Thiago Lavinas
Rio de Janeiro
Romário voltou. O gol não saiu, mas o Baixinho cumpriu a promessa feita ao falecido pai, Edevair. Ele vestiu a camisa do América em uma partida oficial e ainda soltou o grito de campeão. Com a vitória por 2 a 0 sobre o Artsul, na noite desta quarta-feira, no estádio de Edson Passos (assista aos gols no vídeo ao lado), o América levantou com uma rodada de antecipação o título da Segunda Divisão do Campeonato Carioca. O tradicional clube não comemorava uma conquista há 27 anos. Em 1982, o América ganhou a Copa dos Campeões e a Taça Rio (segundo turno do Estadual).
Responsável pela administração do futebol do tradicional clube carioca, Romário assumiu a missão de reerguer o América para homenagear o pai, Edevair, torcedor fanático do América. E estava muito emocionado.
- Não preciso nem dizer que é um dia especial para mim, porque estou representando alguém que foi muito importante na minha vida. Meu pai não está aqui na arquibancada para me ver vestir a camisa do América, mas tenho certeza de que está me acompanhando lá do céu - disse o Baixinho.
Romário, que chegou de viagem de Madri nesta quarta-feira pela manhã, começou a partida no banco de reservas. Vestindo a tradicional camisa 11, o Baixinho estava inquieto. Balançava as pernas, mordia as unhas, passava a mão na cabeça. Ele só se acalmou aos 21 minutos quando o zagueiro Ciro, ex-Vasco, fez o primeiro gol do América. Na comemoração, o jogador correu para o banco de reservas para ser cumprimentado por Romário.
O estádio de Edson Passos recebeu um público razoável, mas menor do que o esperado. A forte chuva que caiu no Rio de Janeiro momentos antes da partida atrapalhou a chegada dos torcedores. Mas Jorginho, auxiliar técnico da seleção brasileira, apareceu para dar uma força ao Baixinho.
- É uma grande alegria para o futebol ver o que o Romário está fazendo com o América. Pena que eu não posso entrar em campo para dar um cruzamento para ele fazer um gol. De qualquer forma, o Baixinho mostrou que tem capacidade para isso (administrar o futebol do clube). Está até acordando cedo - brincou Jorginho.
Dona Lita, mãe de Romário, também estava presente na festa. Desde a partida contra o Sport, em que Romário fez o milésimo gol na carreira, ela não pisava em um estádio de futebol para assistir a uma partida.
- É uma missão que o pai deixou para ele. É um dia muito bonito para a gente. Desde o milésimo não vinha a um estádio e estou muito feliz - disse Dona Lita, que não acredita que o Baixinho vai disputar o Campeonato Carioca de 2010. - Não dá mais para ele continuar. Fazer uma partida assim, tudo bem. Até porque ele continua jogando as peladas todas as semanas. Mas um campeonato, não. O projeto agora é outro. Como avó, eu torço pelo sucesso do Romarinho.
Romário realiza o sonho do pai, seu Edevair: em campo com a camisa do América, e como campeão
Veio o segundo tempo da partida e Romário seguia no banco de reservas. Mas logo vibrou com o segundo gol do América marcado novamente pelo zagueiro Ciro, aos três minutos. O Baixinho se levantou, virou para a torcida e começou a bater no peito soltando um grito. Não demorou muito para a ansiedade aumentar.
- Romário vem aí, e o bicho vai pegar - gritava a torcida, que mostrava um boneco e uma bandeira em homenagem ao ídolo.
O Baixinho, então, começou o aquecimento atrás de um dos gols. E o grito que vinha da arquibancada mudou.
- Joga, Romário! Joga, Romário!
Acompanhado de Dona Ruth, tradicional torcedora do América, Romário entrou em campo aos 22 minutos no lugar de Adriano (assista ao vídeo ao lado). O goleiro Roberto, também ex-companheiro de Vasco, saiu correndo para dar a faixa de capitão para o Baixinho. O último jogo oficial de Romário tinha sido no dia 4 de novembro de 2007 na derrota do Vasco por 2 a 1 para o Internacional, em São Januário.
- Romário, eu te amo. Você veio para salvar o América - disse Dona Ruth, emocionada.
O Artsul estava com dois jogadores a menos, mas o América tinha dificuldades de criar chances de gol. Romário deu o primeiro chute aos 32 minutos. Após receber um bom passe na entrada da área, o Baixinho girou e tentou um toque de categoria por cobertura para encobrir o goleiro. Mas a bola foi para fora.
A segunda chance veio aos 36 minutos. Após uma confusão na área, a bola sobrou para Romário. O chute tinha o endereço certo, mas o zagueiro se jogou na frente da bola e conseguiu cortar. O gol não saiu. Mas o Baixinho, que balançou a rede 1.002 vezes ao longo da carreira, soltou mais uma vez o grito: "É campeão".
E, como sempre aconteceu em sua carreira, foi o centro das atenções após o apito final. Cercado por jornalistas, torcedores e reverenciado pelos companheiros de time, em meio a um princípio de confusão e empurra-empurra, Romário era o exemplo da grandeza do América. E com uma taça nas mãos, deu a volta olímpica para sacramentar o retorno do Mequinha ao lugar de onde não poderia ter saído. A torcida alvirrubra agradece. De coração.