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Futuro médico, Túlio ainda lembra das feridas do episódio do 'chororô'

Aos 35 anos, jogador do Figueirense revela que pretende estudar Medicina, recorda com carinho do Botafogo e sorri ao lembrar de eliminação do Fla

Por Janir Júnior Florianópolis
 
Ainda menino, Túlio se dividia entre dois sonhos comuns entre crianças: ser médico ou jogador de futebol. A bola ganhou a dividida. Aos 35 anos, o volante, que hoje defende o Figueirense, adiou a aposentadoria, programada inicialmente para esta temporada. Quando pendurar as chuteiras, ele pretende estudar para se formar em Medicina e ajudar a população carente de Curimatá, interior do Piauí, de onde vem sua família. Em meio aos planos, ele não se esquece do passado, do seu amor pelo Botafogo e da eterna rivalidade com o Flamengo.

Em 2008, ao perder o título da Taça Guanabara para o Flamengo, os jogadores do Botafogo reclamaram muito da arbitragem. Depois do fim do jogo, no vestiário do Maracanã, o grupo e o técnico Cuca apareceram na sala de entrevistas em meio às lágrimas. Túlio era um dos mais abatidos e revoltados. Desde então, a torcida do Flamengo criou música para o episódio conhecido como "chororô".

Tulio Figueirense (Foto: Janir Junior / Globoesporte.com) 
Aos 35 anos, volante Tulio revela a vontade de estudar medicina (Foto: Janir Junior / Globoesporte.com)
 
Pouco tempo depois, ainda em 2008, o Flamengo seria eliminado da Taça Libertadores diante de um Maracanã lotado. O algoz foi o América-MEX, que venceu por 3 a 0. E a festa aconteceu em Belo Horizonte.

- Sou botafoguense, não tem como torcer pelo Flamengo, nem quando eles jogam contra time argentino, nem contra ninguém. Lembro do episódio quando o Flamengo estava na Libertadores, em 2008. Foi logo depois que a torcida deles ironizou os botafoguenses com o chororô. Estávamos concentrados em Minas Gerais, íamos jogar contra o Atlético-MG pela Sul-Americana. O Flamengo foi eliminado pelo América-MEX. Parecia uma festa nossa. Os jogadores saíram festejando no corredor do hotel, enquanto os do Flamengo saíram chorando de campo (risos). É o futebol, o chororô mudou de lado. Fomos à forra com tudo que tinha acontecido – recordou Túlio.

Ao chegar ao Figueirense no ano passado, ele logo se identificou com as cores do time de Florianópolis: o preto e o branco.

Tulio Figueirense (Foto: Janir Junior / Globoesporte.com) 
'Tenho mais alegrias do que decepções no futebol', diz
(Foto: Janir Junior / Globoesporte.com)
 
- Me identifiquei muito, ainda mais com a camisa listrada. Passei cinco anos no Botafogo, foi o auge da minha carreira. Logo que cheguei aqui em Florianópolis, faziam muita essa comparação com o Botafogo. Tem torcedor do Figueirense que é botafoguense, isso motiva ainda mais – declarou o jogador.

Túlio chegou ao Botafogo em 2003, saiu em 2005 para defender o Oita Trinita, do Japão, voltou em 2007, e ficou até o fim de 2008, quando acertou com o Corinthians.

- Tenho mais alegrias do que decepções no futebol. Minha maior alegria foi ter defendido o Botafogo durante cinco anos. Cheguei em 2003, com o time na Série B, conseguimos subir e depois firmamos o clube como time de ponta, voltou a ter status de time grande. Minha decepção foi quando tive que sair, mas pelo salário que eu ganhava não tinha como ficar. Saí para o Japão na metade do Brasileiro de 2005, e depois, no fim de 2008.

Com recordações do passado vivas na memória, Túlio já pensa em um futuro melhor fora das quatro linhas. Recentemente, o jogador visitou um hospital de crianças com câncer, em Florianópolis. Foi quando o sonho de ser médico ganhou ainda mais contorno.

- A saúde no Brasil é delicada para quem não tem condições de pagar um hospital particular, o apoio do governo é mínimo. A Medicina é um sonho que adiei por causa do futebol. Estou fazendo uma boa carreira, mas um dia vou retomar os estudos. Não com o objetivo de, depois de formado, sentar num consultório para fazer consulta particular. Minha vontade é ajudar quem precisa. Apesar de nunca ter me faltado nada, minha família tem raízes numa região carente do Piauí (Curimatá). Lá, a pobreza é extrema. Gostaria de ajudar o povo da região.

Medicina é um sonho que adiei por causa do futebol. Estou fazendo uma boa carreira, mas um dia vou retomar os estudos. Minha vontade é ajudar quem precisa"
Túlio
 
Mas a vontade de ser um médico sem fronteiras ainda não tem data certa para acontecer. Túlio, que fazia planos para se aposentar com 35 anos, mudou de ideia.

- Antes, eu dizia que iria parar com 35 anos. Hoje estou com 35. Fiz uma promessa para minha mulher e filha, que não vou acertar data para parar de jogar futebol. Enquanto sentir alegria e motivação de entrar em campo, vou prorrogando.
E quando parar, como Túlio gostaria de ser chamado?

- Não sei. Doutor, não (risos). Nem sei se serei lembrado como ex-jogador – completou o jogador.
Doutor ou ex-jogador, Túlio sempre lembrará do chororô. Seja do Botafogo ou do Flamengo.