Controle sobre organizadas cresce no Brasil, mas ainda não é o ideal
Sem apoio do governo federal, Federações e autoridades locais tentam se virar
Igor Siqueira - Rio de Janeiro (RJ)
O episódio na Bolívia, onde um torcedor morreu ao ser atingido
por um sinalizador, reacende a discussão sobre como as torcidas
organizadas têm sido tratadas no Brasil. Em geral, as medidas ainda são
paliativas, como a suspensão imposta pela Federação Paulista à facção
Camisa 12, do Corinthians, por usar sinalizadores no jogo contra o
Botafogo-SP.
Mas a luz no fim do túnel começa a surgir quando os
dirigentes passam a entender que cadastro de membros das organizadas e
controle de atividades têm o poder de diminuir a violência (veja
abaixo).
Diante da inércia do Ministério do Esporte, que chegou a
iniciar o programa Torcida Legal, mas não o levou adiante – já que ele
foi interrompido após o Tribunal de Contas da União barrar a licitação
por suspeita de superfaturamento – algumas Federações estão se mexendo
para resolver o problema.
O Ceará, por exemplo, tem um processo estabelecido para controlar e saber quais membros das organizadas entram nos estádios.
–
Já tivemos até frutos desse trabalho. Na confusão que teve ano passado,
quando torcedores do Fortaleza atiraram cadeiras no gramado no jogo
contra o Oeste, pela Série C, identificamos e ajudamos a punir 33
envolvidos – contou o presidente da Federação local, Mauro Carmélio.
Só
que o sucesso do cadastro do Ceará ainda não se estendeu ao país
inteiro. Goiás e Pará, que historicamente sofrem com as facções, optaram
por dar suspensões. Já no Rio Grande do Sul, tem organizada que se
recusa a ser cadastrada e o controle é um desafio para as autoridades.
Mas
se não há uniformidade de medidas, ao menos a preocupação com o
controle das organizadas está crescendo no país da Copa de 2014.
1997: Rojão e morte em BH
A
prática costumeira das torcidas organizadas de jogar rojões, fogos e
bombas em direção aos adversários já fez uma vítima no Brasil. O caso
foi em outubro de 1997. O jogo era Cruzeiro x Vasco, mas houve confronto
entre a principal organizada da Raposa e a do Atlético-MG. Uma bomba
foi atirada em direção aos atleticanos e Claudemir da Silva Reis, de 16
anos, acabou morrendo.
Autor do arremesso, Múcio dos Reis Ribeiro
chegou a ser condenado a 15 anos de prisão pelo Tribunal de Justiça de
Minas Gerais, mas recorreu em liberdade. Em 2008 ele chegou a ser preso.
Atualmente, Múcio é o presidente da Máfia Azul.
Violência no futebol já matou 193
O
número de vítimas da violência causada pelas torcidas já chegou a 193,
segundo levantamento feito pelo L!Net. A contagem começou a ser feita a
partir de 1988, quando houve a primeira morte ligada a confrontos entre
facções: o presidente da Mancha Verde, Cleo Sostenes, em São Paulo, que
levou tiros de corintianos.
Com a palavra
José Luiz Portella - Colunista do Lance!
José Luiz Portella - Colunista do Lance!
Cadastro identificaria núcleo de baderneiros
É
um mistério a questão das torcidas organizadas não ter sido resolvida
ainda. Quem promove uma desordem é um núcleo das facções, não ela toda, e
são sempre os mesmos. Se fossem cadastrados, já seriam facilmente
identificados pela inteligência das polícias.
O problema é que há
uma cultura de permissividade aqui no Brasil e ninguém toma atitude.
Quando acontece uma fatalidade, como a da Bolívia e outras, fica todo
mundo consternado na internet e depois de quatro dias de “luto”, volta
tudo ao normal.
As autoridades só tomam medidas para criar
manchetes e não levam nada à frente. Não sei o porquê de não haver
vontade política para acabar com o problema. A Inglaterra conseguiu a
paz porque focou no grupo específico de baderneiros, que eram os
hooligans.
COMO ESTÁ O CONTROLE DAS ORGANIZADAS NO BRASIL
Região Norte
O estado do Pará é o que tem mais problemas com organizadas por causa da rivalidade Remo x Paysandu. Mas o Ministério Público já proibiu em definitivo a presença de cinco das principais facções nos estádios. O cadastro dos membros das organizadas que restaram é feito por elas mesmas e repassado às autoridades.
O estado do Pará é o que tem mais problemas com organizadas por causa da rivalidade Remo x Paysandu. Mas o Ministério Público já proibiu em definitivo a presença de cinco das principais facções nos estádios. O cadastro dos membros das organizadas que restaram é feito por elas mesmas e repassado às autoridades.
Paraná
A pancadaria ocorrida na partida entre Coritiba e Fluminense, pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2009, acelerou o processo para o cadastro das torcidas organizadas. No entanto, os problemas seguem existindo, apesar da ação das autoridades e dos próprios clubes, que fazem controle na entrada dos estádios.
A pancadaria ocorrida na partida entre Coritiba e Fluminense, pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2009, acelerou o processo para o cadastro das torcidas organizadas. No entanto, os problemas seguem existindo, apesar da ação das autoridades e dos próprios clubes, que fazem controle na entrada dos estádios.
Rio Grande do Sul
O cadastro das torcidas é feito pelos clubes, que repassam para a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Polícia Militar e Ministério Público. A FGF estuda implantar, ainda em 2013, um cadastro próprio. O presidente da entidade, Francisco Novelletto, defende a criação de uma lei específica para as organizadas do país.
O cadastro das torcidas é feito pelos clubes, que repassam para a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Polícia Militar e Ministério Público. A FGF estuda implantar, ainda em 2013, um cadastro próprio. O presidente da entidade, Francisco Novelletto, defende a criação de uma lei específica para as organizadas do país.
Goiás
O cadastro ficou de lado porque o Ministério Público conseguiu uma liminar que suspende a atuação das organizadas na cidade Goiânia por tempo indeterminado, mesmo que elas sejam de clubes de outros estados. O MP tenta na Justiça a suspensão das facções por até 5 anos. Hoje, não se pode fazer qualquer referência às facções.
O cadastro ficou de lado porque o Ministério Público conseguiu uma liminar que suspende a atuação das organizadas na cidade Goiânia por tempo indeterminado, mesmo que elas sejam de clubes de outros estados. O MP tenta na Justiça a suspensão das facções por até 5 anos. Hoje, não se pode fazer qualquer referência às facções.
São Paulo
A Federação Paulista retomou no ano passado o processo de cadastramento dos membros das organizadas. A atuação é itinerante e existe um cronograma para atender, inclusive, às facções de times do interior do estado. A empresa BWA foi contratada para o serviço e recebe R$ 14 mil por mês da Federação.
A Federação Paulista retomou no ano passado o processo de cadastramento dos membros das organizadas. A atuação é itinerante e existe um cronograma para atender, inclusive, às facções de times do interior do estado. A empresa BWA foi contratada para o serviço e recebe R$ 14 mil por mês da Federação.
Minas Gerais
O Ministério Público já solicitou que todos os torcedores sejam cadastrados. Segundo o presidente da Federação Mineira, Paulo Schettino, o processo ainda não terminou e os membros das organizadas entram nos estádios sem serem identificados. Mas ao menos há um Termo de Ajuste de Conduta assinado pelas facções.
O Ministério Público já solicitou que todos os torcedores sejam cadastrados. Segundo o presidente da Federação Mineira, Paulo Schettino, o processo ainda não terminou e os membros das organizadas entram nos estádios sem serem identificados. Mas ao menos há um Termo de Ajuste de Conduta assinado pelas facções.
Ceará
O cadastro de torcedores já está pronto e a identificação na entrada do estádio já está ativa. No entanto, ainda não há um processo biométrico, mas isso é um plano da Federação Cearense. Cada torcedor tem seu próprio cartão e precisa apresentá-lo na entrada do estádio. Ministério Público, polícia e Federação têm acesso aos dados.
O cadastro de torcedores já está pronto e a identificação na entrada do estádio já está ativa. No entanto, ainda não há um processo biométrico, mas isso é um plano da Federação Cearense. Cada torcedor tem seu próprio cartão e precisa apresentá-lo na entrada do estádio. Ministério Público, polícia e Federação têm acesso aos dados.
Pernambuco
A Justiça proibiu a presença de organizadas de Sport, Náutico e Santa Cruz nos estádios por tempo indeterminado. As autoridades pretendem ainda iniciar o programa de cadastramento, cuja expectativa para começar é de 60 dias e o custo estimado é de R$ 1 milhão. Só com cadastro é que o torcedor poderá entrar no estádio.
A Justiça proibiu a presença de organizadas de Sport, Náutico e Santa Cruz nos estádios por tempo indeterminado. As autoridades pretendem ainda iniciar o programa de cadastramento, cuja expectativa para começar é de 60 dias e o custo estimado é de R$ 1 milhão. Só com cadastro é que o torcedor poderá entrar no estádio.
Bahia
Exigência do MP-BA, o controle de torcedores ainda não está em ação na porta dos estádios, mas a Federação diz que está coletando dados dos membros das organizadas desde o fim de 2012. A expectativa é que ele essa parte esteja finalizada até o início do Brasileiro. Enquanto isso, reuniões pré-jogo vão mantendo a ordem.
Exigência do MP-BA, o controle de torcedores ainda não está em ação na porta dos estádios, mas a Federação diz que está coletando dados dos membros das organizadas desde o fim de 2012. A expectativa é que ele essa parte esteja finalizada até o início do Brasileiro. Enquanto isso, reuniões pré-jogo vão mantendo a ordem.
Rio de Janeiro
Clubes e Federação, com o apoio do TJ-RJ, já desenvolveram o projeto para iniciar o cadastro dos torcedores membros de organizadas, mas os planos não saíram do papel pela falta de patrocinadores ou uma maneira viável de custeio. Cada um teria um cartão personalizado e depois viria a identificação biométrica.
Clubes e Federação, com o apoio do TJ-RJ, já desenvolveram o projeto para iniciar o cadastro dos torcedores membros de organizadas, mas os planos não saíram do papel pela falta de patrocinadores ou uma maneira viável de custeio. Cada um teria um cartão personalizado e depois viria a identificação biométrica.
Santa Catarina
O cadastramento das organizadas começou a ser feito em 2010, após uma iniciativa da própria Federação Catarinense de Futebol (FCF). Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Ministério Público trabalham juntos e a violência entre as torcidas tem sido menor. Neste ano ainda não houve qualquer tipo de problema.
O cadastramento das organizadas começou a ser feito em 2010, após uma iniciativa da própria Federação Catarinense de Futebol (FCF). Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Ministério Público trabalham juntos e a violência entre as torcidas tem sido menor. Neste ano ainda não houve qualquer tipo de problema.