Carlos Arthur Nuzman recebe apoio de 24 confederações para completar 21 anos no comando
Claudio Nogueira
RIO - Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. E, apesar de Carlos Arthur Nuzman, presidente ao mesmo tempo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio-2016, ter recebido, no último dia 26, o apoio de 24 confederações presentes a uma reunião do COB, para que se mantenha no órgão até 2016 — 21 anos no poder —, nem todos concordam.
Um dos poucos a criticar é Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM). Ele elabora um documento pedindo mudanças no COB.
Robin Hood ao contrário
Nuzman teve a reeleição assegurada no dia 26, por iniciativa do seu sucessor na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Ary Graça. A eleição, porém, ainda será formalizada. Na carta de Alaor, da CBTM, o primeiro ponto diz respeito à distribuição das verbas da Lei Agnelo/Piva, que direciona ao esporte recursos das loterias federais. Segundo Alaor, o COB se baseia em valores de 2010, sem levar em conta que a cada ano a arrecadação cresce em 20%.
— O dinheiro que sobra vai para um fundo, mas as confederações precisam de dinheiro já, para 2012 e 2016 — afirmou Alaor. — Este fundo cresce mais e mais e quase empata com o que é distribuído. Na CBTM, o aumento de 2011 para 2012 deve ser de R$ 2,3 milhões para R$ 2,5 milhões. Nem 10%.
O dirigente da CBTM pede um diagnóstico das necessidades de cada confederação.
— O ideal seria no mínimo cada confederação receber R$ 3,5 milhões de estatais e da Agnelo/Piva. Mas a Confederação de Desportes no Gelo leva R$ 500 mil/ano — explicou. — A lei é um Robin Hood ao contrário. Tira dos mais pobres para os mais ricos. Vivemos em "ChiLeoa": ricas na China, e pobres em Serra Leoa.
O sistema eleitoral do COB é outro ponto criticado. Nuzman, que assumiu em 1995, prometendo fazer do país uma potência olímpica em oito anos, completará, em 2016, 21 anos no poder.
— O COI estipula 12 anos e limite de idade até 70, tanto que Nuzman, que fará 70 anos em março, terá de sair. Há uma parcela descontente e silenciosa. Como a maioria depende financeiramente da Lei Agnelo/Piva, é difícil discordar, pelo receio de ter recursos cortados — afirmou Alaor, que não pôde ficar até o fim da reunião por ter viagem marcada.
Na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o presidente Ricardo Teixeira, que reassumiu ontem, após licença, disse ao diretor de imprensa, Rodrigo Paiva, que só soubera dessa reunião ontem, por meio de Paiva.
O COB divulgou nota, explicando que a manifestação a favor de Nuzman ocorreu na reunião mensal de trabalho sobre Rio-2016, visita do COB ao Crystal Palace (CT do Brasil para 2012) e uniformes. Nos assuntos gerais, o presidente afirmou que gostaria de permanecer até 2016, acrescentando que o COI informara ser inverídica a notícia de que se oporia ao fato de Nuzman dirigir o COB e a Rio-2016. Diante disso, Ary Graça propôs mais quatro anos para Nuzman.
Por meio de sua assessoria, o COB informou que não divulgaria os nomes dos 24 dirigentes que apoiaram a reeleição.
A polêmica teve início durante o Pan de Guadalajara, em outubro. O COI estaria contrário ao acúmulo de cargos. Dirigentes pediram a Ary Graça que sucedesse Nuzman. Ary respondeu que só seria candidato se o amigo não o fosse. Quando Nuzman afirmou que o COI não se opunha ao acúmulo de cargos, Ary propôs a reeleição.