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Lennon conta os dias para rever sua mãe, fã de Kaká e Neymar: 'Guerreira'

Por trás do nome de famoso, lateral esconde trajetória de dificuldades entre a mudança de Tocantins para Goiás, passando pela separação dos pais

 

Por André Casado Rio de Janeiro

Lennon do Botafogo treinando faltas (Foto: Satiro Sodré / Agif) 
Destro, Lennon joga nas duas alas e treina faltas
com o pé esquerdo (Foto: Satiro Sodré / Agif)
 
Nascido em Araguaína, no Tocantins, John Lennon jamais teve o glamour atrelado ao nome em sua vida real. De família humilde, viu sua mãe superar um obstáculo mais duro do que qualquer retranca adversária: a traumática separação do marido, Manoel, que ocasionou a ida do menino de quatro anos para Goiânia, cidade grande aos olhos da família, então reduzida aos dois. Por isso, depois de quase dois meses separado de dona Rosane, o lateral conta os dias para revê-la, já instalada definitivamente no Rio de Janeiro, onde o sonho dela tem um novo e mais intenso capítulo: o sucesso no Botafogo, que lhe ofereceu um contrato de quatro anos.

O batismo é apontado como obra do tio, José Fernandes, fã dos Beatles. Já o registro, após a sugestão, ficou por conta do pai, com quem Lennon não manteve contato, tanto que não olhou para trás e sequer se recorda de sua primeira casa. Assim, a mãe foi obrigada a fazer o papel dobrado e, mesmo sem conhecer muito sobre futebol, se tornou a maior incentivadora da carreira do caçula.

- Comecei aos 11 anos, e minha mãe sempre me deu força. Nunca precisei mentir para ir jogar bola, era ao contrário. Se eu faltasse a um treino, ela dava bronca. Não tínhamos uma boa condição, mas ela trabalhava muito e, se precisasse, pedia até dinheiro emprestado. Fazia o que tinha fazer para não me faltar nada, nem a passagem do ônibus para as escolinhas, mesmo nos momentos mais difíceis. Sempre foi honesta, guerreira mesmo. Só posso agradecer a Deus e à ela por ter chegado aqui. Mudar a vida da minha família era um sonho meu, que está se realizando - conta o jogador, comovido, que substitui Lucas, domingo, contra a Ponte Preta, pela sexta rodada do Brasileirão, sua estreia no Engenhão.

Junto à dona Rosane, que exerce a profissão de manicure, chegará Pedro, padrasto lembrado por Lennon como alguém importante nas decisões de seus primeiros clubes. Precoce, o hoje alvinegro virou profissional aos 16 anos, pelo Inhúmas-GO, e foi tentar a sorte no Madureira, em sua primeira incursão pelo Rio. 

Depois voltou a fazer parte da base do Vila Nova, mas os oito meses na capital que já se acostuma a morar ficaram marcados por terem sido o maior período que já esteve longe de sua mãe, fã de dois craques.

Lennon e Vitor Junior, Botafogo (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com) 
 
Lennon é apresentado com Vitor Júnior, em maio, no Engenhão (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com)
 
- Ela ia nos meus jogos sempre, torcia muito. Agora, está acompanhando o Botafogo pela televisão quando dá, nos falamos todos os dias. Mas passou a gostar mesmo de futebol, assiste a qualquer coisa. Kaká e Neymar são dois que ela fala lá (risos). E nunca reclamou da minha posição. Onde me colocavam, estava bom. Ela queria é me ver jogar - diverte-se.

Hobbies, amizades e pulmão em dia

Para superar a solidão atual, televisão, a Bíblia e cinema. Nas folgas, o lateral-direito conferiu Homens de Preto e Madagascar. Para ir ao treino, deixa o apartamento alugado na Barra da Tijuca e pega carona com o zagueiro Brinner. Isso até seu Hyundai i30 chegar na garagem. Mas a principal afinidade até agora é com o meia Fellype Gabriel, que o recebeu com ainda mais carinho do que os outros companheiros de General Severiano.

- Estou muito próximo dele, realmente. Fellype conhece alguns amigos que jogaram comigo. Ligaram para ele, pediram para me receber bem, e ele está sempre me puxando para conversar, perguntando o que eu preciso. É um cara 10 mesmo, um parceirão. Mas claro que o ambiente é legal. Jeferson, Lucas Zen, Cidinho, são todos amigos - enumerou Lennon.

Em campo, Lennon diz que alia a velocidade com um bom pulmão. Mesmo improvisado na esquerda, ele admite que cansou contra o Inter, quando mostrou vontade até demais, segundo o técnico Oswaldo de Oliveira, mas avisa que seu estilo é de correr os 90 minutos.

- É meu estilo mesmo, ir e voltar o tempo todo. No fim, senti o cansaço, mas não vou deixar de me esforçar. Fiquei conhecido por isso também em Goiânia. Havia dois meses que eu não jogava. Quando estiver em ritmo e melhor fisicamente, vai ser mais fácil.