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Mais de 20 técnicos perdem o emprego logo no início da temporada 2010

Hélio dos Anjos acha normal, Candinho Farias (ex-Catanduvense) culpa a má qualidade dos atletas, enquanto Lisca (ex-Porto Alegre) pediu para sair

Rodrigo Breves e Thiago Fernandes
Rio de Janeiro


Hélio dos Anjos e Estevam Soares já perderam os empregos em Goiás e Botafogo em 2010 Ano novo, hábitos antigos. Demitir treinadores logo no início da competição não foi uma decisão tomada apenas por Botafogo e Goiás, que dispensaram Estevam Soares e Hélio dos Anjos, respectivamente. Outros 22 técnicos perderam seus empregos com poucas rodadas se contarmos as equipes que disputam os seguintes Estaduais: Paulistão (Séries A-1 e A-2), Carioca, Mineiro, Gaúcho, Paranaense, Catarinense, Pernambucano, Baiano e Goiano.

O Esmeraldino, por sinal, começou mal a temporada e três derrotas seguidas custaram o emprego de Hélio dos Anjos após um ano e meio no cargo. O experiente treinador lembrou que perdeu sete titulares como Julio Cesar, Iarley e Fernando, que foram para Fluminense, Corinthians e Flamengo, mas isso não sensibilizou a diretoria a esperar a remontagem do elenco.

- Em se tratando do futebol brasileiro, acho isso normal. Não devia ser natural, mas é. Em um clube como o Goiás, que ficou dois anos lutando contra o rebaixamento e sem ganhar o Estadual, há um desgaste para você fazer ele crescer. Foram dois Campeonatos Brasileiros tranquilos e um título goiano enquanto eu comandei o time. Não tenho nenhuma mágoa. São mais de 300 jogos, com sete títulos. Tenho um respeito muito grande pelo clube - disse Hélio ao GLOBOESPORTE.COM, por telefone.


Divulgação/Site oficial

Candinho Farias passou pelo Guaratinguetá no ano passado, onde também acabou demitido Em Goiás, só Hélio dos Anjos foi dispensado entre os clubes da elite, por enquanto, mas em outros estados a coisa é bem diferente. Em São Paulo, por exemplo, se ninguém foi demitido na Série A-1, 40% das equipes da Segundona paulista já trocaram de técnico. Foram nove mudanças, sendo que apenas uma delas foi decisão do técnico. O União Barbarense já demitiu dois profissionais em cinco rodadas. Um dos últimos a ser dispensado foi Candinho Farias, que estava no Catanduvense. O treinador acha que a rotatividade no emprego passa pela baixa qualidade dos atletas.

- Quando o dirigente precisa dar uma satisfação ao torcedor, o treinador vira o culpado pelos problemas. Mas a verdade é que a qualidade dos atletas caiu muito. Os times estão equilibrados por baixo. Mesmo na Copa São Paulo de Juniores, com 91 equipes brasileiras, você não consegue juntar 20 jogadores promissores. Além disso, os atletas estão subindo muito novos e sem fundamentos. Alguns treinadores são vítimas da má formação na base - explicou Candinho, também por telefone.

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Para provar a sua teoria, ele cita os números da sua passagem relâmpago pelo Catanduvense, em que obteve duas vitórias e três derrotas.

- No meu caso, você vê o histórico de finalização do Catanduvense nos últimos três jogos e comprova o que estou falando. Contra o Atlético Sorocaba (vitória por 1 a 0), foram 11 finalizações no segundo tempo e fizemos um gol apenas. Diante do América (derrota por 3 a 1), tivemos seis oportunidades nos primeiros 20 minutos e nada. E na partida frente ao Flamengo de Guarulhos, a equipe teve 15 situações claras de gol e perdemos por 1 a 0 com um gol de pênalti aos 49 do segundo tempo - contou, afirmando ainda que rejeitou duas propostas enquanto estava empregado por lealdade ao projeto da Catanduvense, mas, por ora, prefere parar um pouco e ir pescar.

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No Rio, Estevam Soares não foi o único demitido. O Bangu também dispensou Marcelo Buarque após quatro derrotas em quatro jogos. E ele mesmo entrou no Resende. Em Minas, nem foram precisas "tantas" rodadas para acontecerem as primeiras dispensas. Com apenas um jogo na temporada, duas equipes demitiram seus comandantes. Paulo Roberto dos Santos perdeu a sua posição numa derrota em casa, por 3 a 0, para o Uberaba. Já o Ipatinga perdeu pelo placar de 1 a 0 para o Tupi, no campo do adversário. Resultado normal? Não para a diretoria que decidiu pela saída de Flávio Lopes.

Já no Rio Grande do Sul, a situação foi um pouco diferente. Após cobrar por um bom tempo mais reforços e estrutura de trabalho no Porto Alegre, caçula na Primeira Divisão, o técnico Lisca se cansou com as três derrotas em três partidas (assista aos gols da derrota por 5 a 4 para o Caxias, o último dele no cargo). O treinador, que dirigiu o time no inédito acesso, deixou de acreditar que era possível livrar a equipe da capital do rebaixamento, se não acontecessem mudanças radicais, que a diretoria aparentemente não se mostrou disposta a realizar.

- A gente tinha um planejamento que não foi executado pela diretoria. Por isso, pedi para deixar o clube. Meu caso é um pouco diferente da maioria já que estou até pagando aviso prévio, porque o Assis (presidente do clube e irmão de Ronaldinho Gaúcho) não me liberou. Mas acho que as demissões são tão comuns por uma falta de planejamento. Os dirigentes já querem avaliar todo um trabalho até mesmo no meio de um jogo. Três meses é o mínimo para um treinador fazer o grupo assimilar o que ele está pedindo. Se ficar trocando de técnico vira loteria - afirmou Lisca, por telefone, de Florianópolis, onde está descansando com a família.

O Gauchão teve mais uma mudança com a saída de Celso Freitas do Esportivo. Na vizinha Santa Catarina, um dos principais clubes começou mal: o Criciúma. Itamar Sulle não resistiu no cargo. No Paraná, até o momento, ainda não ocorreu nenhuma mudança de treinador. No Nordeste, por outro lado, as mudanças se acumulam na Bahia, onde quatro já perderam o emprego, e em Pernambuco, que contabiliza três demissões. Nos Estaduais observados, quatro técnicos ainda deixaram o emprego por uma outra proposta. Essas saídas aconteceram no Boavista-RJ, Juventus-SC, Rio Preto-SP e Cabense-PE.