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Jogos no Engenhão triplicam em relação ao mesmo período de 2010

Alvo de críticas em relação ao gramado, estádio é, com folgas, o recordista de partidas nesta temporada entre os times das Séries A e B: foram 62

Por Fábio Leme e Marcelo Baltar Rio de Janeiro
O Engenhão já foi criticado pelo difícil acesso, por receber um baixo número de torcedores e pelas recentes quedas de energia. Desde a semana passada, no entanto, as condições do gramado do estádio vêm sendo alvo de duras críticas de jogadores. Marquinho atacou, Ronaldinho alfinetou, e Thiago Neves escancarou:
- É uma vergonha jogar lá - disse o camisa 7 do Flamengo.

A questão é que, com o fechamento do Maracanã em setembro passado para obras da Copa do Mundo, o Engenhão passou a ser usado por três clubes: Botafogo, Flamengo e Fluminense. Neste ano,  já recebeu 62 jogos - número mais de três vezes maior do que nos sete primeiros meses de 2010, quando teve 20. E a previsão é preocupante. Caso Botafogo e Flamengo cheguem longe na Copa Sul-Americana, o Engenhão pode ter até 111 partidas em 2011. O segundo estádio mais usado neste ano, até agora, é a Arena do Jacaré, com 44 partidas, 17 a menos do que o Engenhão.

Engenhão passa por reforma (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Gramado passou por reforma após Jogos Mundiais Militares (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
 
O elevado número de jogos, entretanto, era previsto desde o início do ano. Em janeiro, em acordo com Flamengo e Fluminense, o Botafogo calculou que o estádio receberia cem jogos em 2011.

- Como é que vão cobrar de um gramado que recebeu 90 atividades em seis meses? Muitos desses jogadores que falam atuaram na Europa e sabem que lá não se joga essa quantidade de jogos em um mesmo estádio - reclamou o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção.

ESTÁDIOS MAIS USADOS EM 2011
 
Engenhão (RJ) 62 jogos
Arena do Jacaré (MG) 44 jogos
Serra Dourada (GO) 41 jogos
Pacaembu (SP) 37 jogos

Além dos jogos, as atividades às quais o dirigente se refere são os reconhecimentos de gramado realizados por América do México, Nacional do Uruguai, Argentinos Juniors e Libertad-PAR, antes da partidas contra o Fluminense, pela Libertadores, a montagem e a desmontagem de palco para os dois shows de Paul McCartney, realizados no estádio, em maio, e os Jogos Mundiais Militares, competição que teve abertura, encerramento, jogos de futebol e provas de atletismo realizados no estádio.

Prometendo melhoras significativas em 15 dias, o engenheiro agrônomo responsável pelo campo do Engenhão, Artur Melo, reconheceu que os eventos prejudicaram a grama, mas frisou que o Botafogo se precaveu.

- Tanto para o show do Paul McCartney quanto para os Jogos Mundiais Militares foi feito um trabalho especial de acompanhamento e recuperação. Esses aspectos não são instantâneos. O Botafogo investiu em sementes de inverno e tem feito um trabalho diário de ataque à grama que está mais careca. Além disso, há descompactações periódicas para tornar o piso menos duro.

Após os Jogos Mundiais Militares, o gramado do Engenhão passou por uma intensa e rápida reforma. Os lugares mais desgastados passaram por um replantio. Apesar de irritado com as críticas de jogadores adversários, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, reconheceu que até mesmo o seu clube está sendo prejudicado com as condições do campo.

JOGOS NO ENGENHÃO EM 2011
Campeonato Carioca 34
Campeonato Brasileiro 15
Copa do Brasil 5
Libertadores 4
Jogos Mundiais Militares 2
Série B 1
Amistoso 1

- A previsão para esses dias é de chuva, e tem jogo quarta e sábado. Logo, com o Botafogo jogando domingo, o maior prejudicado é o próprio Botafogo. Será que ninguém vê isso? Acham que eu quero o gramado ruim?

O que pode ser feito?

Com Flamengo e Fluminense jogando no estádio, o Botafogo arrecada mais. O diretor de patrimônio do clube, Sérgio Landau, disse que toda a verba arrecadada vai direto para a manutenção do estádio. A curto e médio prazo, a diretoria do Botafogo já estuda medidas. De imediato, pensa em solicitar que alguns jogos sejam transferidos para o interior do Rio de Janeiro.
Desde o início do ano, o gramado do Engenhão já apresentava problemas. Nos primeiros jogos do Campeonato Carioca, era possível ver muita areia no campo, culpa de um erro na troca do gramado antes do início da temporada.

Em janeiro, já preocupada com o número de partidas no Engenhão, a diretoria do Botafogo pediu para que a Federação Estadual do Rio de Janeiro (Ferj) evitasse marcar jogos no estádio. A medida fez com que o estadual de juniores e o Troféu Carlos Alberto Torres fossem transferidos para outros campos.

elkeson botafogo avaí gramado engenhão (Foto: Marcos de Paula / Agência Estado)Visivelmente, condições do gramado não são boas no momento (Foto: Marcos de Paula / Agência Estado)
Estádios em situação semelhante


O Rio de Janeiro não é o único estado brasileiro que enfrenta problemas com o fechamento de estádio por conta das obras para a Copa do Mundo. Sem o Mineirão, América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro recorreram à Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. O local teve 44 partidas oficiais neste ano e mais alguns amistosos, segundo a administração do local. A previsão é que receba 90 partidas em 2011. Número alto, porém um pouco menor do que o do Engenhão.
Logo após o fechamento do Mineirão, no ano passado, o gramado da Arena do Jacaré foi alvo de críticas. Hoje, porém, é considerado um dos melhores do Brasil.

- No início, como o gramado era novo, os jogadores reclamavam que a grama era curta, e a bola corria muito. Mas com o tempo ela cresceu, e o gramado ficou muito bom. Tivemos uma vistoria da CBF no mês passado. Segundo o vistoriador, nosso gramado é o melhor do Brasil, o que me deixou muito satisfeito - disse Feliciano Alves, gestor da Arena do Jacaré.
Ele explicou como vem enfrentando o inverno e o alto número de jogos na temporada.

- Os muitos jogos, o clima seco e a temporada de chuva atrapalharam. Tivemos de adubar o gramado duas vezes em julho, e vamos adubar mais três em agosto. Com isso, a chegada do calor vai coincidir com o crescimento da raiz, e teremos o gramado em ótimas condições para receber qualquer tipo de jogo até o fim do ano.

Guia de estádios do Brasileirão   arena do jacaré (Foto: Divulgação) 
Arena do Jacaré é o segundo estádio mais usado no Brasil nesta temporada (Foto: Divulgação)
 
Já o Serra Dourada, em Goiânia, também enfrenta situação semelhante. O principal estádio de Goiás recebe os jogos de Atlético-GO, Goiás e Vila Nova, nas Séries A e B. Neste ano, já foram 41 partidas. Após algumas críticas, o gramado passou por uma grande reforma para receber o amistoso da Seleção Brasileira contra a Holanda, em junho. O administrador do estádio, Itami Campos, elogiou o campo do Serra Dourada e se solidarizou com o Engenhão.

- Temos três clubes usando o estádio, e, devido ao número excessivo de jogos no estádio, o gramado fica muito castigado, mas conseguimos mantê-lo em um estado apresentável. Quando vejo um gramado como o do Serra Dourada, recebendo três clubes, com média de dois jogos por semana, e com condições até razoáveis, eu fico lisonjeado, porque é muito difícil fazer a manutenção. Com tudo isso, eu dou nota 9 para o nosso gramado. A gente é até solidário com os administradores do Engenhão, que também recebe um grande volume de jogos - frisou Itami.

Vila Belmiro tem manutenção mais moderna do país

Exemplo de bom gramado no Brasil, a Vila Belmiro tem há anos um sistema de drenagem inovador. Em 1996, o Santos usou parte do dinheiro da venda de Giovanni para o Barcelona para resolver de vez os problemas do campo que consagrou o Rei Pelé, mas era bastante criticado. Com a ajuda de uma empresa americana, foi feito um novo sistema de drenagem.

- Fizeram um sistema de drenagem como se fosse uma piscina. Existe um plástico por baixo do gramado e depois areia. Atrás do gol dos visitantes (lado oposto do placar), tem um cano que capta água e duas bombas de sucção a vácuo. Quatro sensores computadorizados controlam o nível de água no gramado, mesmo quando chove muito. É tudo automático - disse o gerente de patrimônio do Santos, Luiz Fernando Vela, garantindo que a Vila Belmiro é o único estádio brasileiro que possui esse sistema de drenagem.

Neymar Santos x Flamengo (Foto: Ag. Estado) 
Após o jogão na última semana, gramado da Vila
foi elogiados pelos jogadores (Foto: Ag. Estado)
 
O gramado também recebe um tratamento especial, principalmente durante o inverno. No entanto, Luiz Fernando Vela considera ingrata a tarefa de manter em boas condições qualquer campo que receba mais de 60 jogos por ano.

- Durante o inverno, usamos sementes importadas especiais para a estação. Quando a temperatura aumenta e elas morrem, o gramado fica meio ralo, por um período de um mês. Trocamos o gramado no início do ano após o show do Luan Santana (em dezembro). Na Vila, contando os profissionais, os juniores e o futebol feminino, recebemos aproximadamente 60 jogos por ano. É muito difícil manter um gramado que recebe um alto número de jogos, principalmente sem um grande espaçamento. É preciso tapar os buracos e fazer a manutenção.

* Colaborou Daniel Mundim