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Acostumado a superar dificuldades, Arévalo encontra o sorriso no Rio

Volante do Botafogo relembra percalços que o ajudaram a crescer e a chegar ao Brasil com a confiança em alta após a Copa do Mundo

Por Gustavo Rotstein Rio de Janeiro
É uma missão difícil arrancar um sorriso de Egídio Arévalo Ríos. Diferentemente do compatriota Loco Abreu, o Cacha, como gosta de ser chamado, é tímido e introvertido. No entanto, a chegada ao Botafogo não é encarada pelo Pequeno Gigante - apelido que ganhou no Uruguai -  somente como um novo desafio profissional. É também uma maneira de recomeçar, depois de alguns anos vivendo seguidas dificuldades.

Sua passagem por Monterrey e San Luis, ambos do México, teve altos e baixos. Quando foi comandado por técnicos argentinos, Arévalo foi colocado de lado e chegou a ficar sete meses sem atuar, até o fim de 2009, por estar afastado. Mas o que poderia se tornar uma má fase profissional chegou ao âmbito pessoal quando, ao retornar ao Uruguai para defender o Peñarol, no início do ano passado, se deu conta de que estava quebrado.

Arévalo do Botafogo na praia 
 
Em frente ao mar da Barra da Tijuca, Arévalo sorri: ambiente perfeito para superar problemas do passado (Foto: Gustavo Rotstein / GLOBOESPORTE.COM)
 
Cacha chegou a Montevidéu e decidiu movimentar a conta na qual depositava a maior parte de seus ganhos no México. No entanto, o saldo era próximo do zero. Ele acusa seu ex-empresário, Eduardo Rodríguez, de usar seu dinheiro para despesas pessoais. Atualmente, segundo o volante do Botafogo, ele está sumido.

- Tomei um susto quando vi que havia muitas retiradas e que ele havia comprado até mesmo uma casa com meu dinheiro. Foram cerca de 500 mil dólares (cerca de R$ 840 mil) embora. Queria esquecer tudo, pois meu sonho era disputar a Copa do Mundo daquele ano. Mas era muito difícil entrar em campo sem pensar no que havia acontecido - disse.

Arévalo deixou os problemas pessoais de lado para se concentrar no futebol. E ajudou o Peñarol a ser campeão no Uruguai, garantindo a sonhada convocação para a Copa do Mundo na África do Sul. Se Forlán, Suárez e Loco Abreu foram destaques, Cacha foi a grande surpresa. O volante surpreendeu o país ao aparecer como titular do técnico Oscar Tabárez e, mais uma vez, precisou se superar.

Na Copa do Mundo, surpresa até para os uruguaios

O Uruguai questionava se Arévalo teria a capacidade de se equiparar ao nível de um time titular composto somente por jogadores que atuavam na Europa. Mas o volante retornou ao seu país consagrado por anular algumas das mais importantes armas adversárias da Celeste, sendo uma importante peça e calando a boca até mesmo de alguns companheiros de time, como Loco Abreu.

- Realmente enfrentei uma desconfiança quando o treinador me colocou entre os titulares. Muitos questionavam se eu corresponderia, pois os demais titulares atuam na Europa. Fiz meu trabalho da mesma maneira e durante o Mundial mostrei minha capacidade - frisou.

Arevalo e Loco Abreu 
Cacha ao lado de Loco: amigo, referência e até
tradutor (Foto: Satiro Sodré / Ag. Estado)
 
O bom desempenho na África do Sul chamou a atenção de muitos clubes. O Botafogo foi um deles, mas o sonho de jogar na Europa estava perto de se realizar. Arévalo chegou a um acordo com o Newcastle, da Primeira Divisão da Inglaterra, e, quando se preparava para viajar e assinar o contrato, recebeu a notícia de que o negócio estava desfeito. O presidente do clube não aprovara a contratação.

Mas Arévalo vê a chegada ao Botafogo como uma grande oportunidade em sua carreira. E, diante de todas as dificuldades pelas quais já passou, minimiza as diferenças entre os estilos de futebol do Brasil e do Uruguai. Nas poucas partidas que viu de seu novo time, observou que há mais espaços para se jogar, ao contrário do que acontece em seu país. A língua, que por enquanto é uma barreira, vem sendo aos poucos desmistificada. Em General Severiano, Cacha já arrisca algumas palavras. E quando senta para ouvir uma palestra de Joel Santana, conta com a amizade daqueles que falam o mesmo idioma.

- Quando o treinador faz um discurso mais técnico, eu me sento entre o Loco e o Herrera. Cada um fica de um lado traduzindo - disse ele, aí sim, sorrindo.

Em menos de uma semana, o Rio de Janeiro já foi capaz de mudar o espírito de Arévalo. Se deixa os treinamentos exaurido com as atividades físicas - muito mais intensas do que as do Uruguai, segundo ele -, Cacha sabe que vai poder relaxar olhando o mar da Barra da Tijuca, onde fechou o aluguel de um apartamento a cerca de 300 metros de onde mora Loco Abreu.

- A presença dele é muito importante para mim, apesar de termos conversado pouco, tamanha a quantidade de treinos. O ano passado foi o melhor da minha carreira, e aqui no Botafogo pretendo manter isso. Sei que, pela minha personalidade, posso custar um pouco a me adaptar. Mas quero entrar logo no ritmo brasileiro, aprender, corresponder à expectativa e levar o time a uma Libertadores, mostrando por que me trouxeram.