Treinador chegou a ter conversa privada com Loco Abreu dois dias depois de derrota para o River Plate-SE
Joel e Abreu: relação conturbada e sem despedida
(Foto: Alexandre Cassiano / O Globo)
(Foto: Alexandre Cassiano / O Globo)
Quando esteve em General Severiano para se despedir e acertar a rescisão de seu contrato, na última terça-feira, Joel Santana recebeu o carinho de uma torcedora que lhe entregou flores. Mas carinho e torcida foram palavras impossíveis de serem pronunciadas na mesma frase nos últimos dias do treinador no comando do Alvinegro. Se com a diretoria encontrava um grande respaldo, na arquibancada Joel encontrou a gota d’água que transformou em lágrimas a sua saída do clube no qual trabalhou nos últimos 14 meses.
Em conversas privadas e até mesmo em entrevistas coletivas após as partidas no Engenhão, Joel Santana não escondia sua mágoa com as hostilidades vindas principalmente no setor Oeste Inferior do estádio, a chamada área VIP, onde concentra-se grande parte dos conselheiros do clube. Incomodado e sentindo-se impossibilitado de fazer mais pelo time, o treinador decidiu sair, deixando até uma relação positiva com o elenco.
Relatos de pessoas que vivem o dia a dia do Botafogo dão conta de que os problemas de relacionamento de Joel com o elenco eram mínimos. Fato é que não existia mais uma proximidade com alguns de seus primeiros “filhos” em General Severiano, mas sabe-se que as insatisfações eram apenas pontuais e as discordâncias eram em relação à metodologia de trabalho. O grande entrevero do treinador foi mesmo Loco Abreu.
- Alguns dos líderes do grupo gostavam do Joel, embora discordassem da maneira como ele armava o time. O problema pessoal era entre o treinador e o Abreu - lamentou um integrante do grupo alvinegro.
E aí entrou novamente o papel da torcida. Joel Santana teria evitado o conflito com o uruguaio por entender que, assim, também compraria uma briga com os botafoguenses que idolatram o camisa 13. No entanto, em reuniões com o elenco, se queixou com Abreu das críticas ao esquema de jogo por meio da imprensa, uma insatisfação comum a outros nomes importantes do elenco. Numa reunião, pediu que qualquer reclamação fosse feita a ele diretamente.
A decisão de dar a faixa de capitão a Marcelo Mattos após a saída de Leandro Guerreiro foi algo que também desgastou a relação de Joel com Loco Abreu. Dois dias depois da derrota por 1 a 0 para o River Plate-SE, em Aracaju, o treinador chamou o uruguaio para uma conversa privada. A partir de então, passou a haver um diálogo maior entre os dois. Mas o técnico deixou o Botafogo sem nunca mais conseguir se acertar com o centroavante desde o primeiro conflito, no Brasileirão do ano passado, quando o camisa 13 reclamou por ser substituído na partida contra o Grêmio Prudente.
Mesmo assim, em sua entrevista de despedida do Botafogo, Joel Santana minimizou o conflito com Abreu:
- Quem sabe marcamos um encontro e um bate papo? - disse.
E foi assim, sem o amparo da torcida que o elevou ao status de salvador com a conquista do título estadual de 2010 – assumindo o comando após a goleada por 6 a 0 para o Vasco – e sem conseguir se entender com o maior ídolo dela que Joel Santana deixou o Botafogo. Mesmo assim, garantiu que em breve estará de volta para triunfar no mesmo banco de reservas que, nos últimos dias, foi alvo de palavras muito diferentes daquelas de 14 meses atrás.