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De contestado a herói, Caio Jr. volta ao Paraná em estreia pelo Botafogo

Treinador comanda Alvinegro pela primeira vez contra o clube que o projetou, mas no qual chegou sob desconfiança, ainda jogador

Por Gustavo Rotstein e Luciano Balarotti Curitiba
Caio Junior é apresentado no Botafogo (Foto: Fernando Maia / Agência O Gobo) 
Caio Junior no Botafogo: agora rival do Paraná
(Foto: Fernando Maia / Agência O Gobo)
O confronto entre Paraná Clube e Botafogo, nesta quarta-feira, às 19h30m, na Vila Capanema, marca uma estreia e um reencontro. Nos dois casos, o protagonista é o técnico Caio Júnior, que dirige pela primeira vez o Alvinegro exatamente contra a equipe que lhe deu projeção nacional.

Paranaense de Cascavel, Caio Júnior se destacou como jogador no Grêmio e nos portugueses Vitória de Guimarães, Estrela da Amadora e Belenenses antes de defender o Paraná em 1997, marcando o gol do pentacampeonato estadual. Depois disso, já como treinador, Caio teve duas passagens no Tricolor. Na primeira, herdou o cargo do experiente Otacílio Gonçalves, de quem era auxiliar, comandando a equipe em dez jogos do Campeonato Brasileiro de 2002. Neste breve período, viu o time vencer quatro jogos, empatar dois e perder outros quatro, escapando do rebaixamento para a Série B.

Antes de voltar ao clube, quatro anos depois, Caio Júnior protagonizou uma das maiores zebras da história da Copa do Brasil, em 2005. O treinador comandou o modesto Cianorte na surpreendente vitória por 3 a 0 sobre o poderoso Corinthians, do técnico Daniel Passarella e do atacante Tévez. Mas viu o sonho acabar com a derrota no jogo de volta, por 5 a 1.

Credenciado por esta quase façanha, o treinador assumiu novamente o Paraná em 2006, levando a equipe ao quinto lugar do Brasileirão, garantindo uma vaga na Libertadores da América do ano seguinte. Sob o comando de Caio, o time disputou 38 jogos, venceu 18, empatou seis e perdeu 14. Números que despertaram o interesse do Palmeiras, que contratou o técnico para a temporada de 2007. Depois disso vieram passagens por Goiás, Flamengo, Vissel Kobe, do Japão, e Al Gharafa, do Catar, antes da recente chegada ao Botafogo.

Muito ligado ao clube paranaense, o técnico lembra com carinho de suas três passagens pelo agora rival na Copa do Brasil. Na primeira experiência, sofreu com as cobranças de uma torcida então acostumada com títulos.

- Minha história com o Paraná é marcante. Em 1997, fui o único jogador contratado para o Campeonato Paranaense e cheguei sob desconfiança, pois era considerado um veterano. Mas fiz o gol que deu ao clube o pentacampeonato estadual.

Após deixar os gramados, em 1999, Caio foi auxiliar técnico em alguns clubes antes de assumir o comando do time júnior do Paraná. Em dois meses de trabalho, foi chamado para ajudar Otacílio Gonçalves na equipe principal para em seguida herdar o comando técnico da equipe.
O Paraná foi quem abriu as portas para a minha carreira como treinador"
Caio Jr
 
- O Paraná foi quem abriu as portas para a minha carreira como treinador. Em 2002 assumi a equipe de juniores e depois os profissionais nos últimos dez jogos do Brasileirão daquele ano. A equipe lutava contra o rebaixamento, mas conseguimos nos livrar. Em 2006, fui o técnico da equipe que conseguiu a classificação para a Libertadores pela primeira vez na história.

Por todo este envolvimento emocional, Caio se diz muito feliz por estrear em sua nova equipe em um estádio que conhece muito bem.

- Essa minha estreia pelo Botafogo na Vila Capanema será como uma homenagem, como se eu estivesse em casa, em um lugar onde as pessoas me respeitam. Curitiba é a cidade que me acolheu e onde decidi morar com minha família. Independentemente do resultado, o público estará feliz por ver minha evolução como treinador desde que trabalhei no Paraná Clube pela última vez. Mas acho difícil conseguir não ser visto como um adversário - observou.

 Portas abertas na Vila Capanema

A satisfação com o reencontro é recíproca. Ao menos para os integrantes da comissão técnica paranista que já trabalharam com Caio Júnior. Auxiliar de Ricardo Pinto, o ex-zagueiro Ageu Gonçalves, atleta que mais vezes vestiu a camisa tricolor - foram 354 jogos – jogou ao lado de Caio na campanha do pentacampeonato paranaense e se tronou amigo do agora treinador.

- Sempre é bom a gente poder encontrar pessoas com quem trabalhou. Ainda mais uma pessoa que como atleta foi um profissional de primeira linha, sempre procurou fazer o melhor pelo clube, principalmente no Paraná, pelo qual fomos campeões juntos em 97. Quando o Caio chegou ao clube já era um atleta experiente e trouxe melhoras na parte técnica e de comportamento. Aprendi muito com ele, primeiro como atleta e depois quando ele foi meu treinador no Juventude. Só posso agradecer pelo que aprendi com ele como comandante, até porque estou começando uma carreira como treinador.

renato secco preparador goleiros parana clube (Foto: luciano balarotti) 
Renato Secco destaca qualidades de Caio Júnior
antes de reencontro (Foto: Luciano Balarotti)
 
O preparador de goleiros Renato Secco também trabalhou com Caio Júnior no Tricolor e destaca algumas das principais qualidades do treinador.

- Foi interessante trabalhar com o Caio porque, além de ser uma pessoa decente, era um treinador novo, procurando se aprimorar, e que via no Paraná uma oportunidade de dar uma guinada na carreira. E que aproveitou a chance para conquistar uma coisa inédita que foi levar o Paraná para a primeira Libertadores. Teve uma época em que a coisa ficou ruim, o grupo ficou ruim e ele colocou a equipe de volta no trilho. Então é um cara tranquilo, um cara de conversa, sempre aberto ao diálogo, e isso é muito importante.

Quem também rende elogios ao treinador é o supervisor de futebol do Paraná, Rafael Zucon, que era o coordenador das divisões de base quando Caio comandou o time júnior.

- A passagem dele lá foi meio meteórica porque logo ele foi para a equipe de cima para auxiliar o Otacílio, que estava com algumas dificuldades no Paranaense. Depois ele teve aquela passagem pelo Cianorte e o clube o trouxe novamente em 2006. Então acho que o Paraná foi o grande descobridor do talento dele como treinador de futebol. O Caio é uma pessoa extremante respeitosa, muito ética, correta e adquiriu o status que tem como treinador por esta forma de agir. Alguém que falar mal dele o fará por engano. Mas desta vez não vamos ficar tristes por fazer mal para ele.