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Crise dificulta sonho de jogar na Espanha, e brasileiros lotam Portugal

Pesquisa revela que o futebol lusitano já foi destino de 19% dos atletas que atuam no Brasileirão. Em 2011/12, brazucas representavam 31% da liga

 

Por Mariana Kneipp Rio de Janeiro

No alto do pódio da última Copa do Mundo, lá está a Espanha. No ranking dos melhores times do planeta, Barcelona e Real Madrid não dão nem sinal de que vão sair do topo. Nos gramados, Messi e Cristiano Ronaldo trilham seus caminhos para campanhas dignas da Bola de Ouro da Fifa. Com tantos atrativos, o país europeu não sai da cabeça dos jogadores brasileiros. Virou o grande sonho para a carreira. A realidade, porém, não é tão simples assim. A crise econômica se agravou, e a liga portuguesa virou a solução no exterior. Do total de atletas que entraram em campo na temporada 2011/12 no país lusitano, 31% eram brasileiros, de acordo com estatísticas do site português "Mais futebol".

O sonho dos brazucas com a Espanha, porém, não terminou. Em pesquisa realizada pelo GLOBOESPORTE.COM e pela revista "Monet" com mais de 300 atletas que disputam o Brasileirão das Séries A e B, um percentual de 39,6% deles apontou a liga espanhola como aquela em que mais desejam atuar, seguida pela italiana, com 20,6%, e pela inglesa, com 20,1%. Portugal, no entanto, foi o destino de 19,2% na vida real. A Espanha ficou em segundo lugar, com 7,1%, mesmo número da França.

grafico_Ligas (Foto: Infoesporte)

Não há dúvida de que o cenário financeiro do outro lado do oceano está ficando cada vez mais complicado. De acordo com um estudo da empresa de consultoria Pluri, publicado em dezembro de 2011, existem 1.063 brasileiros atuando fora do país. Na janela de transferências do inverno europeu (janeiro/2012), Portugal contratou apenas Danilo, que deixou o Santos para fechar com o Porto, e Xandão, ex-São Paulo, que foi para o Sporting.

Já a temporada da liga espanhola começou com somente 25 atletas brasileiros. Na janela, Henrique saiu do São Paulo para o Granada e Philippe Coutinho foi emprestado pelo Inter de Milão ao Espanyol. De saídas, teve Maxwell trocando o Barcelona pelo Paris Saint-German, da França.

Hulk gol Porto (Foto: Reuters) 
O atacante Hulk brilhou no Porto e chegou à
Seleção Brasileira (Foto: Reuters)
 
- O mercado espanhol não se movimentará muito nesta temporada. A situação econômica muito ruim do país fará com que os clubes gastem pouquíssimo dinheiro. Real Madrid e Barcelona farão poucas contratações. Se os outros clubes encontrarem um jogador muito barato no Brasil, o comprarão. Mas não vejo muitos vindo para a Espanha agora, e os rumores são de que os brasileiros importantes que atuam aqui devem seguir para outros clubes estrangeiros, como Kaká e Daniel Alves - disse Pablo San-Roman, jornalista da AFP espanhola.

Para o empresário espanhol Jose Fuentes, que trabalha com Luis Fabiano, ex-Sevilla e hoje no São Paulo, e Juninho Pernambucano, do Vasco, os brasileiros não podem ter preconceito com o futebol português.

- Quando meus clientes falam sobre a vontade de jogar no exterior, lembram só de Barcelona e Real Madrid. Eles pedem por esses. Se eu fosse jogador, também ia querer um dos dois. Acho que qualquer um diria o mesmo (risos). Mas, pelo alto nível técnico que a Espanha apresenta, claro que fica mais difícil a entrada de jogadores de qualquer país. Então, eu diria que se um atleta receber uma proposta de Portugal, é melhor ir, porque, se ainda não foi procurado por clubes espanhóis, dificilmente será naquele momento - afirmou Fuentes.

'Portugal é uma vitrine', diz jovem volante

Rodrigo Dantas meia Botafogo Portugal (Foto: SMG) 
Rodrigo Dantas (meio) comemora título
pelo Estoril (Foto: SMG/Divulgação)
 
Sonhar com a Espanha e acordar em Portugal não é tão ruim assim. Histórias de sucesso no país lusitano, como a do atacante Hulk, que chegou à Seleção Brasileira depois de ter sucesso no Porto, e do goleiro Helton, ex-Vasco e dono de oito títulos pelo mesmo clube, comprovam isso.

As trajetórias inspiraram Rodrigo Dantas, carioca de 22 anos, que tem contrato com o Botafogo, mas foi emprestado ao Estoril, clube que disputou a segunda divisão portuguesa na temporada 2011/12 e tem até um presidente brasileiro, Tiago Ribeiro. O volante ganhou seu espaço, e o time conquistou o título, subindo para a elite do futebol do país.

Quem fez parte da pesquisa Quem não fez parte da pesquisa
América-RN, Atlético-GO, Atlético-MG, Atlético-PR,
Barueri, Boa
Esporte,
Botafogo,
Bragatino,
Ceará,
Corinthians,
Criciúma,
Flamengo, Fluminense,
Goiás, Guarani, Guaratinguetá, Náutico, Ponte
Preta,
Portuguesa,
Santos, São Caetano, São
Paulo e Sport
   ABC, América-MG, Avaí, Bahia, CRB, Cruzeiro, Figueirense, Grêmio, Internacional, Ipatinga,
Palmeiras, Vasco e Vitória. Até o fechamento desta matéria, não estavam cumputados os votos de ASA, Coritiba,
Joinville e Paraná, os últimos
a chegar

- Em Portugal tem brasileiros em todas as divisões. Apesar de o país não passar por uma boa fase na economia, clubes como Benfica, Porto, Sporting e o meu, Estoril, cumprem tudo o que prometem, com salários em dia. Se fosse falar para os brasileiros, diria que podem vir de olhos fechados. Até porque, no Brasil, não tive muitas oportunidades, já aqui, subi com o time para a primeira divisão. Portugal é uma vitrine, tem muitos olheiros de outros países europeus. É uma chance de ir para frente - disse Rodrigo.

A falta de dinheiro de Portugal para investir em estrelas pode ser a chance que os brasileiros esperam. Para o jornalista do jornal lusitano "O Jogo" Sérgio Krithinas, a língua em comum também é um atrativo para jovens atletas.

- O crescimento econômico do Brasil e o empobrecimento de Portugal têm dificultado as contratações. Ainda assim, os brasileiros continuam a ser contratados por todos os clubes portugueses, embora estes tenham que procurar agora nas camadas jovens. Já há muitos brasileiros nas principais equipes sub-19 de Portugal. Falar a mesma língua é uma ajuda imensa, porque eles chegam e estão prontos para jogar. Então, eu diria que os brasileiros continuam a chegar, e Portugal ainda é a porta favorita, mas é cada vez mais difícil contratar craques. Esses vão diretamente para países mais ricos - concluiu.

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