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Maioria dos atletas diz que não bebe, não fuma e aprova concentração

Pesquisa dá a palavra aos jogadores do Brasileirão sobre temas polêmicos referentes a hábitos e preferências

 

Por Mariana Kneipp Rio de Janeiro

Apito final, hora de deixar o estádio. Para onde vai o jogador de futebol? O que faz em seu dia de folga? Uma pesquisa realizada pelo GLOBOESPORTE.COM e pela revista “Monet” com mais de 300 atletas que disputam o Brasileirão das séries A e B revela hábitos e preferências de quem lida diretamente com a paixão dos torcedores.

Grafico Habitos Jogadores (Foto: Infoesporte)

A comida preferida é arroz, feijão e bife (23,1%). O estilo musical mais ouvido é o pagode (28,1%). E um percentual de 96,7% dos entrevistados disseram que não fumam, e 69,2% não bebem. O atacante do Internacional e da Seleção Brasileira Leandro Damião está neste grupo.

- Não sei nem dizer se bebida interfere no meu desempenho em campo porque nunca bebo. Já vi alguns que tiveram problema, mas eu não tenho perigo de passar por isso. Às vezes a pessoa pode até se sentir bem, não influenciar. Mas eu não sou a favor de jogador beber. É melhor não arriscar - disse Damião.

Já Emerson acredita que o jogador que gosta de beber precisa se preocupar apenas com o excesso. O atacante do Corinthians não vê problema em tomar uma cerveja fora de dias de trabalho.

- Somos seres humanos iguais a todos e, nos momentos de folga e confraternizações, faz até bem. Mas é lógico que se não tiver limite atrapalha. Aliás, tudo na vida que não tem limite atrapalha.




Em entrevista recente ao programa Fantástico, da TV Globo, Adriano afirmou que "todo jogador bebe" e que "não consegue tomar apenas uma cervejinha em um churrasco". As declarações do atacante, hoje sem clube depois de rescindir com o Corinthians e ter de se submeter a uma cirurgia no tendão de Aquiles, geraram polêmica. O motivo pode ser explicado pelo consultor em psicologia no esporte e doutor em psicologia aplicada pela USP, Eduardo Cillo.

- Um atleta que bebe, fuma e exagera nas baladas pode prejudicar a sua própria performance ou o corpo, que é seu instrumento de trabalho. A sociedade associa isso a falta de compromisso, foco e seriedade. Não é à toa que assessores de imprensa tentam evitar que imagens dos jogadores em certas situações sejam divulgadas. Empresas não querem vincular suas marcas a atletas cujo comportamento produza dúvidas no grande público - afirmou Cillo.

A sociedade precisa de heróis, e os atletas representam isso no mundo moderno. Mas para que sejam mantidos em pedestais precisam exibir comportamento modelo"
Eduardo Cillo, especialista em psicologia do esporte
 
Na pesquisa, entre os 28,4% que disseram que bebem, 55,3% afirmaram que o fazem uma vez por semana, 28,2% falaram em duas vezes, 3,9% em três e 1% em quatro. Quanto ao cigarro, porém, o percentual foi avassalador. Somente 1,2% confirmaram que fumam.

Marcos, ex-goleiro do Palmeiras, fumou durante bom tempo na carreira. Porém, o jogador preferiu falar no assunto apenas depois de aposentado.

- Eu fumava. Parei. Não estava dando para jogar e fumar. O cigarro não é doping porque atrapalha o jogador, é um péssimo vício porque você fuma quando está feliz, triste, eufórico. Depois de uma derrota eu fumava uns quatro, cinco cigarros para aliviar a raiva - disse, em entrevista na última semana.

A pesquisa também abordou o aspecto da religião. Um percentual de 39,2% dos entrevistados responderam seguir a orientação católica, que foi seguida pela evangélica (33,8%) e cristã (6,8%). Apenas 1,2% disseram não ter preferência.

Maioria dos jogadores é a favor da concentração


A discussão sobre a importância da concentração entrou em pauta novamente depois que o elenco do Vasco decidiu não aderir à orientação em protesto contra os salários atrasados em janeiro deste ano, durante a disputa do Campeonato Carioca. Até o próprio presidente do clube, Roberto Dinamite, afirmou que aprova o fim da prática.

grafico_concentracao (Foto: Infoesporte)

Assim como os cruz-maltinos, Luis Fabiano não concorda com a concentração. Em entrevista ao programa "Bem, amigos", do SporTV, o atacante do São Paulo se mostrou contra a antecipação do tempo no hotel imposta pelo técnico Leão após a eliminação nas semifinais do Paulista.

- Venho de um lugar (jogou durante cinco anos no Sevilla, na Espanha) em que a concentração não existe. Mas cada time tem sua maneira de trabalhar e a gente tem de acatar. Aqui ainda não chegou a mentalidade do jogador europeu. Aqui a gente é obrigado a concentrar por alguns motivos e por algumas pessoas. Tem muito moleque solteiro... Enfim, essa é a mentalidade - concluiu o atacante.

A pesquisa da revista "Monet" e do GLOBOESPORTE.COM, no entanto, revela um dado curioso. Um percentual de 77,9% dos entrevistados são a favor da concentração. Um deles é Ramón, meia do Náutico. Ele foi um dos jogadores do elenco que foram pedir ao técnico Alexandre Gallo para antecipar o período de reclusão após a derrota no primeiro jogo das semifinais do Pernambucano, para o Sport. Depois de dois dias no hotel, o Timbu empatou a segunda partida em 0 a 0 e perdeu a vaga na final do estadual. Ramón não se arrepende da decisão.

Quem fez parte da pesquisa Quem não fez parte da pesquisa
América-RN, Atlético-GO, Atlético-MG, Atlético-PR,
Barueri, Boa
Esporte,
Botafogo,
Bragatino,
Ceará,
Corinthians,
Criciúma,
Flamengo, Fluminense,
Goiás, Guarani, Guaratinguetá, Náutico, Ponte
Preta,
Portuguesa,
Santos, São Caetano, São
Paulo e Sport
  ABC, América-MG, Avaí, Bahia, CRB, Cruzeiro, Figueirense, Grêmio, Internacional, Ipatinga,
Palmeiras, Vasco e Vitória. Até o fechamento desta matéria, não estavam cumputados os votos de ASA, Coritiba,
Joinville e Paraná, os últimos
a chegar

- Eu joguei por quatro anos e meio no CSKA (Rússia), e lá não tinha concentração para jogos em casa. Era complicado. Às vezes, você está com um familiar em casa, ele quer ver televisão, ouvir música, aí não deixa você dormir direito. No hotel, o jogador consegue descansar mais, tem uma alimentação balanceada, horários a cumprir, regras. Por isso, fui um dos que puxaram a ideia de ter uma concentração maior. Nosso time é muito unido, então ninguém discordou. Ficou o aprendizado - garantiu.

Ramón fala em regras do futebol além das quatro linhas. Boa alimentação, sono equilibrado, sem saídas à noite. O típico modelo de bom moço. Para o consultor em psicologia do esporte, Eduardo Cillo, a imagem construída pelo jogador vem direto dos torcedores.

- A sociedade precisa de heróis, e os atletas representam isso no mundo moderno. Mas para que sejam mantidos em pedestais precisam exibir comportamento modelo em relação a questões morais e éticas, ou seja, precisam ser capazes de fazer o que a maioria não consegue. Assim eles funcionam como fontes de esperança. Olhar para um herói caído na sarjeta é o mesmo que escancarar as nossas fragilidades e o medo de fracassar. A maioria de nós não quer olhar para isso.

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