Publicada em 24/08/2010 às 00h44m
O Globo
RIO - Depois da prisão de dez bandidos da Rocinha, após o confronto com policiais do 23 BPM (Leblon), na manhã de sábado, a quadrilha do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico nos morros do Vidigal e Rocinha, teria recebido um reforço de bandidos de outras comunidades. As informações foram passadas por moradores da Rocinha, que pediram para não serem identificados. Um deles, inclusive, contou que traficantes da comunidade montaram barreiras em alguns dos acessos à favela para tentar resistir a uma possível operação da polícia. A maior concentração dos bandidos estaria na Rua do Valão, logo na entrada do morro, e nas localidades da Cachopa e Vila Verde. O serviço reservado do 23º BPM, responsável pelo policiamento na região, desconhece as informações.
Os moradores contam que os bandidos começaram a chegar à Rocinha na noite domingo. Na madrugada de ontem, muitos se reuniram em um baile funk na favela, onde também houve, segundo uma das testemunhas, uma apresentação de reggae.
- Nunca vi tanto bandido de fora no baile funk - comentou um dos moradores.
Enquanto isso, as ruas de São Conrado continuavam com o policiamento reforçado. Um dupla de policiais militares permaneceu durante todo o dia em frente ao Hotel Intercontinental, invadido pelo bando de Nem, na manhã de sábado.
No quarteirão seguinte, onde fica o prédio do antigo Hotel Nacional, fechado desde 1995, havia uma viatura da PM e policiais do Grupo Especial Tático em Motopatrulhamento (Getem).
Traficante da Rocinha teria PMs na escolta
Sérgio Ramalho
RIO - Uma investigação da Divisão de Capturas da Polinter sobre a quadrilha responsável pela venda de drogas na Rocinha descobriu que policiais militares - entre eles dois ex-integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) - participam da escolta de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na comunidade. Não há confirmação, no entanto, de que os PMs tenham participado do confronto de sábado .
O envolvimento de PMs com o bando foi constatado, inclusive, em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Em algumas delas, Nem é alertado com antecedência sobre ações de policiais na favela. Uma das responsáveis pela investigação, a delegada Roberta Carvalho da Rocha, da Polinter, esteve na 15ª DP (Gávea) para analisar as imagens de bandidos, captadas por câmeras de condomínios de São Conrado, durante a ação de sábado.
Entre os suspeitos que aparecem nos vídeos, três homens usando coletes à prova de balas, com fuzis e radiotransmissores, chamaram a atenção de envolvidos na investigação sobre a quadrilha de Nem. Entre esses três bandidos, o que mais se destaca é um que assume uma posição de comando, como se estivesse chefiando a ação. Usando boné e fones de ouvido ligados a um radiotransmissor, ele demonstra desenvoltura de quem recebeu treinamento militar.
Ao descer da van, o bandido se posiciona no meio da rua. Pouco depois, parte do bando que estava numa das vans do comboio invade o Hotel Intercontinental, onde 35 pessoas foram feitas reféns. Há a suspeita de que a invasão tenha sido uma estratégia para desviar a atenção da polícia, permitindo assim que Nem fugisse. A quadrilha voltava de um baile funk no Morro do Vidigal quando ocorreu o confronto.
Segundo fontes na Polícia Civil, mais de 20 bandidos invadiram o Intercontinental em momentos diferentes. Parte deles fugiu, pulando um muro nos fundos do hotel. Depois, outro grupo foi para o subsolo, onde fica a cozinha, tomando funcionários e hóspedes como reféns.
COLABOROU Gustavo Goulart