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O Adeus de Ronaldo

Ronaldo culpa o hipotireoidismo pela aposentadoria do futebol

Problema descoberto em 2007 o impede de perder peso e, por isso, as lesões constantes

14 de fevereiro de 2011 | 14h 18
 
MILTON PAZZI JR. - estadão.com.br
 
SÃO PAULO - Ronaldo não é mais jogador de futebol. Ele oficializou a aposentadoria (antecipada pelo Estado no domingo) no CT Joaquim Grava, do Corinthians, em entrevista coletiva. Emocionado, chorou na companhia dos filhos Ronald e Alex, falou sobre o passado (carreira), o presente (a decisão de parar) e o futuro (o que vai fazer da vida). 

Werther Santana/AE
Werther Santana/AE
 
Ronaldo chorou no pronunciamento da aposentadoria
 
O agora ex-atacante também aproveitou para apontar o culpado pelo fim da carreira: o hipotireoidismo, disfunção no organismo causada pela produção insuficiente de hormônios da glândula tireóide, com desfecho simples, o aumento de peso, que trás lesões. A doença foi descoberta em 2007, quando estava no Milan - e comentada na época (como você pode ver clicando aqui).

Além disso, ele falou sobre o momento da decisão, a criação de instituto para projetos sociais e reforçou que não pretende trabalhar com o futebol no campo - como técnico, por exemplo. Mas vai se tornar um embaixador do Corinthians, continuando ligado ao time alvinegro, o qual elogiou bastante e reforçou ser torcedor. 

Sem jogo de despedida agora - pensa em algo para o meio de 2011 - Ronaldo pediu desculpas por não ter conseguido ser campeão da Copa Libertadores. Os principais tópicos da entrevista e do pronunciamento:

DOENÇA
"Há quatro anos atrás descobri, no Milan, descobri que sofria de um distúrbio que chama hipotireoidismo, um distúrbio que desacelera o seu metabolismo e para controlar isso teria que tomar uns hormônios que no futebol seriam doping. Então muitos aqui devem estar arrependidos de terem feito chacota do meu peso, não guardo mágoa de ninguém, só queria explicar isso no último dia de minha carreira" 

PESO
"Todos sabem do meu histórico de lesões, tenho tido nos últimos dois anos uma sequência muito grande lesões, que vão de um lado para o outro, de uma perna para outra, de um músculo para outro, e essas dores me fizeram antecipar o fim da carreira. Essas dores me fizeram antecipar o fim da minha carreira. Meu momento mais difícil foram as duas lesões, que me tiraram três, quatro anos de carreira, e me trouxeram essas seqüelas. Foi muito difícil" 

DECISÃO DE PARAR"Parece que eu estava, essa semana, depois de mais uma lesão no adutor, refleti muito em casa e decidi que era o momento, que tinha chegado ao máximo e era um máximo que nunca imaginei que poderia chegar, pelo sacrifício. A partir de quinta-feira, quando decidi, parecia que estava numa UTI, num estado terminal, e esse anúncio foi minha primeira morte, digamos. É muito duro você abandonar algo que te fez tão feliz, e que poderia ainda seguir, psicologicamente quero muito, mas tenho que assumir algumas derrotas, eu perdi para o meu corpo, e nesse momento farei outras coisas, já estou até com saudades... (risos). Tive próximo de tomar essa decisão no dia da eliminação da Libertadores, esperei um pouco mais e estou tomando agora"

PROTESTOS VIOLENTOS"Meu momento mais difícil foram as duas lesões, que me tiraram três, quatro anos de carreira, e me trouxeram essas seqüelas. Foi muito difícil. Em momento algum o torcedor pode ser violento. Não levei em nenhum momento esses protestos para tomar a decisão que tomei hoje"

TORCIDA"Eu nunca vi uma torcida tão empolgante, tão apaixonante, tão entregue assim a um time de futebol, mesmo que em algumas vezes essa cobrança por resultados que faz ela um pouco agressiva, fora do controle. Em outras entrevistas eu falei que não imaginava realmente ter vivido sem o Corinthians"

PEDIDO DE DESCULPAS"Quero agradecer ao presidente e pedir desculpas publicamente por ter fracassado no projeto Libertadores e dizer que você (Andrés Sanchez) é meu irmão, que a história aqui foi linda, maravilhosa, que continuarei ligado e vinculado ao clube da maneira que você quiser, presidente"

LIBERTADORES"Um grande campeão não é só dentro de campo, tenho minha parcela de culpa, sou humilde para assumir qualquer erro que tenha cometido, qualquer deslize. Se isso serve de exemplo, sempre pretendo ser o mais correto possível para mim e para os outros, mas, enfim, eu sou eu. Falei para o presidente na Colômbia, ainda no vestiário. Futebol é isso, se ganha e se perde, e estamos sujeitos a tudo isso"

CORINTHIANS"Muitas vezes vocês vão me ver no estádio torcendo para o Corinthians, estarei sempre perto. Eu estava muito pior antes, na hora em que fui falar com os jogadores, agradeci a cada um deles, ao Tite, por cada minuto e segundo que estive com eles, e que como sempre fiz desde o primeiro dia que cheguei aqui, foi que nos momentos mais difíceis eu vou entrar na frente deles para receber todo e qualquer bombardeio, agora, do lado de fora, talvez com menos força, porque minha força sempre foi responder dentro de campo"

FUTURO"Meu futuro já está bem organizado, vou me dedicar à minha agência, daqui algum tempo vamos anunciar a fundação "Criando Fenômenos", que espero me dedicar por muito tempo, e é isso"

EM CAMPO"Comissão e direção técnica não [nega que possa ser técnico]. Serei uma espécie de embaixador institucional, levando o nome do Corinthians para fora, e ajudar a captar cada vez mais para o Corinthians"

MOMENTOS MAIS IMPORTANTES"A Copa de 2002 foi o título mais importante, e num segundo momento foi ter visto esse bando de loucos ter se apaixonado, me tornar um deles, esses foram os mais importantes da minha carreira"

FILHOS"Expliquei para eles ontem (domingo). O Ronald já entende mais, fez todas as perguntas que vocês estão fazendo ontem. O Alex não está entendendo muito (risos, olhando para o filho, que está no chão). Eu vi como o Washington fez e tentei copiar, foi lindo, mas não está dando muito certo... (risos)"

ARREPENDIMENTO"Não faria nada diferente, se minha história voltasse eu queria que a medicina avançasse mais, num momento futuro meus problemas seriam resolvidos. Minha carreira foi digna, honrei sempre tudo que fiz. Vou sentir muita saudade, não sei como vai ser daqui para frente com a saudade de querer voltar, a sensação de competição, o protagonismo quando faz um gol de vitória, mas enfim, deu a hora e temos de ir para frente"

JOGO DE DESPEDIDA"De despedida, por enquanto não, mas em junho ou julho vamos tentar fazer alguma coisa, reunir jogadores que estiveram comigo, e fazer uma festa de despedida. Vou informando"

EXCESSO DE JOGOS"A busca pela perfeição é ótima. Mas os campeonatos não deveriam ter tantos jogos, porque tem muitas lesões. São muitos jogos, a gente sempre está explorando o máximo do corpo, e isso não é saudável. Você querer treinar para correr num parque, academia, é diferente. O futebol profissional é sugar o atleta para que ele renda o máximo no jogo"

IDOLATRIA"Acho que o brasileiro valoriza sim o seu ídolo, idolatra, talvez menos do que em outros lugares, mas certeza que o brasileiro faz isso. O que faltou? A Libertadores..."

AGRADECIMENTOS"Tenho muitos agradecimentos a fazer aqui. A todos os clubes que passei. Quero agradecer a todos os jogadores, aqueles que foram leais e desleais; treinadores, aqueles que me identifiquei e a aqueles com quem tive divergências profissionais; aos meu patrocinadores, em primeiro lugar à Ambev e à Nike que estão comigo desde que tenho 17 anos, que acreditaram em mim e me suportaram na carreira e que com certeza que continuarão comigo em meus projetos"

LIÇÃO"Não classifico minhas derrotas, classifico minhas vitórias. As derrotas vem sempre para te ensinar algo, e você aprende muito mais perdendo do que ganhando. Me ensinou bastante como homem, a me comportar para a sociedade"