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Maioridade na perpetuação do poder no COB

Carlos Arthur Nuzman recebe apoio de 24 confederações para completar 21 anos no comando

Claudio Nogueira

Carlos Arthur Nuzman vai completar 21 anos no poder do COB
Foto: Olivier Morin / AFP
Carlos Arthur Nuzman vai completar 21 anos no poder do COB Olivier Morin / AFP
RIO - Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. E, apesar de Carlos Arthur Nuzman, presidente ao mesmo tempo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio-2016, ter recebido, no último dia 26, o apoio de 24 confederações presentes a uma reunião do COB, para que se mantenha no órgão até 2016 — 21 anos no poder —, nem todos concordam.

Um dos poucos a criticar é Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM). Ele elabora um documento pedindo mudanças no COB.

Robin Hood ao contrário

Nuzman teve a reeleição assegurada no dia 26, por iniciativa do seu sucessor na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Ary Graça. A eleição, porém, ainda será formalizada. Na carta de Alaor, da CBTM, o primeiro ponto diz respeito à distribuição das verbas da Lei Agnelo/Piva, que direciona ao esporte recursos das loterias federais. Segundo Alaor, o COB se baseia em valores de 2010, sem levar em conta que a cada ano a arrecadação cresce em 20%.

— O dinheiro que sobra vai para um fundo, mas as confederações precisam de dinheiro já, para 2012 e 2016 — afirmou Alaor. — Este fundo cresce mais e mais e quase empata com o que é distribuído. Na CBTM, o aumento de 2011 para 2012 deve ser de R$ 2,3 milhões para R$ 2,5 milhões. Nem 10%.

O dirigente da CBTM pede um diagnóstico das necessidades de cada confederação.

— O ideal seria no mínimo cada confederação receber R$ 3,5 milhões de estatais e da Agnelo/Piva. Mas a Confederação de Desportes no Gelo leva R$ 500 mil/ano — explicou. — A lei é um Robin Hood ao contrário. Tira dos mais pobres para os mais ricos. Vivemos em "ChiLeoa": ricas na China, e pobres em Serra Leoa.

O sistema eleitoral do COB é outro ponto criticado. Nuzman, que assumiu em 1995, prometendo fazer do país uma potência olímpica em oito anos, completará, em 2016, 21 anos no poder.

— O COI estipula 12 anos e limite de idade até 70, tanto que Nuzman, que fará 70 anos em março, terá de sair. Há uma parcela descontente e silenciosa. Como a maioria depende financeiramente da Lei Agnelo/Piva, é difícil discordar, pelo receio de ter recursos cortados — afirmou Alaor, que não pôde ficar até o fim da reunião por ter viagem marcada.
Na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o presidente Ricardo Teixeira, que reassumiu ontem, após licença, disse ao diretor de imprensa, Rodrigo Paiva, que só soubera dessa reunião ontem, por meio de Paiva.

O COB divulgou nota, explicando que a manifestação a favor de Nuzman ocorreu na reunião mensal de trabalho sobre Rio-2016, visita do COB ao Crystal Palace (CT do Brasil para 2012) e uniformes. Nos assuntos gerais, o presidente afirmou que gostaria de permanecer até 2016, acrescentando que o COI informara ser inverídica a notícia de que se oporia ao fato de Nuzman dirigir o COB e a Rio-2016. Diante disso, Ary Graça propôs mais quatro anos para Nuzman.

Por meio de sua assessoria, o COB informou que não divulgaria os nomes dos 24 dirigentes que apoiaram a reeleição.

A polêmica teve início durante o Pan de Guadalajara, em outubro. O COI estaria contrário ao acúmulo de cargos. Dirigentes pediram a Ary Graça que sucedesse Nuzman. Ary respondeu que só seria candidato se o amigo não o fosse. Quando Nuzman afirmou que o COI não se opunha ao acúmulo de cargos, Ary propôs a reeleição.