Brasileirão não recebe tão poucos torcedores desde 2006. Postulante ao título, Flu recebeu mais torcida no ano passado do que na atual temporada
Dezembro de 2009. Torcedores do Flamengo enfrentam uma verdadeira procissão para adquirir ingressos para a partida contra o Grêmio que, dias depois, daria o título brasileiro ao clube após 17 longos anos de espera. Enormes filas se alastram pelas ruas do Rio de Janeiro. Apaixonados de todo o Brasil pagam verdadeiras fortunas para ter a oportunidade de acompanhar a última batalha antes da realização de um sonho. Assim como os rubro-negros, tricolores no Rio de Janeiro, e atleticanos, em Minas Gerais, lotaram as arquibancadas na reta final da competição, elevando a média do campeonato a 17.808 pagantes por jogo. A maior desde a Copa União, em 1987.
Engenhão vazio: sem o Maracanã, torcida carioca começa a se acostumar aos poucos ao estádio (Foto: GLOBOESPORTE.COM)
Menos de uma temporada depois, porém, a situação é bem diferente. Após anos em processo de crescimento, a média de torcedores em jogos do Campeonato Brasileiro despencou. Seja pelo simples desinteresse da torcida, fato corriqueiro em anos de Copa do Mundo, ou pelas ausências do Maracanã e do Mineirão – palcos recordistas de público nas últimas edições – o certo é que ela caiu de quase 18 mil para um pouco mais de 14 mil (14.450) a três rodadas do fim da competição.
Os dois estádios, que estão em obras para a Copa do Mundo de 2014, realmente fazem falta. Juntos, em 2009, receberam todos os dez maiores públicos da competição. Na atual temporada, mesmo abertos durante uma pequena parte do Brasileirão, receberam seis dos dez jogos com mais torcedores.
Recordistas em 2009 sofrem em 2010
Sem os palcos onde costumam levar multidões, Flamengo e Atlético-MG têm médias inferiores a 50% em relação ao ano passado (veja na tabela abaixo). É evidente que os resultados dentro de campo também mudaram. Se no ano passado brigavam pelo título, atualmente a luta é contra o rebaixamento.
MÉDIAS DE 2009 | MÉDIAS DE 2010 |
---|---|
Flamengo 40.036 Atlético-MG 38.761 São Paulo 26.305 Fluminense 22.042 Cruzeiro 21.973 Corinthians 20.213 Palmeiras 18.425 Internacional 18.323 Sport 17.896 Grêmio 17.776 Coritiba 16.817 Atlético-PR 16.280 Botafogo 14.373 Náutico 13.863 Vitória 13.391 Goiás 11.944 Avaí 9.983 Santos 9.242 Santo André 4.796 Barueri 3.691 | Corinthians 26.591 Ceará 22.604 Fluminense 21.156 Botafogo 19.183 Grêmio 18.736 Flamengo 17.826 Internacional 17.305 Atlético-PR 16.723 Cruzeiro 16.056 São Paulo 15.011 Vasco 14.853 Vitória 13.596 Atlético-MG 13.047 Palmeiras 11.323 Santos 9.311 Avaí 8.535 Guarani 7.957 Goiás 7.036 Atlético-GO 6.677 Prudente 4.984 |
Em termos financeiros, o prejuízo também é grande. Pouca gente nos estádios, menos dinheiro nos caixas. O presidente do Atlético-MG, Alexandre Kallil, revela que o Galo perdeu muito sem o Mineirão, mas prefere não apontar a ausência do estádio como o principal culpado pela má fase.
- Sem o Mineirão, o Atlético-MG perdeu uma receita bruta de R$ 16 milhões. Lógico que vamos tentar reaver isso de alguma forma. O Atlético não vai pagar conta de Copa do Mundo. Vamos tentar um entendimento com o Governo do Estado e ver o que podemos fazer. É difícil usar isso como desculpa. O Cruzeiro está na mesma situação e chegou a disputar o título. É claro que a torcida do Atlético-MG é diferente. Mas é um clube de massa e sente mais a falta do Mineirão.
Já o assessor da presidência do Flamengo, Eduardo Moraes, credita a falta de público em jogos do Rubro-Negro ao mau momento do time. No entanto, não deixa de criticar o Engenhão em alguns aspectos, mas ressalta que o torcedor carioca terá de se acostumar ao estádio.
- O que mais atrapalha é a campanha do time. Com o Flamengo bem, a torcida enche qualquer estádio, seja o Maracanã, o Engenhão ou em Volta Redonda. O Engenhão tem o problema do acesso. Como que o cara consegue sair do trabalho para chegar ao estádio às 19h30? Mas o torcedor carioca vai ter de se acostumar. Maracanã só em 2013. E com Copa do Mundo e Olimpíadas, existe a burocracia de competições internacionais que não estamos acostumados. Até 2016, o Maracanã pode ser tirado dos clubes a qualquer momento.
MAIORES PÚBLICOS DE 2009 | MAIORES PÚBLICOS DE 2010 |
Flamengo 0 x 0 Goiás - 78.639 Flamengo 2 x 1 Grêmio - 78.639 Fla 2 x 0 Fluminense - 78.409 Flamengo 1 x 0 Santos - 77.063 Flamengo 2 x 1 Atlético-PR - 68.217 Flu 1 x 0 Palmeiras - 64.194 Atlético-MG 1 x 3 Fla - 63.385 Atlético-MG 1 x 0 Vitória - 57.901 Flamengo 2 x 1 São Paulo - 57.210 Atlético-MG 2 x 1 Flu - 55.713 *Todos os 10 maiores públicos de 2009 foram no Maracanã ou no Mineirão | Vasco 2 x 2 Fluminense - 76.205 Fluminense 3 x 0 Inter - 57.454 Flamengo 0 x 0 Vasco - 57.035 Ceará 2 x 0 São Paulo - 44.591 Ceará 0 x 0 Corinthians - 44.500 Ceará 2 x 2 Flamengo - 44.171 Grêmio 2 x 2 Internacional - 41.661 Flamengo 0 x 0 Santos - 41.007 Flu 3 x 1 Atlético/PR - 38.345 Cruzeiro 1 x 0 Corinthians - 37.377 *Mesmo interditados durante boa parte do campeonato, Maracanã e Mineirão receberam seis dos dez principais públicos |
Mesmo assim, a tese do mau desempenho nos gramados cai por terra quando constatado que o Fluminense, vice-líder do Brasileirão, tem média inferior à de 2009, quando brigou até a última rodada para não cair. O Tricolor ainda faz um jogo decisivo no Engenhão, contra o Guarani, na última rodada. No entanto, os números são muito aquém do esperado para um postulante ao título. Antes do fechamento do Maracanã, no início de setembro, o clube tinha a melhor média da competição. Agora, ocupa a terceira colocação, atrás de Corinthians e Ceará.
A boa novidade em 2010 fica por conta do Ceará. De volta à elite do futebol brasileiro após 16 anos, a torcida do Vozão encheu o Castelão durante todo o Brasileirão. Com a segunda melhor média do ano – atrás apenas do líder Corinthians -, o clube nordestino é responsável por três, das dez maiores públicos do campeonato. Outra curiosidade é a média de público do Grêmio Prudente. Mesmo com uma péssima campanha dentro de campo, o clube teve uma média superior a do ano passado, quando mandava os jogos em Barueri. Mesmo assim, tem a pior média entre os 20 participantes (veja na tabela acima).
Dos grande paulistas, só a média corintiana cresceu
Torcida do Timão é a a mais presente nos estádios
no Brasileirão 2010 (Foto: J F Diorio / Agência Estado)
no Brasileirão 2010 (Foto: J F Diorio / Agência Estado)
A média dos clubes paulistas, em sua maior parte, também caiu. No entanto, em São Paulo, o desempenho em campo parece ser primordial para a presença do torcedor nos estádios. Líder do Brasileirão, o Corinthans também é o clube que mais recebeu torcida na competição. Foram 26.591 torcedores, em média, nas partidas do Pacaembu, número muito superior ao de 2009 (20.213), quando o Timão - já classificado para a Libertadores – esteve apenas a passeio na competição.
Já o São Paulo, longe da briga do título pela primeira vez desde 2005, viu sua média cair em mais de 10 mil torcedores por jogo. O Palmeiras, por sua vez, sem o Palestra Itália, também recebeu menos torcida em 2010. O fato coincidiu com a campanha apenas regular do time na atual temporada, uma vez que em 2010 o Verdão brigou pelo título até a última rodada.
No Santos, mesmo com os ‘Meninos da Vila’ em alta, a média de público continua baixa e se manteve na casa dos 9 mil torcedores por jogo.