Diretoria transforma Botafogo em verdadeira empresa e recoloca futebol do clube no caminho das vitórias
Daniel Leal, Hugo Perruso e Léo Burlá
No Rio de Janeiro
A maior parte dos torcedores olha para dentro de campo ao analisar a boa fase de seu clube. Os fãs, no entanto, precisam obrigatoriamente conhecer o que se passa no interior do Botafogo para entender o sucesso alcançado na temporada passada. Iniciado há dois anos, o novo modelo de gestão do Glorioso recolocou as contas em dia, mudou a mentalidade dos funcionários e levantou o futebol.
Apesar dos claros avanços, Mauricio Assumpção, presidente do Botafogo, faz questão de reiterar que nada de novo foi inventado – apenas aplicou conceitos de gestão empresarial no Alvinegro.
Quando chegou à presidência, no início de 2009, Assumpção encontrou cenário distante do ideal: quadro de funcionários do clube desequilibrado, gigantesca dívida trabalhista e um elenco apenas razoável. O arranque natural seria reforçar a equipe, certo? Errado.
– Era inadmissível que o clube ficasse nas mãos de vice-presidentes que não poderiam se dedicar 24 horas por dia ao clube. Mas não posso simplesmente acabar com esses cargos. O que precisávamos fazer era criar, abaixo dos vice-presidentes, as diretorias executivas – explicou ao LANCENET! o presidente.
OS MANDACHUVAS | |
Mauricio Assumpção Presidente do clube | Sérgio Landau Diretor executivo da presidência |
"A condição colocada foi de que tivéssemos uma gestão puramente profissional, com diretores fortes para cada departamento. Juntos, montamos essa equipe, que vem fazendo um ótimo trabalho. Nem todo o Conselho Deliberativo apoia, mas a maioria entende as mudanças que estão acontecendo", conta o ex-vice de finanças Cláudio Good. | "O diretor executivo da presidência toca o dia a dia de uma série de assuntos no clube. Fora dele, representa o presidente nas discussões com empresas e na solução de problemas. Mas tenho um limite. A assinatura de um documento é do presidente. Tenho de debater internamente com ele e com os vice-presidentes. Precisa desse equilíbrio de entendimento", explica Landau. |
O processo de escolha dos novos dirigentes, que se dedicariam integralmente ao Glorioso, fugiu do padrão clubístico brasileiro, baseado em indicações de pessoas já envolvidas no meio. O Botafogo buscou profissionais do mercado, não necessariamente ligados ao futebol.
Definidos os executivos, o problema passou a ser a relação entre os dirigentes profissionais e os não remunerados. Em princípio, houve resistência de alguns vice-presidentes, que chegaram a deixar o cargo, como o de finanças, Cláudio Good. O papel do mandatário foi, então, conciliar os dois lados.
Futebol deixa de 'bancar' o clube
No departamento de futebol, a diretoria promoveu, assim que assumiu, imediata mudança de organograma. Na gestão anterior, o setor possuía vice-presidente, diretor e colaboradores. Estes últimos, de cara, foram extintos, substituídos por um gerente, cargo até então inexistente.
Escolhido para a função, Anderson Barros teve de tornar os demais departamentos independentes do seu. Naquele momento, todos os setores do clube dependiam das receitas do futebol, que, para piorar, não tinha estrutura ideal para funcionar.
Anderson, então, separou seu departamento: criou alas administrativa, jurídica e de comunicação exclusivas. Passou a funcionar independentemente dos outros setores, sem qualquer influência externa. Como diz Assumpção, o futebol ficou blindado.
OS ESCUDEIROS | |
Quem é | Palavra do presidente |
Nome: Renato Blaute Cargo: Diretor financeiro Como chegou à atual gestão: Participou de seleção com outros candidatos | "Na época, o Cláudio Good era o diretor financeiro e entrevistou o Renato Blaute, que tinha 12 anos de Fluminense, sabia como era o dia a dia de um clube de futebol, tinha trabalhado em empresas do mercado financeiro. Ou seja, era uma pessoa que sabia trabalhar dentro daquele modelo que estávamos tentando trazer aqui para dentro" |
Nome: Marcelo Guimarães Cargo: Diretor comercial Como chegou à atual gestão: Participou de seleção com outros candidatos | "Além dele, tivemos mais umas duas ou três indicações. O conselho diretor pegou os currículos dessas pessoas, traçou o perfil desejado e deu a três pessoas uma tarefa: montar uma apresentação do que seria o marketing do Botafogo para eles. Escolhemos o Marcelo, que era um cara do mercado, porque apresentou o melhor conteúdo e o melhor trabalho" |
Nome: Joana Prado de Oliveira Cargo: Diretora jurídica Como chegou à atual gestão: Já fazia parte do jurídico do clube | "A Joana já estava aqui quando essa gestão assumiu. O vice jurídico da época, que era o Gustavo Noronha, teve a incumbência de conversar com as pessoas do departamento e saber se a equipe que estava aqui tinha ou não condições de trabalhar no modelo que gostaríamos. Ele identificou que sim. Então, mantivemos ela" |
Nome: Anderson Barros Cargo: Gerente de futebol Como chegou à atual gestão: Participou de seleção com outros candidatos | "Precisávamos contratar um gerente de futebol. Criamos essa cargo, que não existia. Num primeiro momento, ele não pôde trabalhar dentro do organograma que considerava ideal, mas, em 2010, isso já começou a acontecer. Ele enxugou o quadro de funcionários, fez um organograma diferenciado, especificou as funções de cada um" |