De volta à elite, clube da Baixada Fluminense aposta em time formado na base, com média de 22,5 anos, e em centro de treinamento com oito campos
Se o primeiro acesso, em 2005, foi considerado prematuro, o retorno à elite aconteceu em boa hora, na visão dos dirigentes. Mais estruturado, o Nova Iguaçu disputará o Campeonato Carioca pela terceira vez e reforça a aposta na revelação de talentos, prática que fez o clube da Baixada Fluminense ganhar elogios da CBF por sua veia formadora. O elenco orientado por Josué Teixeira, ex-Flu e seleções de base do Qatar, tem média de idade de 22,5 anos e a segurança de que conta com o respaldo "antimedalhões" por trás.
Time de juniores, base do estadual, entra no campo do Laranjão (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
Para não ceder às pressões de empresários, o Nova Iguaçu estabeleceu como regra não investir em nomes de peso, mesmo os que entraram em contato para defender a cor laranja, como já ocorreu com Magno Alves, hoje no Atlético-MG, e até Viola, em outras épocas. Os reforços são nomes bem menos conhecidos, como o do goleiro Jefferson, do Madureira, o zagueiro Alex, do Standard Liege-BEL, o lateral Cortez e o volante Amaral, ambos do Quissamã, e o atacante Maicon, do Fênix. A dupla de ataque deverá ser formada por Lukian e William Barbio, ambos de 18 anos e um futuro repleto de expectativas.
- Lutamos muito para criar uma identidade deles com o Nova Iguaçu. Costumamos incentivar os garotos a aprender e cantar o hino do clube em troca de R$ 10. Às vezes, cruzamos com um no CT e fazemos o teste (risos). Sempre garanti a eles que teriam chance de jogar no profissional. E agora que voltamos à elite é a hora deles, essa é a filosofia. Teremos quase 90% de garotos daqui. Quem faz isso? Em um levantamento, notei que o time mais jovem do Brasileirão era o Santos, com 24 anos de média. Estamos batendo a marca com a certeza de que faremos uma boa campanha - afirmou o presidente Jânio Moraes, que, ao lado de seu irmão, Jorge Moraes, fundou o clube em 1990, apadrinhados por Zico.
Trajetória 'sem pressa'
Não faltam exemplos de equipes que rapidamente ascenderam, conquistaram títulos regionais e até incomodaram os grandes nas competições nacionais. Tudo em menos tempo do que o Nova Iguaçu, que se aproxima da maioridade. A mentalidade, no entanto, não prega a voracidade por resultados. Como abre espaço para a juventude, o Orgulho da Baixada, como é chamado, pensa a longo prazo e dá um passo de cada vez.
- Eu digo muito aqui que estou com pressa, mas não estou com pressa ao mesmo tempo. Todo mundo quer ganhar. Mas não tenho dinheiro sobrando, nem carta na manga. Construímos parcerias importantes, sim, só que o principal aqui é a formação de homens. Não é demagogia, é a realidade do esporte. Muitos querem ser jogador. Mas, se eu não tiver o homem, não tenho o jogador - explicou Jânio, em sua sala.
Garotada bate bola no gramado do centro de treinamento, com pôster ao fundo com as fotos de Deivid, Marcos Denner e Schwenck, orgulhos do clube (Foto: André Casado / Globoesporte.com) Nova Iguaçu tem mais gente que o Uruguai, são muitos jogadores para serem feitos. Criamos uma identidade aqui"
Jânio Moraes
Espalhados por oito campos (dois deles oficiais), 145 mil metros quadrados e um estádio, o Laranjão (inaugurado em 2008, com capacidade para cinco mil pessoas), 415 jovens federados recheiam o Centro de Treinamento do Nova Iguaçu, que está constantemente recebendo novas inscrições e pedidos de testes, o que fez com que a equipe de profissionais triplicasse na década. O celeiro local, aliás, sempre existiu.
- Somado ao que fornecem os municípios vizinhos (Belford Roxo, Nilópolis...), Nova Iguaçu tem mais gente do que o Uruguai. É muito material humano. E de qualidade, em busca de um lugar ao sol para ajudar a família. Nosso clube, então, se tornou uma perspectiva de crescimento. Por isso, quero escrever um livro em breve sobre minhas experiências. Antes, era duro para o garoto, sem opção, arranjar dinheiro para ir fazer teste ou treinar no Rio todos os dias - destacou o presidente.
Além da área para o futebol, há alojamentos, consultórios dentários, salas de fisioterapia e fisiologia, academia, refeitórios, auditórios, piscina para a recuperação de jogadores, entre outros acessórios fundamentais para a complementação da formação.
Dupla William Barbio e Lukian antes da decisão do
OPG (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
Recursos vêm da categoria de baseOPG (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
Por ter sido vice-campeão da Série B de 2010, atrás da Cabofriense, o clube lamenta ter as cotas mais reduzidas e se apoia no rendimento em campo para segurar a barra, além de patrocinadores. Na camisa, estampa uma marca de cosméticos. Na base, tem acordo com a investidora Traffic, que, por um valor mensal, indica cinco promessas por ano que deseja levar e, no futuro, lucra com seus direitos. Ainda assim, a maior verba vem da negociação de alguns destaques de clubes pelo Brasil após chegarem à equipe de cima.
- Ainda não é muito, mas daqui já saíram Márcio Careca (lateral do Vasco), Schwenck (atacante do Vitória), Marcos Denner (atacante do Guarani), Aírton (volante ex-Fla, atualmente no Benfica-POR) e Deivid (atacante do Fla), que foi nosso grande lucro quando vendido ao Bordeaux-FRA, em 2003.
Ganhamos e fizemos mais melhorias. É um exemplo de jogador que nasceu em Nova Iguaçu e até hoje lembra com carinho do tempo que passou aqui. Preciso pagar pouco para manter tudo funcionando. Há quem receba R$ 2 mil, R$ 1 mil... - diz Jânio.
Presidente Jânio Moraes exibe tatuagem do escudo
do clube (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
do clube (Foto: André Casado / Globoesporte.com)
Cobiçado até por rivais cariocas, o veloz William Barbio aju
Para firmar o nome
Em 2006, décimo lugar. No ano seguinte, 12º e rebaixamento. Nessas temporadas, Zinho e até Edmundo vestiram a camisa laranja. A aposta na juventude, ainda "verde", ficou um pouco em segundo plano - apesar de a tendência já ter sido a de um time com baixa média de idade. Agora, o momento é outro. Investidor, o tetracampeão, que aposentou as chuteiras, voltou ao país para observar de perto a evolução do clube e faz fé no projeto.
Quadro indica registro de cada jovem jogador do Nova Iguaçu (Foto: André Casado / Globoesporte.com) - Desde o ano passado, já olhávamos para 2011 como o ano em que iríamos estourar de novo. Em 2007, perdemos jogos como mandantes porque não tínhamos torcida. Os adversários falavam: "Contra o Nova Iguaçu? Ah, eles jogam no América (estádio Giulite Coutinho, em Edson Passos)". Aí, fizemos um esforço para erguermos nosso estadiozinho, mesmo na Série B. O Tigres veio nos pedir conselhos para construir a estrutura deles, assim como outros clubes. Existe um foco e uma maturidade muito grande agora. O Nova Iguaçu veio para ficar e ser pioneiro - avisou Jânio Moraes.
No Grupo A, o clube terá pela frente Flamengo, Vasco, América, Boavista, Volta Redonda, Americano e Resende.
