Maracanã é um dos campeões da gratuidade (Crédito: Alexandre Loreiro)
LANCEPRESS!
O empate em 2 a 2 entre Fluminense e Vasco, no domingo, pelo Brasileirão, levou impressionantes 80 mil torcedores ao Maracanã. O número, no entanto, só foi alcançado graças às mais de 13 mil pessoas que entraram gratuitamente no estádio. Se por um lado a prática beneficia o público, por outro tira milhões dos cofres dos clubes, que, em outras partes do país, se mobilizam para garantirem suas receitas.
A legislação estadual do Rio de Janeiro garante a gratuidade nos estádios a idosos com mais de 65 anos, crianças menores de 12 anos e deficientes físicos. Ainda há ainda um agravante: os clubes que alugam o Maracanã não têm direito a nenhum percentual dos ganhos referentes a camarotes e cadeiras cativas. Além de pagarem aluguel para a utilização do estádio, não levam um centavo de tais receitas, que ficam com a Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj).
O Flamengo, por exemplo, levou 793.972 na vitoriosa campanha no Brasileirão do ano passado. Destes, 144.044 não pagaram ingressos. Dado que o tíquete médio do clube durante a competição foi de R$ 22,21, cerca de R$ 3,2 milhões deixaram de chegar aos cofres rubro-negros.
– Isso é uma aberração. O futbol é uma atividade profissional e remunerada, não se joga gratuitamente. Não sou contra a gratuidade, mas o poder público deve arcar com os beneficiados – afirmou ao LANCE! o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Beluzzo.
MARACANÃ X PACAEMBU NO BRASILEIRÃO 2010
Em São Paulo, a situação já é diferente. Apenas o Pacaembu está sujeito a gratuidades, que estão garantidas a menores de 12 e maiores de 60 anos. O Corinthians, clube que mais atua no estádio, não é contra a determinação, mas irá tentar uma adequação da lei municipal.
– A ideia é que haja um limite para as gratuidades, por questão de segurança. É preciso um controle maior. Hoje, em média, 1,6 mil pessoas utilizam o benefício – explicou Luiz Blanco, supervisor de arrecadação do Corinthians.
No São Paulo, as gratuidades estão descartadas.
– Temos de oferecer condições para que todos possam ir ao Morumbi. Mas todos devem pagar – disse Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do Tricolor.
Bate Bola
Claudecir Silva, diretor de arrecadação do Flamengo
Como você analisa essa perda de receitas por parte dos clubes cariocas no Maracanã?
- Não discuto a questão das gratuidades, que estão na lei. Mas o clube não vê um tostão do que o estado fatura com camarotes e cativas. Seria um valor considerável. Os clubes deveriam ter um percentual desse valor. Afinal, os clubes são o que movimentam o estádio. O clube paga aluguel e taxas, mas não tem direito a isso. É uma discussão que cabe após a reabertura do Maracanã.
Já houve algum tipo de aproximação com os demais clubes do Rio para que essa ideia fosse levada adiante?
- Isso é uma questão de muitos anos. A concessão deveria ser discutida ano a ano, para que os interesses do clube e do estado fossem atendidos. Hoje, o futebol está muito ligado à parte comercia. Depende-se muito dessas receitas, não dá para abrir mão. É algo que vemde muitos anos, mas que pode ser revisto. Vamos ver se mais adiante as diretorias tratam desse tema.
'Carteirada': problema em MG até junho
Em Minas Gerais, praticamente não existe gratuidade nos estádios. Os poucos casos que restavam aconteciam através de abuso de poder – a chamada “carteirada”. No entanto, desde que o Mineirão foi fechado para reformas, no início de junho, a prática foi eliminada. Até então, esta, inclusive, era legitimada pela Federação Mineira de Futebol (FMF). Autoridades locais, como policiais civis e militares, tinham o direito de assistirem aos jogos gratuitamente. Havia um portão exclusivo para eles, que, ao serem identificados nas catracas, tinham livre acesso ao estádio. O sistema, no entanto, fere o Estatuto do Torcedor, já que a autoridade entrava no Mineirão sem ingresso na mão – o que não lhe garantia seguro para o caso de acidentes. O Atlético-MG é o principal defensor do fim da “carteirada”. Hoje, o clube deverá divulgar nota oficial reforçando sua posição.