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De ‘maestro’ a reserva, Lucio Flavio busca novos caminhos no Botafogo

Jogador diz que continua motivado e que vai ‘incomodar’ os titulares. Com contrato até o fim do ano, meia não descarta deixar General Severiano

Por Thiago Fernandes
Rio de Janeiro

Duas vezes campeão carioca. Tri-vice estadual. Ídolo. Vilão. Lucio Flavio tem história no Botafogo. Em cinco anos no clube (interrompidos por um semestre no Santos, em 2009), o meia já viveu tudo o que se possa imaginar. Em 2006, ajudou o time a acabar com um jejum de nove anos sem vencer o Campeonato Carioca. Depois, sofreu com a sequência de segundos lugares para o Flamengo (2007, 2008 e 2009) até voltar a ganhar o título este ano. Viu grandes elencos, como o de 2007, criarem esperanças na torcida alvinegra e falharem no Brasileiro. Também participou da luta contra o rebaixamento na temporada passada. Em todos esses momentos, o jogador era titular indiscutível. Camisa 10. Até este ano.

Lucio Flavio garante que não está desmotivado com a reserva (Foto: Andre Durão / Globoesporte.com)

Com a chegada de reforços como Jobson e Maicosuel, Lucio Flavio se viu no banco de reservas. Antes, porém, o jogador já sofria com as vaias das arquibancadas. A mesma torcida que vibrava com suas atuações em outras temporadas, passou a persegui-lo nos últimos tempos. Eleito em 2008 o craque do Carioca, o jogador passou a ser questionado no ano seguinte, depois de voltar do Santos. Uma situação que deixa o meia visivelmente chateado (e sua família mais ainda), embora ele evite reclamar.

Lucio Flavio é assim. Dono de palavras serenas, ele não gosta de polemizar. Por isso, sempre foi considerado pelos dirigentes que passaram no clube um exemplo de profissional. Durante o bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM, o jogador manteve seu estilo. Fez questão de elogiar Joel Santana, o técnico que o colocou no banco. Mas deixou claro que não está conformado em ser reserva. Quer voltar a brilhar.

- Os que estão jogando no momento, vão ajudar. Mas quem está fora tem que incomodar. Não pode se acomodar – disse.

As coisas estão acontecendo dentro de uma normalidade. O time vem ganhando. Isso é bom. Tira um fardo que um ou outro atleta carrega. Hoje isso é mais dividido"Lucio FlavioExperiente, o jogador tenta ajudar o Botafogo de outras formas. Lucio sabe que ainda exerce uma liderança dentro do grupo alvinegro e que, por isso, pode dar sua contribuição para o clube buscar o sucesso no Brasileirão. Mesmo sem aparecer tanto para a torcida.

- O maior retrato é a tua postura. Aquilo que você é, você procura traduzir com seus atos. Aquilo que você faz é uma referência. É a melhor forma de ajudar.

Com cinco anos de Botafogo, Lucio se sente em casa em General Severiano. Apesar de estar na reserva, não pensa em deixar o Glorioso. Mas, com contrato até o fim do ano, não descarta essa possibilidade para a próxima temporada.

- Em princípio, deixei bem claro que me sinto bem no Botafogo. Meu contrato está para terminar. Agora, tenho 20 e poucos jogos para dar a vida. Mas pode ser que ano que vem eu não esteja nos planos do clube. Em um primeiro momento, meu procurador buscou a renovação, mas eles (diretoria) deram uma segurada. Entendemos que vai ficar mais para a frente.

O papo com Lucio Flavio, em um condomínio na Zona Oeste do Rio de Janeiro, durou cerca de uma hora. Confira abaixo toda a entrevista com o jogador alvinegro.

Você está no Botafogo há cinco anos. Como vê este momento do time?

Avalio como um momento bom do clube. O time não estava jogando mal, mas não vinha alcançando as vitórias. A vitória muda tudo. Tivemos um salto de 17º para 4º, e acho que estamos no caminho certo.

Lucio no parquinho do seu prédio: local para brincar
com os filhos (Foto: Andre Durão / Globoesporte.com)Caminho para o título?

Dá para o título. Mas o primeiro passo é permanecer no G-4. Tem que se consolidar ali. Só na metade do segundo turno para frente saberemos quem vai mesmo buscar o título. As equipes que estiverem entre os seis é que vão brigar pela taça. Pelo que o time tem feito, temos grandes chances.

Em 2007, o time era fortíssimo. Contava com jogadores como Zé Roberto, Dodô, Juninho... Acha que o elenco atual é melhor do que aquele?

O elenco, sim. É o mais forte do clube nos últimos anos. É por isso que nós temos a confiança em chegar aonde nós queremos. Temos um treinador que é altamente competente. Isso faz diferença.
A sua situação no clube hoje é diferente. Nos últimos anos, você era o maestro do time. Agora, o Joel te colocou na reserva. Como encara isso?

Até pelo fato de o elenco estar melhor, é natural isso acontecer. É uma questão de respeito. O treinador me respeita, e eu o respeito. As coisas estão acontecendo dentro de uma normalidade. O time vem ganhando. Isso é bom. Tira um fardo que um ou outro atleta carrega. Hoje isso é mais dividido.

Você já carregou muito esse fardo?

Nos outros anos, sim. Até por ser o atleta que está há mais tempo no clube. Isso acaba sendo natural.

Mesmo estando na reserva, acha que pode contribuir de outra maneira?

Todo atleta tem que procurar ajudar. Os que estão jogando no momento, vão ajudar. Mas quem está fora tem que incomodar. Não pode se acomodar. Isso que faz com que o time tenha um equilíbrio para poder suportar uma competição longa como o Brasileiro.

Mas você ainda exerce uma liderança sobre o grupo. De que forma isso pode influenciar?

O maior retrato é a tua postura. Aquilo que você é, você procura traduzir com seus atos. Aquilo que você faz é uma referência. É a melhor forma de ajudar

Com 31 anos e cinco anos de casa, pensaria em deixar o Botafogo?

Na realidade, não foram cinco anos seguidos, porque houve uma passagem pelo Santos, em 2009. No final de 2008, o clube passou por problemas financeiros, e acabei tendo que sair. Deixei bem claro que me sinto bem no Botafogo. Meu contrato está para terminar. Agora, tenho 20 e poucos jogos para dar a vida. Mas pode ser que ano que vem eu não esteja nos planos do clube. Em um primeiro momento, meu procurador buscou a renovação, mas eles (diretoria) deram uma segurada. Entendemos que vai ficar mais para a frente. Como atleta, eu tenho que pensar dessa forma (em ficar). Por estar adaptado, ter identidade no clube. Mas isso sai um pouco da minha condição. O Botafogo faz uma renovação dentro do elenco. Certamente, há possibilidade de eu sair. Aqui no Brasil, é difícil um atleta permanecer muito tempo no clube. Há o desgaste e as mudanças de diretoria. Acaba tendo variações.


Uma dessas mudanças é o comportamento da torcida. Alguns torcedores têm pegado no seu pé. Isso te chateia?

No futebol, você não tem que se empolgar muito no momento em que está bem, nem se preocupar com esse tipo de situação. Às vezes, você é marcado por cinco ou seis pessoas. Ninguém quer ir para um jogo e logo no início ser vaiado. Mas a grande maioria sempre me respeitou. Muitos me procuram para falar para não desanimar. E posso garantir que isso jamais vai acontecer. Sou altamente profissional.

Como é o clima no clube? Em outros anos, havia certas divisões entre grupos. E hoje?

Hoje o Botafogo tem jogadores que estão mais maduros. Isso facilita o trabalho e o ambiente. Isso vem desde o presidente, até o treinador. A diretoria, apesar das dificuldades, está buscando honrar os compromissos. O reflexo dentro do elenco acaba sendo bom.

Pelo Botafogo, você conquistou dois Cariocas. No seu currículo tem também um Paranaense e um Paulista. Algum deles tem um sabor especial?

Todo título é importante. Difícil escolher um (assista aos gols da campanha do Glorioso no Carioca deste ano no vídeo acima).

O que falta hoje na carreira do Lucio Flavio?

Principalmente, um título nacional. É o primeiro sonho de todo atleta. Depois, vem um torneio internacional.

Lucio e Antônio Carlos se abraçam em jogo. Meia
diz que ambiente é bom (Foto: Eliária Andrade/Globo)

Saindo de dentro dos gramados. Vamos falar como é o Lucio Flavio longe dos campos. O que gosta de fazer?

Quando não tem jogo, procuro ficar com a minha família. Tenho um casal de filhos. A Lara tem seis anos, e o Levi, três. Eles sentem falta. O tempo que eu tenho fora do clube fico com eles. Vamos passear, na piscina, no shopping. Aproveito o tempo para estar com eles.

Além de estar com a família, quais os seus passatempos?

Gosto mais de assistir a filmes. De qualquer gênero. Só não gosto muito de suspense. Também vejo televisão. Gosto de assistir a programas esportivos.

E se nesses programas estiverem criticando você?

Não tenho muito problema com isso. Sei avaliar o momento do elogio e das críticas. Tem muita crítica construtiva. Também gosto de me atualizar sobre o mundo. Tem que saber como estão as coisas. Isso é importante até para a carreira.

Como você se definiria como jogador e como pessoa?

Como jogador, sou muito profissional. Como pessoa, sou simples e correto naquilo que faço.