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No Cristo, Somália pede redenção: ‘Papai do céu já perdoou o pretinho’

Entre altos e baixos com a torcida, jogador fala sobre o falso sequestro e brinca com assédio: 'Fase está tão ruim que não pareço nem comigo mesmo'

Por Thiago Fernandes Rio de Janeiro
Somalia Cristo (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com) 
Com bom humor, Somalia imita o Cristo Redentor
(Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)
 
Somália é o típico jogador que todos os técnicos gostam. Tem resistência, velocidade e sabe atuar em várias posições. O bom humor ajuda para que ele conquiste a simpatia das pessoas, sejam elas os treinadores ou os torcedores. Mesmo assim, o volante vive altos e baixos em sua relação com as arquibancadas e consegue ser vaiado e aplaudido no mesmo jogo. Essa relação de amor e ódio é fruto de um grave erro cometido pelo jogador no início do ano.

Para se livrar de uma multa por ter chegado atrasado ao treino, Somália inventou um falso sequestro. Ao ter a farsa revelada, viu que tudo o que tinha conquistado poderia se perder. Mas isso não aconteceu. Com a ajuda de Joel Santana, a quem ainda chama de pai, o volante reconquistou seu espaço internamente. Agora, quer voltar a ter o carinho da torcida. De toda torcida.

Para isso, o jogador aproveitou a visita ao Cristo Redentor para ter uma “conversa mais perto do Papai do Céu”, como definiu. Somália garante que, se for pela vontade divina, já está perdoado.

- Já conversei muito com Deus. Papai do Céu já perdoou o pretinho. Tenho certeza que já paguei tudo que tinha para pagar. Tanto com a sociedade, quanto com meus companheiros. Foi um grande erro que eu cometi. Me arrependo e peço desculpas. Mas é uma coisa que eu quero deixar no passado. Espero que isso seja esquecido.

Caso reconquiste a torcida, Somália espera reencontrar o bom futebol. O dia de sol aberto no Rio de Janeiro permitiu que o jogador pudesse ver o Maracanã, palco da final da Copa do Mundo de 2014. O sonho, claro, é estar lá, mas o volante reconhece que a distância para isso é quase tão grande quanto a que separa o Corcovado do estádio Mario Filho.

- Eu sou um cara pé no chão. No momento, não dá para pensar em Seleção. No ano passado, se falava disso o tempo todo, mas porque eu estava em boa fase. Agora, não. Preciso reencontrar meu futebol para poder sonhar com isso.

Somalia Cristo (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)Jogador aponta o Maracanã: sonho de disputar Copa do Mundo lá (Thiago Fernandes / Globoesporte.com)
 
Entre o deslumbramento com uma paisagem e outra no alto do Cristo, Somália era parado por fãs para tirar fotos. Alguns aproveitavam para pedir gols ao volante. Outros, abusavam da boa vontade do jogador para tirar fotografias em duplas, trios e grupos. Mas também houve quem tivesse dúvida se deveria se aproximar.

- Aquele ali parece o Somália – disse um visitante para o que estava ao seu lado.

- Parece nada, bem diferente – respondeu outro.
Rindo, o jogador não resistiu a comentar:

- A fase está tão ruim que não pareço nem comigo mesmo.

Confira a entrevista completa com o jogador:

Somalia Cristo (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com) 
Jogador aprecia a vista do alto do Corcovado
(Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)
 
O que achou do Cristo Redentor?
É um passeio muito legal. Fiquei impressionado com tudo: a altura, a quantidade de pessoas e a vista.

Você é uma pessoa religiosa?
Sou sim.

Teve um significado maior a visita por causa disso?
Tenho que agradecer muito a Deus por poder fazer aquilo que eu gosto. Aqui, estou mais próximo do Papai do Céu e posso conversar melhor com Ele (risos).

Aproveitou para pedir perdão por aquele episódio do falso sequestro?
Já conversei muito com Deus. Papai do Céu já perdoou o pretinho. Tenho certeza que já paguei tudo que tinha para pagar. Tanto com a sociedade quanto com meus companheiros. Foi um grande erro que eu cometi. Me arrependo e peço desculpas. Mas é uma coisa que eu quero deixar no passado. Espero que isso seja esquecido.

Como foram os dias seguintes ao episódio?
Joel e Anderson Barros me ajudaram muito. O Joel me falou sobre a vida, sobre as dificuldades que todos passam. Eu até queria ficar treinando em separado para não atrapalhar o time. Mas o Joel não deixou. Disse que eu era importante para o time. Se eu ficasse afastado, teria sido muito ruim para mim. A mão que ele estendeu para mim será uma coisa que vou lembrar para a vida toda.

Você e Joel sempre tiveram uma relação muito próxima não é?
Ele sempre demonstrou um carinho muito grande por mim. Ele me acolheu como um verdadeiro pai no meu momento mais difícil.

Depois que você percebeu a besteira que fez, qual foi sua maior preocupação?
A minha família, claro. Tinha medo que eles sofressem por minha causa. Mas tenho certeza que quem me conhece sabe da minha índole. Não vai ser um erro que vai mudar isso.
Hoje, você vive altos e baixos com a torcida. Acha que esse episódio tem grande influência nisso?
Não sei. Queria acreditar que não. É uma situação curiosa, ser vaiado e aplaudido no mesmo jogo. Mas, como disse, já paguei o que tinha para pagar. O torcedor tem que entender que a gente precisa de apoio em campo. Com eles, a gente é mais forte.

Você é um jogador que atua em várias posições. Acha que isso é fundamental para cair no gosto dos técnicos?
Todo treinador gosta de ter um jogador que atua em mais de uma posição. Você pode mudar uma partida sem precisar substituir nenhum atleta. Basta você trocar as posições em campo.

Somalia Cristo (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com) 
Fãs cercam Somália para tirar fotos
(Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)
 
Acredita que, por isso, tem muitas especulações sobre sua possível saída do time?

Pode ser. Sempre ouço muitas coisas em relação a isso.

Mas qual o seu pensamento? Aceitaria deixar o clube?
Meu pensamento é ficar no Botafogo. Estou muito feliz aqui. Quando um jogador se destaca, sempre aparecem especulações. Fico feliz com isso, mas minha cabeça está somente voltada para o Botafogo.

Voltando a falar sobre a visita ao Cristo, deu para perceber que você gostou de ver o Maracanã daqui. Com a Copa no Brasil em 2014, é difícil não se imaginar disputando a competição?
Sou um cara pé no chão. No momento, não dá para pensar em Seleção. No ano passado, se falava disso o tempo todo, mas porque eu estava em boa fase. Agora, não. Preciso reencontrar meu futebol para poder sonhar com isso.

Você é um cara muito descontraído e vive fazendo brincadeiras com seus colegas. O pessoal leva isso na boa?
Quando eu era garoto, eu era o alvo. Todo mundo implicava comigo Aí, tive que aprender a revidar (risos). Virou uma marca registrada. Mas eu nem sou dos mais brincalhões. Tem o Alessandro, o Antônio Carlos, o Caio, o Willian...Esses não param.