Não foi um grande jogo, mas teve a dramaticidade final que uma semifinal merece. Botafogo e Fluminense fizeram um duelo feio, truncado, pegado, marcado e com poucas chances de gol. Tensão, sobrou. Havia adrenalina, pressão e doação. Faltava contundência ofensiva, poder de decisão, um raio criativo para desmontar tantos obstáculos em campo. Com tantas adversidades, sobrou uma rara certeza: os tricolores jogaram, quiseram e procuraram mais a vitória. Ocuparam mais os espaços limitados que o clássico oferecia.
O Fluminense teve mais posse de bola, ousadia e capacidade de transformação diante de um obediente e cauteloso grupo alvinegro, que arriscou pouco demais para quem pretendia chegar à decisão com o Vasco. O empate final levou o confronto aos pênaltis. E ali surgiu um herói nem tão improvável assim: Diego Cavalieri cresceu diante do mítico Loco Abreu, fez a defesa definitiva e, pelo menos até domingo, viverá dias reais. Prêmio para um goleiro que, mesmo com algumas idas-e-vindas, tem lastro e sobriedade para a posição. Méritos para o que o Fluminense fez em campo. Não foi dono de uma atuação espetacular, mas sempre apostou mais alto do que o adversário.
A recuperação do Fluminense no segundo tempo, após sofrer o gol de Elkeson aos 29 minutos, representou bem o fôlego para a retomada que os jogadores tiveram para dar a volta por cima na campanha da Taça Guanabara. Sobre o gol alvinegro, importante dizer que foi o único contra-ataque bem articulado pelo Botafogo em todo jogo. Herrera aproveitou o erro na linha do impedimento e empatou. Faltavam pouco mais de 15 minutos. Os tricolores baquearam, mas não perderam a força para manter a pressão. E, em outro erro da linha-burra, Márcio Azevedo esqueceu de sair, permitindo a conclusão de Leandro Eusébio. Nos pênaltis, a força e maior confiança mostrada pelo Flu no jogo todo se fez presente (e justa).
Faltou mais ousadia ao Botafogo. E para a final da Taça Guanabara sobrará história. Confronto entre o Vasco, 100% de aproveitamento e melhor time da competição até agora, e o Fluminense, dado como morto na quinta rodada e que, com duas vitórias seguidas (Americano e Bangu) e domínio de jogo (e de campo) na semifinal marcou uma recuperação que equilibra de vez a decisão.
Não há favorito. Não há vantagem. Não há passado remoto nem retrospecto recente que faça alguma diferença ou trace perspectiva. Vasco e Fluminense chegam à final da Taça GB por vias transversas e com atalhos de histórias saborosas. Venceram até inimigos em casa, em suas respectivas trincheiras. Assumiram riscos. E derrubaram paradões. Falta a última eliminação. Que não será menos heróica. Final entre grandes de verdade e que souberam valorizar o status. Novas histórias estão por vir. Seria perfeitos se fosse sempre assim.