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No Senado, Cade: não vê problema em acordo entre clubes e emissoras

Presidente do órgão diz que clubes podem negociar individualmente os direitos de transmissão, desde que respeitada a livre concorrência

Por G1, especial para o GLOBOESPORTE.COM Brasília
ricardo teixeira Fabio Koff  (Foto: Agência Estado) 
Ricardo Teixeira e Fabio Koff durante audiência
no Senado (Foto: Agência Estado)
 
Primeiro a falar na audiência pública no Senado Federal convocada para discutir a negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Fernando Furlan, disse que o acordo assinado no ano passado entre o órgão e a Rede Globo está sendo respeitado. Ele afirmou que não há problema na negociação individual dos clubes com uma emissora e que o Cade espera apenas receber os contratos firmados entre a Globo e as agremiações para ver se eles, de alguma forma, ferem o principío da livre concorrência.

- As informações que temos até agora é que o acordo vem sendo cumprido e a cláusula de preferência tem sido extirpada dos contratos. Se houver qualquer informação de que os acordos não estão sendo cumpridos conforme as cláusulas, é possível que esses acordos façam com que o Cade reative o processo. O Cade deu prazo para a Rede Globo até hoje (quarta-feira) para que apresente os contratos individuais firmados com os clubes. Apresentando os contratos, vamos analisá-los, ver as cláusulas e se há ali algo que possa definir um descumprimento dos acordos firmados - disse o presidente do Cade, nesta quarta-feira, em Brasília.

Furlan disse ainda que o Cade não tem competência para definir as regras dos contratos que regulamentam os direitos de transmissão, apenas tem o dever de verificar se os métodos observam os princípios da livre concorrência. Ele também explicou que o preço não precisa ser o único critério a ser observado. Quando exigimos critérios objetivos, não significa apenas um critério, que é o preço"
Fernando Furlan
 
- Quando exigimos critérios objetivos, não significa apenas um critério, que é o preço. Não nos cabe regular como será a negociação. Há liberdade de os critérios serem os mais variados, e não somente com os preços - disse, antes de criticar o excesso de regulamentação. - A verdade é que na Europa, até os anos 90, havia muita regulamentação. A experiência foi ruim, isso engessou porque só as redes públicas podiam transmitir. O excesso de regulamentação não parece ser saudável.

Furlan reafirmou que a decisão de negociar individualmente, ou não, cabe aos clubes.

- Os clubes que têm de decidir se vão negociar em conjunto ou por meio do clube dos 13, portanto com a RedeTV!, que fez a oferta. Se os clubes preferem negociar individualmente, como têm feito com a Rede Globo, é uma questão da esfera privada dos clubes. Não podemos definir o que os clubes devem ou não fazer. Em princípio, a negociação individual não é contrária à livre concorrência.

Presidente do C-13 diz que clubes têm direito a negociar individualmente

Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, que conduziu a licitação agora contestada por vários clubes, disse que agiu apenas de acordo com o que foi acertado com o Cade. Porém, reconheceu ser um direito dos clubes negociar individualmente seus contratos.

- Fora do Clube dos 13, os clubes começaram a negociar individualmente. É um direito deles. Não sei se em melhores condições do que a licitação proporcionava, porque até hoje são contratos que ninguém viu. E o Clube dos 13, como ficou? Principalmente eu, que fui cauteloso, acreditei que estava cumprindo a lei. Não me arrependo do que fiz, não estou fazendo uma avaliação da validade do contato que assinei por procuração dos clubes. Não estou fazendo avaliação se o contrato da RedeTV! deve valer ou se o da Globo deve valer. Estou apenas enfatizando que agi como o Cade determinou - afirmou.

Koff explicou também que cabe aos clubes sua permanência à frente do C-13, assim como a definição pela manutenção ou não do grupo.

- Sobre o papel do Clube dos 13, sou presidente da entidade e faço o que eles determinam, não tenho sequer voto, somente agi conforme os poderes que me foram conferidos. Se a partir daí decidirem que o outro é melhor, é uma questão que eles vão levar para assembleia que está marcada para o próximo dia 3 de maio. Repito, eu procuro o melhor para os clubes. Se eles definirem pela extinção (do C-13), o que gostaria que não ocorresse... "

Executivo da Globo defende negociação com clube e cita aspecto técnico

Vice-presidente das Organizações Globo, Evandro Guimarães explicou que o preço, por ter sido o único critério adotado pelo Clube dos 13 na licitação, foi o motivo da divergência interna entre os associados do C-13. Ele citou o alcance nacional da Globo como um aspecto observado pelas agremiações. A participação da CBF nos contratos de televisão é quase nula"
Ricardo Teixeira
 
- Foi feita uma licitação em que o sistema adotado foi o preço. Alguns clubes manifestaram discordância com a maneira como o C-13 havia conduzido a licitação. Boa parte dos clubes concordou com as Organizações Globo, levando em conta o passado, o presente e o futuro. O passado de crescimento aqui falado, o presente da cobertura da emoção, e o futuro, o que leva os clubes a achar que essa parceria ajudará a manter o crescimento - disse, para depois citar o aspecto técnico. - A Globo está estruturada. Os clubes devem olhar para as empresas que oferecem cobertura nacional. Nós temos o maior número de pontos de geração, além de uma enorme capacidade técnica para isso.

Evandro Guimarães reiterou que a Globo enviará os contratos ao Cade, além de dizer que não são de conhecimento público as condições do acordo firmado entre o Clube dos 13 e a RedeTV!, emissora que ganhou a concorrência dos direitos em TV aberta do Brasileiro de 2012 a 2015, realizada pelo C-13 e contestada por vários clubes.

- Estamos apresentando os contratos (firmados com os clubes) ao Cade, que avaliará a correção desses documentos. São desconhecidas publicamente as condições, a correção e o conjunto de cumprimento de disposição do contrato do Clube dos 13 com a RedeTV!.

Kalleb Adid, diretor da RedeTV!, afirmou que a emissora analisa entrar com nova representação no Cade para questionar a postura da Rede Globo de celebrar contratos bilaterais com os clubes. Segundo ele, há grande perda financeira envolvida no impasse.

- O jurídico vai ter que decidir o que vai fazer porque a perda financeira é muito grande, a perda de conceito e audiência é muito grande para uma empresa que está em franco desenvolvimento. A RedeTV! entende que o esporte vai ser tratado como a novela, como a menina dos olhos. Ninguém melhor do que a RedeTV! para se dedicar a esse produto e fazê-lo da melhor forma possível. Temos capacidade técnica para melhorar o produto - afirmou Adib.

Já o diretor de aquisições da Rede Record, Paulo Calil, sugeriu que uma nova licitação fosse realizada.

- Com a concorrência achava que íamos escrever um capítulo novo para o futebol. De repente, vimos tudo isso desaparecer, quando a empresa que vem fazendo isso [a trasmissão] há anos diz que não vai participar da concorrência. O que poria a limpo essa situação seria recomeçar uma nova concorrência, um novo processo traria beneficio pra os clubes - disse Calil.

CBF diz não participar da negociação dos direitos, apenas na organização do Brasileiro

Convidado a participar da audiência, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, disse que a entidade não tem qualquer participação na negociação de direitos do torneio.

- A participação da CBF é na organização do campeonato. A CBF não discute cláusulas, não tem participação financeira em nenhum valor recebido por parte da televisão. Os clubes decidem com a entidade que negociava com a televisão seus direitos, os valores, os modos de administrar, inclusive com relação aos horários dos jogos. De forma que a participação da CBF nos contratos de televisão é quase nula.

Participaram de audiência pública sobre os direitos de transmissão de jogos de futebol no Brasil, realizada na manhã desta quarta-feira, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, os presidentes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Fernando de Magalhães Furlan; da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira; e do Clube dos Treze, Fábio Koff.

Representantes das emissoras também estiveram presentes: José Carlos Silveira (Grupo Bandeirantes), Kalleb Adib (RedeTV!), Paulo Calil (Rede Record) e Evandro Guimarães (Organizações Globo). Jonas Donizeti (PSB-SP), presidente da Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados, e o ex-jogador Romário, deputado pelo PSB-RJ, assistiram à sessão. As autoras do requerimento da audiência foram as senadoras Lídice da Mata (PSB-BA), Ana Amélia (PP-RS) e Marisa Serrano (PSDB-MS).

Quatorze clubes já anunciaram oficialmente que assinaram contrato com a Rede Globo, cedendo direitos de transmissão e publicidade do Campeonato Brasileiro no período de 2012 a 2015: Bahia, Botafogo, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Goiás, Grêmio, Palmeiras, Santos, Sport, Vasco e Vitória.