Em intercâmbio no Botafogo, técnico inglês vira opção no remo brasileiro
Em período de treinos no clube carioca, treinador Bill Barry e remador Alan Campbell, bronze em Londres, apontam os caminhos da medalha olímpica
Se a aparência não entregasse a diferente nacionalidade dos medalhistas
olímpicos Alan Campbell, da Irlanda, e Bill Barry, da Inglaterra, seria
capaz de a dupla parecer carioca e parte da equipe de remo do Botafogo.
Encantados com o Rio de Janeiro e surpreendentemente entrosados com os
atletas alvinegros, mesmo falando poucas palavras em português, os
visitantes estão se sentindo “em casa” durante as duas semanas de
treinamento na Lagoa Rodrigo de Freitas. A identificação é tanta que a
parceria Brasil-Reino Unido poderá ganhar sentido e objetivos mais
amplos em um futuro próximo. O treinador, que foi conhecer a
Confederação Brasileira de Remo (CBR) na última semana, não esconde a
vontade de fazer um trabalho mais longo no Brasil, quem sabe até
comandando a seleção verde-amarela rumo aos Jogos de 2016.
- É uma ideia interessante, mas eu não sei. Essa decisão é toda da
federação. Eu moro na Inglaterra também. Tenho negócios lá, minha
família está lá. Então, é um pouco difícil. Mas, por outro lado, nada é
impossível – disse Barry, prata nos Jogos Olímpicos de 1964.
Irlandês Alan Campbell e o técnico Bill Barry no remo do Botafogo (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
A atual direção da CBR, presidida por Edson Pereira Junior, assumiu o
comando este ano e já está à procura de um técnico para comandar a
seleção. Ainda não há, porém, nenhuma negociação formal com Barry ou
outros treinadores. Por enquanto, a entidade está só recrutando
possíveis interessados.
- Na última sexta-feira, ele esteve aqui na CBR, mas não houve nenhuma
conversa formal. A confederação está procurando um técnico estrangeiro,
sim, inclusive tem um anúncio no site da Federação Internacional de Remo
avisando isso. Está aberta essa vaga e estamos recebendo currículos. E é
lógico que o currículo dele é muito bom – disse Thomas Schwerdtner,
coordenador administrativo da CBR.
Rio de Janeiro e Botafogo encantam técnico
Bill Barry e o técnico do Botafofo, Xoxô
(Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
(Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
A semente da parceria foi plantada no ano passado, quando Bill Barry
aceitou o convite para passar duas semanas treinando a equipe de remo do
Botafogo. O inglês gostou tanto da experiência e da cidade que resolveu
repetir a dose. Desde a semana passada, está comandando os trabalhos no
clube, ao lado do técnico alvinegro, Alexandre Fernandez, o Xoxô. Dessa
vez, ainda trouxe o irlandês Alan Campbell, bronze na prova do skiff
nos Jogos Olímpicos de Londres.
- Essa ideia foi sensacional. Eles mostram o que precisa fazer para
chegar à medalha olímpica. A gente vê um volume de treino imenso, uma
dedicação fora do normal e tudo mais que cerca o atleta, como
alimentação, descanso e horas de sono. É tudo impecável. Isso está sendo
de grande aprendizado para todos nós. Nunca tivemos um medalhista com a
gente aqui mostrando o caminho. Agora, é dar continuidade a esse
trabalho – disse Xoxô.
O treinador, que esteve com a equipe da Inglaterra nos Jogos Olímpicos
de 2012, está tentando passar um pouco do profissionalismo do seu país
no remo para o Botafogo.
- Mais foco no treinamento na água, na musculação e na ergonomia, para
criar mais força e resistência. Além disso, fazer tomadas de tempo,
medindo o lactato, para ver quanta energia eles estão usando durante os
treinos, e os níveis de hidratação e ureia, para ter certeza que eles
têm energia suficiente para o treino.
Bill Barry orienta aremadores do Botafogo
(Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
(Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
Os atletas brasileiros receberam muitos elogios do inglês. O técnico
alertou, porém, que o país sofre com as consequências da falta de
planejamento e de investimento no esporte.
- Eles têm uma sensibilidade mais natural no barco, um ótimo ritmo.
Isso é uma vantagem. A desvantagem é não ter um longo plano de
treinamento. Por exemplo, nós começamos o plano de treinamento para 2016
no último setembro. É preciso um time unificado, um longo plano, um
programa certo e um suporte certo: médico, psicólógico, biomecânico,
médico etc.
Treinando ao lado de alguns dos principais nomes do remo brasileiro,
Alan também já reconheceu que talento não falta. O atleta de 29 anos,
que está pela primeira vez no Brasil, disse se sentir em um “resort”.
- Eles têm boa sensibilidade, boa técnica, mas precisam treinar mais
duro para se tornarem mais rápidos. Mas acho que eles têm muito
potencial. Estou muito impressionado. Eles estão me deixando alerta e me
fazem trabalhar mais duro.
Irlandês Alan Campbell treina na Lagoa Rodrigo de Freitas (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
Todos os dias, às 6h da manhã, Alan e Billy chegam ao Botafogo animados
para ensinar muito do que sabem. Mas também para aprender. De olho em
2016, a dupla quer se familiarizar com a lagoa, a raia e o clima da
cidade dos próximos Jogos Olímpicos.
- Eu gostaria de voltar. Aqui é um lugar bem diferente de onde remo,
boa parte por causa do calor, mas também pela raia. A lagoa é
fantástica. É bem barulhenta. O Rio de Janeiro é bem barulhento e você
pode sentir a vida ao redor de você. Nos outros lugares, a lagoa fica
muito distante. Isso é interessante – disse Alan, que no útlimo domingo
participou de um churrasco na sede naútica do clube com os novos amigos.