Por Gustavo Rotstein
Rio de Janeiro
Somália: sorriso nos bons e maus momentos
(Foto: Gustavo Rotstein / Globoesporte.com)
Dois dias depois de uma derrota por goleada e na véspera do jogo contra o Cruzeiro, considerado decisivo, o sorriso voltou ao Botafogo. E personificado na figura de Somália. A recuperação de um estiramento muscular foi apenas um leve obstáculo na trajetória do paulistano que, acostumado a enfrentar dificuldades na vida e na profissão, elegeu a alegria como remédio para fazer o que gosta e contagiar aqueles que estão à sua volta.
Nascido no bairro de Vila Nova Galvão, Zona Norte de São Paulo, Somália efetuou desarmes na tristeza tão precisos quanto os que executa quando está em campo. Nem mesmo diante das dificuldades financeiras de sua família o menino Paulo Rogério Reis Silva se deixou abater. Aos 7 anos elegeu o futebol como diversão e caminho para um futuro melhor, mas enquanto não podia pagar as contas com ele, se divertia nos campos de pelada e correndo atrás para custear suas brincadeiras.
- Distribuía panfletos em eleições e vendia flores para ganhar um trocado e poder comprar bolinha de gude ou pipa. Tive uma infância difícil. Meus pais nunca me deixaram faltar nada, na medida do possível, principalmente educação. Mas era uma vida humilde. Mesmo assim, sempre fui brincalhão. A alegria é sempre importante para vencer os momentos ruins - ensina ele, que é filho de um mecânico, já falecido, e de uma auxiliar de papiloscopista aposentada.
Série A do Brasileirão pela primeira vez aos 26 anos
O glamour e a estabilidade financeira que jovens como Neymar experimentam aos 18 anos, Somália, aos 26 anos, ainda não desfruta. Apenas em 2010 disputa pela primeira vez a Série A do Campeonato Brasileiro. Para ele, entretanto, não é tarde. O volante garante que passagens por clubes de menor expressão foram determinantes para que chegasse a General Severiano capaz de conquistar Joel Santana, a torcida e a diretoria, que recentemente venceu uma disputa com o Fluminense e firmou um contrato de cinco anos de duração.
- Pela primeira vez estou num clube de porte, como o Botafogo, e me sinto preparado para o desafio. Não busco ser ídolo, mas tenho consciência da responsabilidade que é vestir essa camisa. Tudo o que passei serviu de aprendizado para que eu pudesse chegar aqui em condição de corresponder às expectativas - frisou.
Somália, portanto, destaca que é importante dar valor às dificuldades que diz viver ainda hoje. Os muitos anos em clubes de menor expressão reservaram decepções e problemas financeiros. Em muitos dos casos, conviveu com salários atrasados. Mas nada que pudesse tirar o sorriso do rosto do volante, que é considerado peça importante para o Botafogo na partida contra o Cruzeiro.
- Cheguei a ficar quatro meses sem receber, e foi difícil pagar as contas. Mesmo assim, nunca me recusei a jogar, porque era importante continuar a ser visto. Enfrentei muitos obstáculos, mas sempre sorrindo. É preciso ter alegria para desempenhar um bom trabalho.
Neste sábado, é dia de dar alegria à torcida do Botafogo.