Suspenso até novembro, Dodô não vê a hora de poder voltar à rotina intensa do futebol e fazer os gols que o consagraram como “artilheiro dos gols bonitos”. Mantendo a forma em uma academia particular em São Paulo, o atacante de 34 anos fez revelações ao site Justicadesportiva.com.br. Dodô comentou o caso de doping, a suspensão, a mágoa que ficou do Botafogo, a proposta do Corinthians, o que está fazendo no tempo ocioso e como espera dar a volta por cima.
JD – Primeiro eu queria que você comentasse sobre o seu momento atual. O que você tem feito?
Dodô – “Não sei exato quanto tempo estou sem jogar, mas depois que meu apartamento ficou pronto em São Paulo eu vim para cá, minha família está aqui e da minha esposa também. Venho treinando na academia do Cláudio Pavanelli, e isso foi muito importante, pois treino todos os dias, jogo bola com o pessoal de quarta e sábado, um grupo de jogadores sem clubes também e ainda faço as coisas que não fazia quando estava jogando, como levar os filhos para escola, passear com eles, com a esposa, ficar com a família”.
JD – Em algum momento você pensou em desistir?
Dodô – “Não, até porque eu sempre entrei no futebol por amor e vou sair como entrei, jogando bem, fazendo gols. Quero que meu pai me veja, que meus filhos possam curtir isso mais um pouco. Depois que a suspensão acabar eu vou voltar, se estivesse jogando até poderia ter parado, mas parar por suspensão, não, quero parar no campo”.
JD – Qual é o momento que você considera mais difícil desse último um ano e meio?
Dodô – “O mais difícil é saber que eu estou sem jogar por algo que eu não tive culpa. Se eu tivesse suspenso por algo que eu fiz, consciente que eu tomei alguma coisa, saberia que teria que pagar por isso, mas, infelizmente, estou sendo punido por algo que não tive responsabilidade nenhuma, é difícil”.
JD – Mesmo suspenso você tem sido sondado por alguns clubes para voltar a partir de novembro?
Dodô – “Sondagem tem de todo mundo que me conhece. Alguns sempre me ligam, perguntam como estou, se minha pena poderia diminuir, principalmente agora com o começo do Brasileirão. Mas, infelizmente, não cabe mais recursos e terei que esperar até o começo de novembro para retornar para algum clube”.
JD – Gostaria de voltar para algum clube por onde já passou ou pensa em ir para fora do Brasil ou coisas novas no país mesmo? Tem alguma preferência?
Dodô – “Sinceramente, eu não tenho preferência para jogar por determinado clube. Depende muito do momento do clube e meu empresário tem cuidado disso, ele está feliz que estão procurando-o para saber de mim e da possibilidade de jogar, isso é muito bom”.
JD – Você passou três vezes pelo Botafogo e virou ídolo lá. Voltaria pela quarta vez? Você acha que ainda tem espaço lá?
Dodô – “O Botafogo todo mundo sabe que foi muito importante para mim. Eu adoro o Botafogo, foi o clube que eu mais me identifiquei, mas aconteceu muita coisa lá em 2007, inclusive a historia do doping e consequentemente a suspensão, então fica muito complicado”.
JD – Em algum outro clube você sentiu que as portas foram fechadas ou até mesmo você fechou?
Dodô – “Acho que não, sempre tive bom relacionamento com o São Paulo, Santos, Palmeiras, Fluminense, os clubes por onde joguei no Brasil e não tem como falar que não voltaria. Ainda está muito cedo para dizer isso, os clubes estão com bons jogadores, fica até chato eu ficar falando”.
JD – Você já vestiu a camisa do São Paulo, Santos e Palmeiras. Não tem vontade de vestir a do Corinthians e completar os quatro maiores da capital?
Dodô – “Eu tive o convite do Corinthians mais de uma vez. Sempre fiquei muito feliz quando o Corinthians me procurava, é um grande clube, mas eu estava com contrato com o Fluminense e não tinha como sair, quase acertei, mas já estava sendo julgado e não deu para vir. Pode ser no futuro, quem sabe”.
JD – E no Rio de Janeiro, teria essa mesma possibilidade de fechar o ciclo?
Dodô – “Não dá, muito difícil. Em São Paulo eu joguei em três clubes, no Rio em dois, e acho que está de bom tamanho, mais um só para terminar, quem sabe”.
JD – Você já está com 35 anos, pena em jogar até quando?
Dodô – “Não sei. Não tenho data certa para parar. Nunca me machuquei, nunca tive lesão muscular, isso me ajuda muito, acho que ainda consigo levar mais uns dez anos (risos). Enquanto eu ainda tiver vontade e prazer em treinar e estiver bem, vou indo”
JD – Do que mais você se orgulha na sua vida profissional?
Dodô – “Eu agradeço muito a Deus porque sempre amei o futebol e consegui me tornar jogador. Consegui jogar no São Paulo, no Santos, no Palmeiras, no Fluminense, no Botafogo e até na Seleção, sem contar os lugares fora do país que me ensinaram muito. Sou um vencedor, passei por dificuldades como qualquer jogador, mas superei e me tornei jogador profissional, que era o que eu queria”.
JD – Você se arrepende de alguma coisa? Qual foi a maior decepção?
Dodô – “Vivi situações de vitórias, derrotas, coisas que estamos sujeitos. Isso me deixa triste, algumas partidas que atuei mal, mas arrependimento mesmo eu não tive e não tenho. Perder jogos, campeonatos, são decepções sujeitas da profissão, é normal. Essa situação que eu estou passando é a pior”.
JD – O que pode ser tirado de positivo deste caso de doping?
Dodô – “Tenho que ter muita paciência, tranqüilidade. Deus tem sido minha força para superar tudo. Serve de lição mais para frente, até para os meus filhos. Eu amadureci bastante. Além disso, consigo fazer coisas que não faço quando estou jogando, como passear com a minha família, ser mais presente na vida dos meus filhos”.
JD – Tem acompanhado o início do Brasileirão? Quem são os favoritos?
Dodô – “Tenho acompanhado sim, em casa acompanho Libertadores, Brasileiro, Copa do Brasil. Tem que acompanhar para não ficar fora de tudo. Favorito é difícil, são sempre os mesmos times, as forças do futebol, que brigam sempre pela parte de cima da tabela, além do que o campeonato começou agora”.
JD – Com a volta de Ronaldo, Fred, Adriano para o Brasil, o campeonato ganha ainda mais força? Qual a importância?
Dodô – “Acho legal, são jogadores diferenciados, com muito técnica, coisa que estava faltando no futebol brasileiro, e eles ajudam a resgatar isso”.
JD – Uma vez, você fez “banana”para a torcida do São Paulo e nada aconteceu. Na semifinal do Paulistão deste ano, o Cristian, do Corinthians, fez gestos obscenos para a torcida e será julgado. Os tribunais estão mais rígidos?
Dodô – “A situação foi diferente, ele provocou a torcida adversária, eu apenas fiz para a torcida do São Paulo que estava pegando no nosso pé, o dele foi mais pesado. Mas são coisas do campo, da hora, mas a gente tem que dar exemplo, porque muita gente vê e o tribunal tem observado mais essas coisas”.
JD – Você acha que sua pena foi muito pesada?
Dodô – “No Brasil, eu fui absolvido. O Botafogo estava super bem, éramos líderes, eu artilheiro, a repercussão foi enorme. Depois o tribunal da Fifa, na Suíça, reviu o caso e quando fui para o julgamento já tinha certeza que seria condenado, para que eles me usassem de exemplo, de bode expiatório para o mundo do futebol. Eles não querem saber se você teve uma boa carreira, apenas condenam”.
JD – Como você imagina seu retorno ao futebol? Qual será a maior dificuldade?
Dodô – “Não sei, hoje a maior dificuldade no futebol é o condicionamento físico e isso eu não tenho problema. Tenho me dedicado muito nesse tempo que estou fora dos campos, estou totalmente recuperado na parte muscular”.
JD – Você é conhecido como artilheiro dos gols bonitos. Qual você considera o mais bonito?
Dodô – “Difícil falar um só gol. O mais recente foi um na Libertadores, no Maracanã, contra o Arsenal, pelo Fluminense”.