Garrincha não tinha 'João' e nem driblou Nilton Santos, diz escritor
Biógrafo Ruy Castro desmente mitos em torno do maior ídolo da história do Botafogo e nega que camisa 7 chamasse adversários por apelido
Neste domingo, dia 20, a morte de Garrincha completa 30 anos. Camisa 7 da Seleção e do Botafogo,
o ponta-direita deixava marcadores para trás, mas, de acordo com o
escritor Ruy Castro, não chamava os adversários pelo nome de "João".
Autor do livro "Estrela Solitária", que conta a vida do maior craque da
história do Alvinegro carioca, o jornalista afirmou que a lenda surgiu
em uma brincadeira na imprensa carioca.
- Isso foi uma invenção do (jornalista) Sandro Moreyra, que era nosso
amigo e amigo do Garrincha também. O Sandro queria mostrar que o
Garrincha não estava preocupado com o marcador. Mas isso acabou trazendo
muitos problemas para o Garrincha. O adversário lia no jornal o termo
"João" e entrava em campo querendo matá-lo, para provar que não era um
"João". Eu perguntei para vários companheiros do Garrincha no Botafogo e
em outros clubes. Ninguém nunca ouviu o Garrincha chamar um adversário
de "João" - afirmou o jornalista, no "Redação SporTV" desta sexta.
Garrincha não chamava rivais de 'João' e não driblou Nilton em teste, diz escritor (Foto: Getty Images)
Outro mito em torno de Garrincha que não é verdadeiro, segundo Ruy
Castro, é a história de sua chegada ao Botafogo. A lenda diz que, logo
em seu primeiro teste, o jogador teria driblado o já consagrado Nilton
Santos, ídolo e titular da Seleção, diversas vezes. Com isso, teria
conseguido em poucos minutos ser contratado e virar titular do
Alvinegro.
- Você imagina um rapaz de Raiz da Serra chegar no Botafogo e, logo no
primeiro teste, treinar contra o Nilton Santos? Demorei quase um ano
para apurar essa história e não aconteceu. Mas continuam repetindo até
hoje.
Mais uma história falsa teria acontecido na Copa do Mundo de 1958.
Garrincha entrou no time contra a União Soviética, no lugar de Joel.
Teoricamente, a pedido de três líderes daquele time: o capitão Bellini,
Didi e Nilton Santos. Mas Ruy Castro desmentiu a reunião dos jogadores
com o técnico Vicente Feola.
- O Bellini, o Didi e o Nilton Santos não exigiram que o Garrincha
fosse escalado no lugar do Joel. Todos eles desmentiram, além do Paulo
Amaral, que era preparador-físico do Botafogo e da Seleção, e de dois
dirigentes da CBD. Nunca aconteceu, porque criaria um ambiente terrível
dentro da concentração e o Joel era muito querido. Não se admitia que um
jogador tomasse esse tipo de atitude. Eu perguntei para o Nilton porque
ele confirmou essa história. Ele me respondeu tranquilamente: "O
pessoal queria ouvir isso".
Apesar de seu livro ter sido publicado em novembro de 1995, Ruy Castro
lamenta que os mitos sobre o craque continuem publicadas.
- Existem quatro ou cinco mitos sobre o Garrincha que eu esperava ter
desmentido, derrubado, provado que não era verdade. No entanto, essas
histórias continuam saindo na imprensa até hoje.