Mudança de cenário: Rafael Marques ouve aplausos, mesmo sem finalizar
Atacante mantém jejum, mas parece fazer as pazes com a torcida. Oswaldo ouve gritos de burro e diz que o substituiu para preservar boa atuação
Mesmo antes de a bola rolar para o jogo contra o Boavista, no Engenhão,
a torcida do Botafogo já parecia disposta a abraçar a causa de Rafael
Marques. Em enquete feita pelo GLOBOESPORTE.COM, 63% dos 2.638 votos
eram a favor de uma nova chance para ele como titular. O indício se
confirmou com incentivos na arquibancada, o que raramente se via no ano
passado. E se manteve até o fim: ao ser substituído por Bruno Mendes aos
28 minutos do segundo tempo, o atacante ouviu aplausos para ele e
gritos de burro direcionados ao técnico Oswaldo de Oliveira.
O Botafogo empatava por 2 a 2, placar que permaneceu inalterado, e
Rafael Marques deixou o campo sem uma finalização sequer - mas com
participação nos dois gols.
- Gostei muito do jogo dele. Havia a previsão de que não aguentaria o
jogo todo e, no momento em que errou três jogadas seguidas, percebi que
seu aproveitamento cairia muito. Até para preservar a sua boa atuação,
tive que fazer a substituição - explicou Oswaldo.
Rafael Marques tem o nome gritado pela torcida antes de a bola rolar no Engenhão (Foto: Thales Soares)
Camisa 20 às costas, como no ano passado, Rafael Marques subiu a escadaria do vestiário do campo, processo ao qual estava desacostumado. Afinal, ainda não havia sido sequer relacionado para um jogo neste ano. Ao entrar em campo, foi o segundo jogador a ser mais requisitado pelas crianças, perdendo apenas para o imbatível Seedorf.
Seu nome apareceu no placar eletrônico sem que houvesse reação da torcida. Já no campo, pouco antes de a bola rolar, ouviu o apoio e agradeceu. Os companheiros foram abraçá-lo, e o último ato coube a Seedorf, como que fizesse um afago especial em Rafael Marques, que buscava seu primeiro gol no 18º jogo com a camisa do Botafogo.
Rafael Marques ajudava como podia. Saía da área para abrir espaços, tentava tabelas e voltava para marcar quando percebia a necessidade. E a reação começou em uma luta do atacante por espaço. Sem ter muito o que fazer ao receber uma cobrança de lateral de Márcio Azevedo, ele arriscou um passe de peito para Lodeiro, que dominou, mas perdeu em seguida. A bola foi afastada pelo marcador do Boavista em direção a Lucas, que acertou um belo chute de fora da área. Se o autor do gol recebeu congratulações, Rafael também teve o reconhecimento por seu esforço no início da jogada.
Essa foi uma tônica durante o jogo. A cada movimentação, toque ou
jogada realizada por Rafael Marques, havia a preocupação do grupo de
mostrar o reconhecimento pelo que fazia. No segundo gol, a cena se
repetiu. Lucas recebeu passe de Rafael Marques e cruzou para Lodeiro
empatar. Enquanto o uruguaio pegava a bola no fundo do gol para
reiniciar o jogo, os outros jogadores se direcionavam ao atacante para
comemorar.
- O Rafael Marques faz muito bem essa saída da área para servir, pois é
técnico. Durante o treinamento, exploramos o Rafael finalizando e
servindo também - comentou Oswaldo.
Rafael Marques, no entanto, não finalizou. Esteve perto disso em um
cruzamento para a área: matou a bola no peito, mas sofreu com a
antecipação da defesa antes da conclusão. Mesmo assim, saiu de campo,
aplaudido para a entrada de Bruno Mendes. As poucas vaias foram
rapidamente silenciadas e deram lugar aos gritos de burro a Oswaldo por
ter tirado o atacante.
A torcida havia pedido a entrada de Bruno Mendes, uma espécie de xodó
por seu desempenho na reta final do Campeonato Brasileiro do ano
passado, quando fez seis gols em oito jogos. Mas desta vez sofreu com a
gangorra do futebol. Perdeu duas chances incríveis para dar a virada ao
Botafogo sobre o Boavista e saiu vaiado ao final do jogo.
- Rafael Marques fez um bom jogo. Está há muito tempo sem jogar. Bruno
Mendes é uma questão de tempo. Perder gols faz parte - disse Seedorf, ao
sair de campo.
Para Rafael Marques, o jogo pode se tornar um marco em sua ainda curta
passagem pelo clube. Mas uma nova chance pode pintar no domingo, contra o
Flamengo, na semifinal da Taça Guanabara. E um gol se fará mais do que
necessário para o Botafogo, que joga em desvantagem, pois o empate
classifica o rival.