na hora de começar a disputá-lo.
O Flamengo volta a jogar no próximo sábado. O adversário será o Guarani, no Engenhão, às 19h30m. No domingo, o Atlético-MG visita o Palmeiras, às 17h, em Araraquara.
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Flashes para Luxa; Gols do Galo
Flashes, lentes e microfones apontados para o banco de reservas do Flamengo. Todos os olhos para Vanderlei Luxemburgo. O técnico ouviu tudo quanto é tipo de xingamento ao pé do ouvido. O banco de reservas da Arena do Jacaré fica a seis metros da tribuna. Com a costumeira elegância, permaneceu inabalável. Deu entrevistas, recebeu abraços de quase todos os ex-comandados, se emocionou. O jogo só poderia começar depois de tudo isso. Foi uma espécie de ritual.
Em campo, um Flamengo corajoso, mais disposto. Os rubro-negros não pareceram sentir o bafo dos atleticanos. Torcida colada no campo, aos berros. Luxa apostou na experiência de Petkovic para amenizar a pressão. Na frente, Diogo e Diego Maurício, a sexta formação de ataque diferente em oito jogos. Os cariocas tiveram mais campo, mais posse de bola. O problema foi que abusaram dos toques na frente da área. Toques que nunca davam em nada. A exceção foi um chute de Diogo, aos 15, que passou à esquerda de Renan Ribeiro.
O Galo decidiu encher o peito e ir à briga. Agrediu por todos os lados. Chegou com laterais, meias e atacantes. Diego Tardelli correu feito louco. Ora pela esquerda, ora pela direita. Aos 14, cruzou rasteiro, a bola passou na frente do gol de Lomba, à espera de uma boa alma que a chutasse. Faltou Tardelli por lá. O lance empolgou torcedores e jogadores. Pouco depois, Renan Oliveira encarou a marcação pelo meio e abriu para Leandro do lado esquerdo. Nem chute, nem cruzamento. Lomba espalmou pela linha de fundo.
O Flamengo passou a aceitar a pressão na tentativa de encaixar um contra-ataque. Pet sumido, Diego Maurício e Diogo isolados. Juan e Léo Moura até se apresentaram, mas foram pouco acionados. O Atlético não vacilou. Rafael Cruz tinha espaço pela direita, mas errou dois cruzamentos e começou a ser vaiado. O volante Zé Luís e o técnico Dorival Júnior pediram paciência aos torcedores.
Ao longo da semana, os rubro-negros elogiaram a dupla de ataque do Galo. Com Tardelli e Obina não se brinca. Os ex-rubro-negros comeram grama. Disputaram cada mínimo espaço com os zagueiros adversários. Fizeram a diferença. Diego Souza e Renan Oliveira também tentaram. Aos 30, o primeiro cabeceou quase da pequena área, e Lomba encaixou. Logo depois, aos 35, sob chuva, Renan Oliveira bateu colocado. Lomba não foi bem, deu rebote, e Obina guardou. No fundo, doeu no coração do Anjo Negro. Mesmo depois de deixar o clube pela porta de trás, no início deste ano, não houve comemoração. Mãos para o alto e pedidos de desculpas à torcida do Galo. Quem no estádio não o perdoaria? Não parou por aí. Aos 43, Obina lançou Renan Oliveira na área. Marcelo Lomba saiu mal do gol e chutou o ar. Renan, talentoso que é, livrou-se do goleiro com um toque sutil e completou: 2 a 0. Loucura na Arena do Jacaré. Luxemburgo não foi esquecido.
- Ôooo, o Luxa é só caô!
- Luxa do c......, a sua vida é só jogar baralho! – cantaram, em referência à suposta paixão do técnico pelo carteado.
Galo passeia, e Fla sofre
Luxemburgo fez todas as mudanças possíveis no intervalo. A experiência de Pet deixou de ser importante, e Guilherme Negueba, de 18 anos, entrou. Como a trinca de volantes não seria útil, Correa saiu para a entrada de Marquinhos. Val Baiano foi chamado para o lugar de Diego Maurício. Mais veloz e com o mínimo de presença de área, o Rubro-Negro melhorou, conseguiu trocar passes, ocupar o campo adversário e até ameaçar. Aos 9, a bola parada quase funcionou. Marquinhos cobrou escanteio, Ronaldo Angelim desviou na primeira trave, e Renan Ribeiro pegou. Negueba tentou de longe, mas o goleiro novamente esteve seguro.
À vontade, sossegado, o Galo poderia ter ampliado nos contra-ataques. Obina, Tardelli e Renan Oliveira foram sempre perigosos. O terceiro gol não saía por detalhe. Dorival também decidiu mudar. Diego Souza deu lugar a Ricardinho. Muitos torcedores do Flamengo chegaram atrasados ao estádio, na metade do segundo tempo. Devem ter se arrependido. Aos 23, viram Tardelli brincar. O atacante recebeu de Serginho do lado esquerdo da área, trouxe para o meio, cortou o marcador e bateu. Golaço: 3 a 0, fora o baile. Pouco depois, aos 25, Renan Oliveira roubou a bola quase no meio-campo, avançou, ganhou dos zagueiros e chegou em Lomba. O goleiro do Fla tentou afastar com um tapa, mas o garoto conseguiu deixar o quarto, segundo dele. Explosão de alegria em Sete Lagoas e gritos irônicos de “Ah, é Luxemburgo!”.
Apesar de atordoado, o Flamengo ainda teve forças para diminuir, aos 29. Marquinhos se livrou de Serginho dentro da área e acertou o ângulo. Gol que os atleticanos nem sentiram. Daí em diante, virou sessão de aplausos e gozações. Obina e Renan Oliveira foram substituídos e deixaram o campo aplaudidíssimos. Gritos de "olé" encerraram a noite que os torcedores do Atlético vão demorar a esquercer. Luxa também.
Renan Ribeiro, Rafael Cruz, Werley, Réver e Leandro; Zé Luís, Serginho, Renan Oliveira (Neto Berola) e Diego Souza (Ricardinho); Diego Tardelli e Obina (Mendez). | Marcelo Lomba, Léo Moura, Welinton, Ronaldo Angelim e Juan; Maldonado, Willians, Correa (Negueba) e Petkovic (Marquinhos); Diego Maurício (Val Baiano) e Diogo. |
Técnico: Dorival Júnior. | Técnico: Vanderlei Luxemburgo. |
Gols: Obina, aos 35, e Renan Oliveira, aos 43 do primeiro tempo. Diego Tardelli, aos 23, Renan Oliveira, aos 35, e Marquinhos, aos 29. | |
Cartões amarelos: Réver (Atlético-MG). | |
Estádio: Arena do Jacaré, em Sete Lagoas-MG. Data: 13/11/2010. Árbitro: Márcio Chagas da Silva (RS) Auxiliares: Altemir Hausmann (RS-FIFA) e por Júlio César Rodrigues Santos (RS). |